O espelho acomoda a plasticidade do meu corpo,
Atribui à carne a sua ultima finalidade
De ser iconografia viva, mero objeto pulsante.
Removo a sua película fendida
E resta uma moldura envelhecida
Repousando numa parede alheia à vaidade
Somente essa conhece a minha verdade.
O rosto desfigurado pela chuva ácida
Revela o arremesso da minha carne.
O corpo despe os seus contornos
E evapora numa névoa bruxuleante;
Relampeja sem tração,
Nem início nem fim.
A pele rompe e esboça as fendas
De uma inquietude que não cabe nos punhos fechados.
Co-habito nesta consciência amorfa
Sem nada que me materialize,
Entre pequenos pontos
Num grande ecossistema
Cheio de deuses pequenos e silenciosos
Que convergem na seguinte questão:
O que é o ego se não a artificialidade do tempo?
Se as células jazem e se renovam
Como pode a mente permanecer inerte
num corpo amolgado e cheio de sulcos?
Será despersonalização,
Desrealização,
Ou somente bom senso?
Essa mania de dar nomes a tudo
E de pôr nomes em etiquetas
Onde gente escreve sobre gente
Num devaneio descrente…
Este riacho transborda
Desdobra-se em águas plurais
Não pode caber num singelo arremesso carnal
Não se materializa numa só existência
Ainda que repouse nas mesmas mãos1Este poema descreve um conflito interno entre a batalha contra a doença mental e a autoperceção da espiritualidade
Imagem Por, Berthe Morisot, “The Psyche mirror [Le miroir psyché]”
Notas de rodapé[+]
↑1 | Este poema descreve um conflito interno entre a batalha contra a doença mental e a autoperceção da espiritualidade |
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