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O Que é a Biblioterapia?

Praticada desde os tempos da Grécia Antiga, o termo Biblioterapia surge da junção do termo «biblio» (livro) e «terapia» (ajudar medicamente). A Biblioterapia é um método facilitador do desenvolvimento pessoal e da resolução de problemas através da literatura. Estes problemas podem ser do foro da saúde mental, ou podem ser situações comuns da vida de uma pessoa, como o luto, as mudanças de vida, perda de orientação pessoal ou profissional, entre outras. Este tipo de terapia alternativa pode ser aplicada por psicólogos, médicos, psiquiatras, mas também por professores, pais, bibliotecários, coaches e líderes espirituais.

A biblioterapia é uma abordagem terapêutica, praticada através do estabelecimento de uma relação de confiança com o cliente, que utiliza a leitura de livros como uma ferramenta para promover o bem-estar emocional, o autoconhecimento e o crescimento pessoal. Conforme o contexto, a situação apresentada, a disponibilidade e os gostos literários, são sugeridos livros que possam ajudar a pessoa a ultrapassar, compreender e/ou aceitar a situação em que se encontra.

Objetivo da Biblioterapia

Através desta prática, pretende-se não só facilitar a superação de problemáticas de saúde mental, como motivar para a leitura. Ao ter livros com os quais se consegue identificar, o cliente tem motivação para ler mais, descobrir mais, e trabalhar mais e melhor os seus problemas. Além disso, o leitor frequente consegue influenciar quem está à sua volta, através das aprendizagens que adquire, dos hábitos que desenvolve e das emoções que demonstra.

Esta forma de Terapia pelas Artes tem permitido um aumento de interesse pela literatura e pela escrita, em países em que a Biblioterapia é utilizada como ferramenta de trabalho para estudos sociais, como no Brasil, nos Estados Unidos, em França e em Inglaterra.

Nos Estados Unidos e no Brasil é prática habitual que cada sala de aula, independentemente do ano escolar, tenha uma zona de biblioteca onde os alunos podem encontrar livros adequados às suas idades, diferentes gostos e interesses, para além dos livros de leitura obrigatória. Isto permite aos alunos estarem em constante contacto com literatura, bem como aos professores terem instrumentos diversificados para trabalhar toda e qualquer temática que desejem, em contexto de sala de aula.

Em alguns países, hospitais e centros de saúde também possuem bibliotecas ou espaços de leitura, com livros de diversas temáticas, de ficção e não ficção, porque a leitura é uma forma de tranquilizar os pacientes.

A Biblioterapia não é uma prática rígida, podendo ser alterada, adaptada e moldada às necessidades de cada pessoa. Mas a base principal é sempre a mesma: ajudar, através dos livros e da literatura, as pessoas a ultrapassarem, aceitarem e compreenderem os seus problemas.

A Biblioterapia na Psicanálise

Embora a biblioterapia não seja uma técnica psicanalítica em si, ela pode ser integrada a uma abordagem psicanalítica em psicoterapia, ampliando as possibilidades de exploração das questões emocionais e inconscientes do paciente.

A psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud e posteriormente expandida por outros teóricos, como Carl Jung e Melanie Klein, é uma abordagem que busca compreender o inconsciente do indivíduo e como os processos psicológicos influenciam o seu comportamento e a sua vida.

A biblioterapia pode ser uma ferramenta útil dentro do contexto psicanalítico de várias maneiras:

  • Exploração do inconsciente: A leitura de livros, especialmente literatura psicológica, pode desencadear reflexões e perceções sobre questões inconscientes do paciente. O terapeuta psicanalítico pode analisar as reações do paciente à leitura e usá-las como ponto de partida para investigar pensamentos, sentimentos e memórias reprimidas.
  • Transferência e contratransferência: A relação terapêutica em psicanálise envolve transferência (os sentimentos do paciente em relação ao terapeuta) e contratransferência (os sentimentos do terapeuta em relação ao paciente). A discussão de livros e personagens pode criar paralelos simbólicos que permitem ao terapeuta e ao paciente explorar essas dinâmicas terapêuticas de forma mais profunda.
  • Simbolismo e interpretação: A psicanálise é conhecida pela sua ênfase na interpretação simbólica. Os livros frequentemente contêm simbolismos complexos que podem ser explorados para compreender as preocupações inconscientes do paciente. A análise do conteúdo dos livros pode ser usada para estimular discussões sobre os símbolos presentes na vida do paciente.
  • Autoconhecimento: A biblioterapia pode ajudar os pacientes a conhecerem-se melhor, identificarem padrões de pensamento e comportamento e compreenderem as motivações subjacentes. Isso é fundamental na psicanálise, que busca aumentar a consciência dos processos inconscientes.
  • Partilha de narrativas: Através da leitura e discussão de livros, os pacientes podem ser incentivados a compartilhar as suas próprias histórias e experiências pessoais. Isso pode ser valioso para a psicanálise, que muitas vezes se concentra na narrativa pessoal do paciente.

É importante destacar que a biblioterapia não é uma técnica psicanalítica em si, mas uma abordagem terapêutica complementar que pode ser integrada ao trabalho psicanalítico para enriquecer a compreensão do paciente e promover o processo terapêutico. A combinação das duas abordagens pode ser particularmente eficaz para pacientes com uma afinidade especial com a leitura e a literatura. No entanto, como em qualquer abordagem terapêutica, a aplicação da biblioterapia em contexto clínico deve ser feita por um profissional de saúde mental treinado e qualificado.

Madalena Neves Afonso

Psicóloga Clínica, Biblioterapeuta e Blogger Literaria.

Imagem Por, José Ferraz de Almeida Júnior, “Leitura [Reading]” (Pinacoteca do Estado de São Paulo)

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