Talvez este seja o ano em que mais vamos ouvir falar sobre saúde mental, era urgente dar a este tema o devido valor, deixar de ser tabu e sensibilizar. Ora, ao falarmos de saúde mental é impossível não falarmos de emoções e parece-me este um bom conceito de partida para desenvolvermos o nosso artigo de hoje.
Gosto, particularmente, da definição que Damásio (1996) criou sobre as emoções: “são complexos conjuntos de respostas químicas e neurais que formam um padrão. Tem um papel regulador, criam vantagens, tem uma lógica de sobrevivência. São respostas, são decisões do organismo. São uma espécie de energia que nos conduz à ação”.
Podemos dizer que a emoção tem como função a adaptação entre a conduta e o meio1Freiras-Magalhães, 2013. Uma das funções das emoções é a de nos preparar para lidarmos rapidamente com eventos importantes das nossas vidas sem precisarmos de pensar no que fazer2Arruda, 2014.
As emoções manifestam-se através do comportamento expressivo (expressões faciais, vocalizações e linguagem corporal), indicadores fisiológicos (por exemplo, respiração) e indicadores neurológicos (potenciais evocados)3Arriaga & Almeida, 2010, citado por Arruda, 2014.
Identificamos como emoções básicas a alegria, a tristeza, o medo, a raiva e o nojo e, estas têm caraterísticas específicas: são inatas (estão presentes desde o nascimento e por isso é possível observar em bebés), são programadas geneticamente, têm uma expressão facial caraterística (por exemplo, quando estou feliz elevo os meus lábios ou quando estou zangado franzo as minhas sobrancelhas), têm um início rápido e são de curta duração, isto é, quase que não consigo controlá-las, são espontâneas. Esta última caraterística é o que as distingue dos sentimentos, a emoção é algo do momento, uma expressão neurofisiológica, enquanto o sentimento advém de um processo cognitivo, isto é, algo que crio sobre um acontecimento ou memória.
Segundo, Martín, 2018, que 95% das decisões tomadas, são feitas com base nas emoções. Então, podemos concluir que ter um autocontrolo emocional, nomeadamente, competências socioemocionais é crucial para boa adaptação ao meio, criando um equilíbrio entre a emoção e a razão.
Quando falamos em competências socioemocionais referimo-nos à capacidade de regulação emocional e este processo consegue-se através da aprendizagem feita pelo meio e envolve os seguintes aspetos4Pérsico, 2011; Queirós, 2014; Webster-Stratton, 2013; Webster-Stratton, 2017:
- Tomada de consciência das emoções e a sua aceitação;
- Envolvimento ou afastamento de uma emoção;
- Regulação das próprias emoções e dos outros;
- Diminuição dos estados emocionais negativos e aumento dos positivos;
- Descoberta de novas formas de superar obstáculos;
- Manutenção da atenção na meta a atingir;
- Adoção da melhor resposta para melhorar a situação.
Esta aprendizagem é feita desde pequenos, na passagem entre a primeira infância para a segunda ocorre um amadurecimento do sistema de regulação emocional e a criança começa a aprender a expressar os seus pensamentos e emoções, e esta regulação melhora à medida que a criança melhora também a sua capacidade de comunicação. No entanto, na adolescência, observa-se uma regressão devido às hormonas5Webster-Stratton, 2013; Webster- Stratton, 2017. O objetivo é encontrarmos o equilíbrio à medida que crescemos e nos tornamos mais maduros, conseguindo também ser adultos mais saudáveis mentalmente.
Exercícios de respiração e relaxamento, rodas de conversa, escuta ativa, assertividade, otimismo, empatia, autocontrolo, são exemplos de práticas que promovem estas competências socioemocionais.
Por outro lado, e referindo-me especificamente às crianças, sendo este identificando como um dos principais momentos para desenvolvermos estas competências atitudes como: culpá-las injustamente, torná-las responsáveis por problemas causados por outras crianças mais novas, castigá-las em excesso, negar-lhes afeto. Destacar apenas a parte negativa dos seus comportamentos, fazê-las acreditar que são más, exigir das crianças ao ponto delas não terem tempo para brincar, humilhá-las em público são aspetos que prejudicam severamente o desenvolvimento de uma Inteligência Emocional.
É um momento de vivermos mais o presente, de abrandarmos o nosso ritmo e olharmos para nós e para as nossas crianças com amor, com paciência e acima de tudo, com compaixão. Estes são os ingredientes-chave para nos tornarmos cidadãos mais inteligentes emocionalmente, pois de nada serve sermos ótimos em determinada área se não tivermos competências sócio-emocionais suficientes para conseguirmos olhar para os que nos rodeiam. “Antes de ser um bom profissional, seja um bom ser humano” (Tiago Ramos Tigre).
Psicóloga Clínica & Educacional. Autora do artigo “Autismo: Compreendendo a Perturbação do Espetro do Autismo“
Imagem Por, Caspar David Friedrich, “Sunset (Brothers) or Evening landscape with two men”
Notas de rodapé[+]
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