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Mas afinal, como ter bom sexo? Eu diria que esta é uma pergunta para milhões, até porque “bom sexo” significa imensas coisas diferentes para cada um de nós.

Por vezes encaixamos perfeitamente com alguém, por outras a coisa parece requisitar de um esforço adicional e com outras pessoas não há encaixe nenhum e isso poderia significar, por oposição, que tivemos “mau sexo” com alguém.

A primeira ideia a saber é que bom sexo exige trabalho. Nem sempre vai tudo correr bem e está tudo mais que okay com isso porque ao início há uma carga de novidade muito grande. Convém as pessoas aprenderem sobre os corpos umas das outras, pois ninguém vem com um manual de instruções e certos estímulos descobrimos que gostamos mais tarde ou com um(a) determinado(a) parceiro. Isso exige não só disponibilidade emocional como temporal.

A segunda ideia a saber é que existem dois tipos de desejo sexual – o motor para iniciar o contacto sexual. Com certeza que o leitor já teve no início de uma relação (mais ou menos casual ou séria é indiferente) e apetecia fazer sexo a toda a hora e em qualquer lado. Apresento-lhe o desejo sexual espontâneo, caracterizado por uma necessidade física intensa e imediata com um(a) parceiro(a). Quando as coisas começam a estabilizar é quando o desejo sexual espontâneo dá lugar ao responsivo, aquele que surge por consequência dos estímulos do(a) nosso(a) parceiro(a). É um desejo mais deliberado e pensado. Não existe um desejo sexual “melhor” ou “pior” que o outro. O que acontece é que, à medida que uma relação avança no tempo, existem desencontros no desejo sexual sentido pelos membros do casal e isso faz parte.

A terceira ideia a saber é que, no sexo, o cérebro desempenha o papel mais importante ao invés dos genitais. Bem sei que o que parece dar sinal é a vagina ou o pénis, mas quando alguém está stressado(a) ou ansioso(a) não há excitação que lhe valha e não há órgão genital que responda.

E aqui faço a ponte para a quarta ideia a saber: o sexo não é independente de fatores externos e muito menos do nosso estado emocional. O sexo é um processo complexo onde intervêm fatores de ordem física, psicológica, moral, fisiológica. Uma pessoa que esteja a fazer medicação antidepressiva pode sentir efeitos negativos sobre a sua líbido. Alguém que esteja com um deadline muito apertado no trabalho pode estar mais focado(a) em terminar as tarefas laborais que propriamente ir fazer sexo. Alguém que se sinta menos bonito(a) ou que tenha problemas de autoimagem vai, com certeza, sentir as repercussões disso mesmo. Alguém que se debata com conceitos religiosos pode experienciar a sua vida sexual de uma forma diferente (normalmente mais reprimida).

A quinta ideia a saber é que o prazer é um conceito muito importante mais que chegar ao orgasmo. Existe este parecer de que se deve chegar à meta e caso não se chegue é porque não foi bom. Mas chegar à meta de nada vale se o caminho para lá chegar não for divertido, íntimo, intenso e de partilha. Ter um orgasmo é bom, mas não significa, necessariamente, a presença de prazer.

Posto isto tudo, deixo algumas sugestões para melhor a vida sexual:

  • Comunicar: sem grandes surpresas, a comunicação é das coisas mais importantes a nível sexual. Comunicar gostos, receios, fantasias, fetiches é de extrema importância, pois, em alternativa, esperar que o(a) parceiro(a) adivinha o que gostamos e não gostamos roça a perda de tempo. Mas, acima de tudo, não esquecer também a importância de comunicar limites: aquilo que é um sim, um talvez e um não. E, claro, respeitá-los. Partilhar gostos faz parte, insistir para que o outro faça algo que o deixa desconfortável, já não.
  • Masturbação: costumo dizer que fazer sexo sem a pessoa se masturbar equivale a ir a exame sem fazer os trabalhos de casa. A masturbação não só é algo saudável como ensina à própria pessoa aquilo que gosta, como, quando e porquê. Tendo acesso a esta informação fica mais fácil comunicar ao outro as suas preferências. Deixar esta parte a cargo do outro como se lhe competisse a ele(a) descobrir, acrescenta um peso e responsabilidade que não lhe diz respeito.
  • Brinquedos sexuais: apesar de ainda existir alguma resistência ao seu uso, os brinquedos sexuais são um complemento à relação sexual e não servem para retirar importância a nenhum dos membros participantes. Existem inúmeras opções à venda, tanto para uso individual como em casal, são divertidos e seguros e são excelentes aliados à fuga da rotina.
  • Lubrificante: residente obrigatório na mesinha de cabeceira de alguns, enquanto outros acham que a saliva resolve o problema. Não só não resolve como o lubrificante é importante para diminuir desconforto nas relações sexuais. O lubrificante pode ser usado por todos, de preferência de base aquosa, e algumas práticas, como o sexo anal, necessitam realmente do seu toque extra. É usar e abusar.
  • Inserir novidade: podemos estar a falar de brinquedos sexuais, novas posições, de inserir elementos de BDSM, explorar novos lugares. O que interessa é descobrir novas formas de diversão neste lugar de intimidade.

E escusado será dizer que consentimento e proteção são palavras-chave em qualquer relação sexual.

Rafaela Rolhas

Psicóloga Clínica
// Este artigo (Parte 3) faz parte da série de artigos sobre Sexologia. //

Imagem Por, Joan Semmel, “Touch

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