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Ao longo de 12 anos de escolaridade obrigatória, o universo dos alunos portugueses é introduzido num mundo de fantasia e ficção que permite conhecer ambientes, espaços, situações e personagens fantásticas que se revelam únicos e, ao mesmo tempo, semelhantes a todas as histórias e estórias de cada um.

Desde tenra idade, sonhamos com fadas, animamos rapazes de bronze, viajamos até à Palestina, visitando lugares santos e regressamos, percorrendo as belas cidades da Europa até à Dinamarca, ajudamos um Gato Grande Preto e Gordo a salvar uma gaivotinha, ensinando-a a voar, escondemo-nos silenciosamente num anexo, para não sermos descobertos pelas tropas alemãs nazis, viajamos para desbravar mares e territórios, espalhando o amor da Citereia e emocionamo-nos com as (in)definições do Amor!

Mais tarde, já no secundário, espantamo-nos com as cantigas do rei trovador “Ai Deus e o é?” e com raparigas que tentam casar para fugir de uma situação de vigilância maternal para caírem em casamentos opressivos e castradores de vontades e liberdades individuais! Nesta fase, conseguimos perceber que há em todas as obras um forte pendor de crítica social que nos diz que houve sempre autores a fazerem chamadas de atenção para a correção de costumes e comportamentos que revelam incultura e desprovidos de honra e lisura nacionais. Demos um salto até S. Luís do Maranhão, para ouvir o Padre António Vieira pregar aos peixes, apontando-lhes virtudes e defeitos “Uma coisa que me desedifica em vós é que vos comeis uns aos outros… e os grandes comem os pequenos”… quanta atualidade nesta metáfora!  De seguida, angustiamo-nos com tragédia que se abate sobre os Noronha e Coutinho, ficando incrédulos com a morte da valente Maria que, aos olhos de hoje, provavelmente teria outro destino… ou talvez não?! De amor em amor e de proibição em proibição, emocionamo-nos com Simão e Teresa… quem consegue ficar indiferente aos braços estendidos mo Mirante que se despedem do seu amado para sempre? Como não verter uma lágrima ao sentirmos as ondas a envolverem Mariana na sua morada final e abraçada ao seu amor?!

Quando esperávamos ter sossego ao nível das emoções, eis que nos deparamos com uma narrativa que nos espanta com o seu tom de extremo sarcasmo para com os comportamentos da sociedade lisboeta e com as peripécias do Destino que coloca sob o mesmo signo da desgraça dois irmãos que se atraem inexorável e fatalmente… “Falhamos a vida, menino!” – é a frase que resume todos os sonhos de renovação literária, política, económica e social do último quartel do século XX.

Ao longo dos 12 anos, somos confrontados com a genialidade de quem consegue transpor em palavras sentimentos e emoções que exortam as mentes à renovação, reformulação e mudança, de forma sublime e em estilo “grandíloquo”. Como não mostrar espanto e maravilhamento perante a multiplicidade de personagens (Heteronímia) de Fernando Pessoa que nos leva à infância como tempo privilegiado da inconsciência e felicidade, ou a não fazer nada, porque inexoravelmente caminhamos para a morte, ou ainda, experimentar tudo de todas as maneiras para se atingir a felicidade? E que dizer da Mensagem que nos exorta a sairmos do nosso sofá para transformarmos a nossa realidade? Façamos a irmandade que revolucionará mentalidades e fará surgir o Quinto Império da libertação individual, no respeito por todos e pelo planeta!

Em suma, a construção de um cidadão implica necessariamente a construção de uma mente culta e votada para os valores universais da liberdade, igualdade e fraternidade empenhadas e reveladoras de um mundo novo – este desígnio é conseguido através do conhecimento e leitura dos testemunhos de grandeza e genialidade que absorvemos de todas as obras literárias que temos o privilégio de folhear!

Valete Frates!!!!

Anabela Maria Ameixinha

Professora de Português da Escola Secundária D. Maria II

Imagem Por, António Carneiro, “Camões Lendo Os Lusíadas

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