|| ◷ Tempo de leitura: 19 Minutos ||

Acompanha a leitura deste texto com a audição desta playlist criada pela Rafaela Brito


I

Os pulmões soltam o ar que guardei, assim que o homem de pele pálida, cor da neve, sai de cima de mim. Depois do prazer, vem o arrependimento. Seria engraçado dizer isto, se tivesse existido prazer – até existiu, mas não fui eu que desfrutei.

A sua respiração está ofegante e a minha está como antes. Tentei que fosse um bom momento. Não foi. Nem sei quem é esta pessoa apenas sei que é uma decisão errada. Mais uma decisão errada. Um prémio para a Matilde, a rainha das más decisões.

O seu braço aconchega-se à volta da minha barriga e a vontade de fugir aumenta. Os meus olhos prolongam-se pela madeira cintilante da mesa de cabeceira e param na moldura com a fotografia onde vejo o jovem – que está ao meu lado –, com os seus cabelos castanhos a esvoaçar, abraçado a uma rapariga da sua idade.

Eu quero que isto não seja o que estou a pensar. Procuro nos dois rostos da fotografia alguma semelhança para serem familiares. Não encontro.

— Quem é?

Ele levanta-se bruscamente e baixa a moldura.

— Carlos? — Sento-me na cama, arregalando os olhos.

— É a minha namorada.

— O quê?

Salto do colchão como se fugisse de um monstro gigante. Visto-me enquanto oiço a sua voz que mostra a naturalidade com que ele faz isto. Pede-me para ficar – como se eu já não quisesse fugir antes. Ele tenta puxar-me pelo braço, mas largo de imediato e, assim que estou vestida, saio daquela casa. Não gostei e o fim piorou tudo. Cada vez que conheço homens, lembro-me que sou uma sortuda por nunca ter amado nenhum deles.

Amar está longe dos verbos que quero que façam parte da minha vida. Amar… Só a mim mesma, ao meu gato Mikas e à minha avó Carolina. Mais ninguém é digno do meu amor. Estou habituada a estar sozinha. Não imagino a minha vida de outra forma.

Não gosto de estar solteira só no verão como muitos outros que adoram estar sozinhos nessa altura, mas no inverno procuram um corpo para se aconchegar. Eu gosto de estar assim. Quanto mais sozinha, melhor.

Nunca namorei e, tampouco o quis. Divirto-me com amizades coloridas e relações casuais. Não muito, mas o suficiente para satisfazer as necessidades básicas do ser humano. O meu coração não se envolve e fica tudo bem. Ele também não se quer envolver. Jamais.

Quando viste os teus pais a discutir durante os dez anos que viveste com eles, num casamento tóxico e destruidor, enquanto tu te fechavas no quarto a tentar procurar conforto que não encontravas, é fácil não amar. Torna-se ainda mais simples quando os teus pais se separaram, foram à sua vida e deixaram-te. Estão os dois em países diferentes e não querem saber de mim. Fui fruto de um amor que não existiu, um erro no caminho deles. Amar? Não é para mim.

II

Faço o meu caminho com uma música de porcaria qualquer que está a passar na rádio, até à hamburgueria mais próxima. Tenho um ritual todas as vezes que desfruto de uma relação casual: ir comer um hambúrguer, batatas fritas e um gelado cheio de açúcar. Tudo dentro do carro.

Assim que tenho a minha comida, sento-me no automóvel, dou uma dentada e fecho os olhos para sentir o prazer de estar a comer algo tão bom depois do floop matinal. Não estou num sítio maravilhoso, mas posso fingir que sim – se fechar os olhos – porque olho para os lados e, nesta rua, só vejo lojas com montras cheias de corações. Vou vomitar.

Não entendo qual é a graça do Dia dos Namorados. Se até os pais podem deixar de nos amar, como é que um paspalho qualquer não vai fazê-lo? Como é que acredito no amor se tive com um homem que, provavelmente, no dia dos namorados vai estar a jantar com a namorada e ela sem saber nada do que aconteceu? Ridículo. Só vejo corações, cor-de-rosa, vermelho e peluches pindéricos em tudo o que é lado. Isto aumenta as minhas náuseas. Ainda nem chegámos a fevereiro, está tudo louco?

Ainda bem que o São Valentim é só um dia porque se fosse como o Natal ou como o Ano Novo, eu emigraria para Marte.

