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O ser Humano é um ser social. Desde os primórdios dos tempos que nos organizamos em grupos ou comunidades, não só pela necessidade de proteção, mas também pela necessidade de interação. Desde sempre que a motivação para estabelecer relações parece ser uma motivação básica. Mas afinal, o que é uma relação e qual a importâncias que os vários tipos de relações têm na nossa vida?

Podemos identificar diversos tipos de relações, desde familiares, de amizade, românticas… Mas, genericamente, as relações são fundamentalmente fenómenos psicológicos, abstratos e que dependem de representações cognitivas do passado e do futuro de cada um. Ainda assim, existem alguns fatores que ajudam a definir o que é uma relação, nomeadamente a existência de interação. Sem interação, não temos relação. Algo que também é importante para definir se existe relação ou não é a frequência dessa interação, diariamente temos interações com pessoas com quem não estabelecemos uma relação, pelo que, quer se trate de uma relação de amizade ou romântica, tem de existir uma certa frequência nas interações que, geralmente, é definida pela dinâmica subjetiva de cada relação. Esta dinâmica é aquilo a que chamamos elo abstrato, que necessita ser mantido, sobretudo nos momentos em que não está a haver interação direta. Algo que também está implícito na criação de relações é a autorevelação. Para se poder criar um laço de intimidade é necessário partilhar informações mais profundas, de forma progressiva, e espera-se que a outra pessoa faça o mesmo. Esta autorevelação vais sendo regulada pelo nível de segurança que sentimos com a outra pessoa.

As relações são dos fatores mais importantes na vida de uma pessoa e são quase sempre preditivas do bem-estar e do índice de satisfação com a vida. Neste sentido, a má qualidade das relações estabelecidas pode ter um impacto prejudicial ao nível da saúde mental. Talvez por este motivo, quando se trata da escolha de um parceiro romântico, os fatores negativos tenham um peso maior do que os fatores positivos, sendo que esta escolha que fazemos dos nossos parceiros não é algo que ocorra de forma instantânea. Para estabelecer uma relação romântica deve haver primeiro um processo de conhecimento mútuo, em que vamos conhecendo também os defeitos do outro, podendo assim avaliar o peso desses defeitos versus as qualidades. Os critérios de seleção de um parceiro vão se alterando ao longo da vida e do desenvolvimento da própria relação, mas é aproximadamente transversal que o que é tido, primeiramente, em conta são critérios mais relacionados com a aparência física e só depois, com o desenvolver da relação, critérios mais relacionados com a personalidade. A tendência para sermos mais exigentes com os critérios de seleção de parceiros românticos é maior do que na escolha de amizades.

De forma relativamente geral podemos dividir o estabelecimento de uma relação em três fases. A primeira é a fase da atratividade, em que o que tem mais importância são as atividades que se faz em conjunto. A segunda fase é a da compatibilidade, em que é feita uma avaliação do grau de semelhança dos valores e a terceira fase é a da atribuição de papéis, em que cada um dos elementos assume um determinado papel na relação. Mesmo as relações consideradas estáveis necessitam de manutenção e isso não se aplica exclusivamente às relações românticas, também as relações de amizade necessitam de manutenção. Esta manutenção pode ser feita através do incentivo à comunicação, da positividade face à outra pessoa, partilha de aspetos relevantes da nossa vida e através da demonstração de disponibilidade.

Como quase tudo na vida, as relações também têm ciclos: criam-se, adquirem uma certa estabilidade e, eventualmente, declinam. As relações de amizade são de extrema importância para o desenvolvimento da identidade e têm um papel central na fase da adolescência. É nas relações de amizade que decorrem os processos de identificação e experimentação, que depois vão ser fundamentais para o desenvolvimento dum padrão de valores, gostos, crenças, etc. Já as relações românticas contribuem para o desenvolvimento do sentido de compromisso, bem como são muitas vezes a base para a exploração da vida sexual. Tanto as relações de amizade como as românticas são potencialmente transformadoras, sendo possível ir modificando o nosso padrão de vinculação estabelecido na infância. Estas relações permitem inclusive adquirir padrões relacionais mais adequados e saudáveis. No entanto, se se tratar de relações tóxicas ou violentas podem também deixar marcas profundas, que podem influenciar o sentir e o pensar da pessoa em relações futuras.

Os vários tipos de relações são fundamentais para o desenvolvimento humano, desempenhando diferentes papéis nas várias fases de vida. Detêm o poder de serem experiências positivas e de desenvolvimento, mas também o de serem experiências negativas, deixando marcas.

Por: Inês Serôdio (Psicóloga)


Obra por William Dyce, “Francesca da Rimini

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