Asas de anjo
(Corta, abre, sangra, pinga,
cobre, sara, reabre a ferida)
Tive vícios maléficos contra o meu próprio ser. Tentava às vezes esquecer, abstrair-me, não olhar para as cicatrizes. Mas hoje em dia já não me faz confusão. Fazem parte de mim, de algo no meio de algo (limítrofe).
Raramente uso metais pesados nos dias de hoje, prefiro o conforto de palavras cantadas. Da natureza após a chuva, das ondas do mar bravas.
Sentir para mim sempre foi sinónimo de sentir demasiado. Demasiadas vezes.
Linhas horizontais podem transformar-se num padrão obsessivo compulsivo… e inimigo (Corta, abre, sangra, pinga,
cobre, sara, reabre a ferida).
Mas o que poderia fazer? (Corta, abre, sangra, pinga, cobre, sara, reabre a ferida) o meu cérebro não parava por um único momento. O meu tormento era lento e extremo.
Mas o tempo passa,
E as coisas mudam.
Não para sempre a todo o tempo, mas mudam na sua generalidade. A minha especialidade agora é ter uma pele grossa. Uma pele com força redobrada. Por si só é uma metáfora, huh?
Não sou à prova de balas, tenho provas de tentar remendar os meus erros a fazer várias aberturas para asas. Para talvez voar, para talvez mudar.
Para talvez, talvez, sentir-me em paz.
E não posso culpar-me pelos meus delírios, não posso culpar-me pelo transtorno de personalidade limítrofe.
Eu tinha 11 anos. Eu tinha 12 anos. Eu tinha 18 anos.
Uma miúda sempre sonha em voar.
Mas foi a fechar as aberturas para asas,
Que hoje
Consigo planar no azul da paz.
Maria Karolina Santos
Escritora. Autora do texto “Flores Murchas e Borboletas Mortas”, “Menina, Menininha Minha” e “Oração em Nome de Maria”
Imagem Por, Gustave Doré, Ilustração para a obra de John Milton ‘Paradise Lost [Paraíso Perdido]’
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