No meio do meu side eye, olho para o carro ao lado e está um jovem – dono de uma beleza que eu preferia não ter visto – a admirar-me com um sorriso de orelha a orelha. Ao aperceber-me do momento, rio-me também. Só estou a procurar entender a razão da minha timidez, de sentir as bochechas vermelhas, do estômago contorcer-se e dos calores a percorrerem o meu corpo. Respiro fundo e continuo com um sorriso enorme como se conhecesse este ser humano irreal que está no automóvel ao lado. O vidro do carro não permite que o veja por completo, mas parece que foi idealizado para um filme de fantasia com finais felizes, onde existem príncipes perfeitos que, tecnicamente, não se encontram na vida real. O cabelo encaracolado da cor de uma raposa é daqueles que desperta a vontade de tocar. Ele abre o vidro do carro com o sorriso que convida a mais que um simples “olá” e, nesse momento, o meu fôlego fugiu do corpo como se estivesse a fugir de algo assustador. Perdi a respiração no meio daqueles olhos cor de esmeralda, numa mistura da cor do mar e do céu. Não percebo se são azuis ou verdes, apenas vejo o brilho neles que fazem magia em mim. Dou por mim a inspirar e a expirar, enquanto procuro a sanidade que acabou de se ir embora.

— Já que estamos os dois a comer, podemos fazê-lo acompanhados. — Sorri e pisca o olho. E, num piscar de olhos, o batimento cardíaco acelera. — Anda daí.

— Mas eu conheço-te? — Pergunto, arqueando a sobrancelha.

— Podes conhecer agora.

Não perco nada em levantar-me daqui e conhecer este homem demasiado bonito que se está claramente a atirar a mim. É o que faço, mas quando me levanto sinto as pernas a tremer, como se tivesse corrido imensos quilómetros, mas estou só nervosa sem razão nenhuma. Ele estica-se para abrir a porta do carro, eu abro o resto e sento-me. Coloco uma madeixa do meu cabelo ondulado, longo e castanho-escuro atrás da orelha e sorrio, sem saber o que fazer ou dizer. Acabar de comer o hambúrguer seria uma boa ideia.

O ruivo, que parece ter aparecido aqui de cavalo branco, aproxima-se de mim e eu gostava que o meu corpo não paralisasse. De repente, pareço uma adolescente a ver aquela crush dos Morangos com Açúcar. Dá-me dois beijos nas bochechas e o roçar da sua barba laranja aparada na minha pele arrepia-me. O aroma irresistível do perfume masculino de uma mistura amadeirada com lavanda e outros que não reconheço invadem as minhas narinas, o que me faz querer estar mais perto dele. Veste uma camisa branca amarrotada por estar sentado, que lhe assenta como uma luva, e é o suficiente para ganhar água na boca.

— É um gosto conhecer-te. Sou o Vicente. — Apresenta-se e ajeita os óculos metálicos que lhe ficam demasiado bem.

— Igualmente. Sou a Matilde e isto é estranho.

O que também é estranho é a forma que o meu peito está a borbulhar de alegria como se tivesse acabado de realizar um sonho de há muitos anos.

— Ainda vai ficar mais, Matilde.

O seu olhar caminha pelo meu peito e continua a descer, como se fizesse uma avaliação. Estou no carro de um desconhecido que está a avaliar-me. Certo. Continuo a comer e ele faz o mesmo, pelo que o silêncio invade o carro. Enrolo uma madeixa de cabelo com o dedo, sem saber o que fazer. Começamos a conversar e a saber mais um sobre o outro, depois de comermos. Em todas as palavras que deixei sair da minha boca, ele acompanha os meus lábios como se desejasse que fossem a sua sobremesa. O pior é que eu quero ser essa sobremesa.

— Sou escritor e adoro momentos aleatórios como este.

— Vais escrever sobre mim, Vicente?

— Quem sabe, Matilde. Gosto mesmo do teu perfume. Parece que o espalhaste pelo carro.

Engulo em seco, a Matilde que conheço quer pedir-lhe para chegar mais perto. A Matilde que parece enfeitiçada tem medo das sensações que ele provoca e que não são apenas no baixo-ventre. Sobem-me pelo peito e invadem todo o meu corpo, além de fazerem o meu estômago aquecer.

— Podes senti-lo mais de perto. — Atiro, sem pudor.

