Algo inexistente flutuava no interior das paredes, no núcleo dos edifícios.
Quando eram eles,
Ninguém sabia como destapar a porta,
Nem como distinguir as visitas pela fenda da fechadura.
A melodia da campainha alterava-se:
Três toques de um berlinde metálico a cair no teto do meu quarto
E na cabeceira das mulheres da minha família.
A minha avó consultou uma vidente (por outras razões),
Que lhe perguntou se ouvia barulhos vindos dos canos.
Ela ignorou (não queria parecer maluca).
Todas as noites eu olhava para os ângulos acima da cama:
Só queria ver um espírito…
Sono após sono, o meu interesse fez expandir
O volume e a nitidez do som,
Até tudo se tornar um fardo, um transtorno e um compromisso.
Investiguei e tentei recolher provas:
Na internet encontrei fóruns de construção de casas
E falei com pessoas sobre o meu distúrbio, mas ninguém sofria do mesmo.
Filmei e captei áudio com um Motorola de baixa resolução, mas não consegui detetar nada.
Com o passar dos anos, as pancadas foram-me visitando cada vez menos,
E hoje tenho saudades daquele horror,
Daquela hipótese de comunicação.
Algo oculto flutuava no interior das paredes, no núcleo dos edifícios.
Todas as noites eu olhava para os ângulos acima da cama:
Só queria ver um espírito…
Ana Claudia Santos
Escritora e Autora dos poemas “O Centelho Literário“, “Para Além da Vida“, “Além-Incêndio“, “Antiquário” e “Em Portugal“.
Imagem Por, Salvador Dalí, “Profanation of the Host”
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