Molha os lábios e avança para mim, pelo que fico paralisada quando sinto o seu rosto a aproximar-se do meu pescoço. Os meus sentidos querem parar quando os seus lábios tocam, ao de leve, nele. Existem arrepios por todo o meu corpo como se estivesse o ar condicionado ligado para o frio. No entanto, aqui está quente, principalmente quando ele sobe e olha para os meus olhos castanhos cor de noz. Retribuo o olhar e sorrio, sem saber o que fazer. Involuntariamente mordo o lábio inferior para tentar esconder todos os efeitos que ele me provoca. Ainda demasiado próximo de mim, coloca a sua mão no meu rosto e acaricia-o enquanto a minha respiração falha, molho os lábios e ele junta os seus aos meus. As nossas bocas encaixam como se já nos tivéssemos beijado antes. Parece que não o beijo só com a boca, mas com tudo de mim. Quando paramos, depois das nossas línguas se envolverem em encontros e desencontros, olhamos um para o outro sem fôlego.

— Estás-me a utilizar como inspiração?

— Quem sabe, Matilde.

E volta a beijar-me de uma forma que eu não conhecia.

III

Passaram-se semanas desde que conheci o Vicente e tive de me afastar por não gostar das sensações que ele provoca. Ele quer enviar mensagens, conversar, sair e eu não faço essas coisas com homens. Tudo o que me faça aproximar muito deles é motivo para fugir. Creio que não vamos ter mais nada, sem ser aqueles beijos quentes e maravilhosos que trocámos no carro. Além de que não acho piada a que ele me esteja a utilizar como inspiração para os romances dele. Eu e romances não combinamos. Sou uma péssima inspiração.

A tristeza chegou à loja de cerâmicas onde trabalho. Recebemos uma coleção de produtos de São Valentim cheios de coraçõezinhos, “amo-tes” e coisas ridículas. O pior é que o meu patrão pediu-me para enfeitar a montra com a decoração de São Valentim. Quero fugir daqui. A minha sorte é que já é fevereiro e daqui a treze dias posso tirar esta decoração pirosa. No entanto, sinto que vou vomitar algumas vezes.

Enquanto decoro a montra, sussurro asneiras para relaxar e canto, aparece um ruivo na loja. O Vicente. Não bastava aparecer-me nos sonhos desde que o conheço, também se materializa e torna-se realidade. Saio do escadote e se pudesse correr daqui para fora, corria. Principalmente porque os seus olhos meio verdes, meio azuis estão a despir todas as minhas defesas. Os lábios dele chamam-me como se precisasse deles para respirar.

— O que…

— Desculpa, mas tinhas-me dito que trabalhas aqui e decidi vir. — Interrompe-me e aproxima-se de mim, tornando a loja mais bonita.

Ele tem flores na mão. Ele. Trouxe. Flores. Para. Mim. Não sei se vou chorar, se vou vomitar, se vou fugir.

— Mas porquê, Vicente?

— Não sinto que as nossas conversas, aqueles beijos, aquelas mensagens pela noite fora tenham sido só porque sim.

— Mas foram.

Aproxima-se mais e as minhas pernas recusam-se a mexer.

— Tens a certeza? — A sua mão vai até ao meu cabelo, o qual ele mete atrás da orelha e tira-o do meu ombro. Prendo a respiração.

— Te…nho.

— Pouco convincente. — Aproxima-se ainda mais e percorre-me com o seu olhar. Como se estivesse automatizada e sem cérebro, permito que o meu rosto se encaminhe para o dele e os nossos lábios tocam-se. O ruivo apaixonante enrola a língua na minha e eu agarro na sua cabeça, acariciando os seus caracóis sedosos. Ele também me segura na nuca com uma mão, o outro braço nas costas enquanto agarra as flores e empurra-me mais para si.

— Não posso. — Interrompo o beijo.

— Porquê? Tens alguém?

— Não. Mas não acredito em relacionamentos, não acredito em nada que não seja uma noite, um dia ou o que for.

— O quê? — O seu rosto mostra uma confusão nítida.

— Não acredito em conexões amorosas.

— O que eu e tu tivemos foi mais que isso.

As palavras dele fazem o meu estômago dançar, o meu coração palpitar e sentir coisas estranhas. Em simultâneo, quero evitar tudo isto. Não acredito no amor, muito menos no que chamam de amor à primeira vista. Não estamos num filme nem num livro. Preciso que ele se afaste de mim e que esqueça que nos beijamos e tudo o que conversámos. Também vou esquecer, esquecer que a presença dele inquieta-me e que não o quero só na minha cama, mas na minha vida.

IV

Estou a cozinhar uma carbonara com a única pessoa que merece o meu amor: a minha avó. É com ela que gosto de partilhar o vinho todas as noites, a manta e a televisão. E com o nosso gato, o Mikas. Apesar de ela dizer tantas vezes que gostava que eu namorasse e não pensasse no amor como algo negativo. O pior é estar a cozinhar e imaginar aqui o Vicente, a rir-se, a escrever as suas histórias e a dançar comigo. Também consigo imaginá-lo no meu quarto, no escuro da noite, a percorrer o meu corpo, a sermos um do outro. Ele meu e eu dele. Um arrepio apodera-se das minhas costas e abano a cabeça para afastar o pensamento. Não sei o que raio me aconteceu, deve ser dos corações horríveis e da publicidade horrenda sobre o São Valentim.

Depois do momento da loja, ainda conversámos por mensagens, mas tive de deixar de responder, por mais que me doa. Expliquei-lhe as razões pelas quais não o quero amar, nem continuar seja o que for. Contei-lhe a situação da minha família o que demonstra que confio nele, mas tive de sair da sua vida, mesmo que custe.

A minha avó toca-me no braço para eu virar-me para ela, vejo os seus grandes olhos castanhos a brilhar, acaricia-me o cabelo e questiona o que se passa comigo. A minha avó sabe sempre quando estou a pensar demais. Conto-lhe que conheci um rapaz e o seu sorriso abre-se, pelo que estrago tudo logo a seguir.

— Não posso, avó. Afastei-o.

— Mas porquê, Matilde? — Segura as minhas mãos.

— Não quero amar. Eu tenho medo. Não quero discussões horríveis como os meus pais tiveram. Não quero ser abandonada.

— Matilde, as histórias de amor podem durar muito, pouco ou para sempre. O amor vale a pena. Amar é lindo. O que se passou com os teus pais não se vai passar necessariamente contigo. Olha para mim e para o teu avô, nós amámo-nos a vida toda até ele partir. Ainda o amo e amarei sempre. Foca-te nos exemplos bons também, os teus pais falharam contigo, mas tu não vais falhar assim com ninguém. Vais ser uma boa parceira para quem estiver ao teu lado. Resta perderes esse medo de amar e de abandono.

As suas palavras fazem-me pensar, mas eu não quero ponderar sobre este assunto. Há muito que tomei a decisão de que não ia amar ninguém. Amar no sentido de ter um relacionamento. Não me sinto capaz de o fazer, não quero que me mintam, que discutam comigo. Não acredito nesse amor, apesar de ter amigas que são felizes com os seus parceiros. Tantas pessoas felizes a amar, porque é que eu não poderia ser? O amor é possível, mas não para mim.

— Avó, só de pensar em amar e dedicar-me a alguém, tenho náuseas.

— Mas pelo que vejo, o teu estômago já reage a esse tal Vicente.

— Porque ele está louco! Eu estou louca! Nós não nos conhecemos assim há tanto tempo. Não faz sentido.

— Não é preciso, Matilde. O tempo não diz nada sobre o amor. O teu coração sabe que ele é o tal.

— O tal? Nem penses, avó!

Ela olha-me nos olhos e sorri. Não resisto em sorrir também. Sento-me numa das cadeiras da mesa da cozinha e sinto o aroma do esparguete a ser cozido. A minha avó verifica as panelas e vem para perto de mim, agarra-me no cabelo e começa a trançá-lo. Adoro quando ela me trança o cabelo, desde pequena que o faz. Chego a pedir que o faça ou acaricie o meu cabelo porque sinto um conforto enorme.

— Ama, querida. Amar é bonito. Não tenhas medo. Eu vivi um amor intenso. Antes do teu avô, vivi outro amor bastante bonito. Amamos e deixamos de amar. Mas amar é sempre a solução.  Quando acaba, existe dor, contudo, a história que viverem vai sempre valer a pena. Agarra esse amor, Matilde.

— Mas, amar… Será que amo, avó? Eu não sei amar.

— Tu sabes amar. Tu és uma menina com um coração gigante e, acredita, neta, ele está preparado para amar. Tens de tirar esse escudo que meteste à sua frente.

— Será? — Pergunto a ponderar sobre o assunto e o Mikas sobe para o meu colo.

— Tenho a certeza.

V

A mensagem foi enviada. Está tudo preparado. Não acredito que estou a fazer isto, mas não tenho conseguido dormir. Estou com insónias e dou voltas na cama. É como se soubesse que estou a perder algo incrível. Depois de uma semana a pensar, precisei de agir. Tenho medo, receio e até tremo apenas com a ideia de abrir o coração.

A porta do meu carro abre-se e a minha respiração sai por lá. O Vicente, dono de uns olhos que me levam até onde ele quiser, vestido com uma t-shirt azul e umas calças de alfaiataria beges com o sorriso mais lindo. Ele veio, mesmo depois de eu o ter excluído da minha vida, mas agora que olho para ele não tenho palavras para dizer. Trouxe flores novamente e, desta vez, quero recebê-las, cuidar delas e guardá-las para sempre, mesmo quando secarem.

— Olá! Uau, foste buscar hambúrgueres. — Comenta com um sorriso radiante. Os seus grandes olhos arregalam-se perante a surpresa. Ele volta a fechar a porta.

— Gostei da ideia de nos voltarmos a ver no lugar onde nos conhecemos a comer o que estávamos a comer. — Rio-me, timidamente.

— No dia que mais odeias.

— Sim.

— Será que vais parar de odiá-lo?

— Quem sabe…

— Talvez o dia dos namorados ganhe um novo significado para ti.

A sua mão toca no meu rosto, enquanto nos olhamos fixamente. Admiro as suas sardas nas bochechas e no nariz, acompanhado do brilho dos seus olhos. A minha pele arrepia-se ao sentir os seus dedos, com o polegar, ele acaricia-me a bochecha, junto à boca, até descê-lo pelos meus lábios. Sorrio ao reagir aos meus próprios arrepios constantes. Tudo isto se torna melhor quando não estamos a tentar fechar os sentimentos.

Nunca vivi nada tão intenso ao ponto de sentir que qualquer tempo que esteja com ele, será sempre curto. Quero conhecê-lo, saber tudo sobre ele, ir a lugares de mãos dadas, fazer amor, amá-lo, todas essas coisas que os casais fazem (e que eu achava ridículas). Pela primeira vez, quero viver tudo com alguém. Esse alguém é o Vicente.

— Eu quero amar-te, Vicente. Eu não sei o que é isto, não faço ideia do que estou a fazer e destes sentimentos tão estranhos e cócegas por todo o meu corpo. — Respiro fundo, enquanto vejo o seu sorriso que me faz perder ainda mais a compostura. — Não aguento continuar a fingir que não sinto nada por ter medo de te perder. Quero viver isto que temos para viver.

Tenho o rosto molhado das lágrimas que deixei cair enquanto falava. As lágrimas que ele limpa com os seus dedos. A sua outra mão entrelaça a minha e sinto-me segura. E quando os seus olhos esmeralda voltam a encontrar os meus, é como viver num filme de comédia romântica. Aqueles filmes que odeio.

— Miúda, no que depender de mim, não me vais perder. Eu nunca pensei que, do nada, fosse sentir tudo isto que está a dar cabo de mim. Nem sabes como fiquei aliviado por ter recebido a tua mensagem. Eu quero-te tanto e também quero viver tudo contigo. Eu soube que eras tu desde o primeiro dia que te vi a comer um hambúrguer sozinha no carro. — Ri-se com a emoção a transparecer no olhar.

Sem esperar, assim que termina o que disse, juntou os nossos lábios numa explosão de amor, onde as línguas se entrelaçam e procuram a sobrevivência uma na outra. Os meus braços estão atrás do seu pescoço, enquanto a sua mão pousa na minha nuca e a outra nas minhas costas a empurrar-me mais para si.

— Vou-te provar que podes amar. No dia dos namorados e em todos os outros dias. — Sussurra entre beijos. — Não preparei nada de especial, mas não posso esperar: queres namorar comigo, Matilde?

— Se quero? Não só quero, como preciso e devo.

Os nossos lábios voltam a encontrar-se como se não pudessem separar-se. É bom olhar para alguém e sentirmos que somos um para sempre. Afinal, o romance não é tão mau como parece. Só temos de nos entregar, mostrar o que sentimos e permitirmo-nos viver com as palavras do coração. O amor à primeira vista existe… O Vicente ensinou-me isso tudo. Eu nunca amei antes, mas vou amá-lo. Quero viver esta história de amor e festejar todos os “São Valentim”, mas, acima de tudo, quero que desfrutemos de todos os dias, como se fossem Dia dos Namorados. Em caso de amor… Não esperes! Namora.

Rafaela Brito

Autora do Livro “(Mar)ia“.
Escritora dos Poemas “Café Amargo“, “Agarraste na Minha Mão” e “Esperei Por Ti

Imagem Por, Joseph Lorusso, “Kisses in the Rain

2 thoughts on “Em Caso de Amor, Namora

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Pintura de Imagem Por, Joseph Lorusso, “Kisses in the Rain” que representa o amor Previous post Quatro Textos de Amor
Obra Por, Banksy, “NY Love” que dá a ideia do Valentim Sangrento Next post Valentim Sangrento