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Estás a começar agora o secundário?

Já te deves ter apercebido de como é um tempo desafiante e de novas experiências, disciplinas, pessoas, professores, ambiente e exigência, bastante diferente de tudo aquilo que viveste até ao 9º ano, certo? E aqui estou eu para te ajudar e guiar nesta nova fase!

Chamo-me Lia, tenho 18 anos e estou no 1º ano da Licenciatura em Estudos Clássicos, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em julho de 2021 terminei o secundário em Línguas e Humanidades com média de 19 valores. Estou aqui hoje para te contar um pouco da minha experiência e dar algumas dicas úteis para o início da tua jornada académica neste mundo mais adulto.

A primeira coisa que devo referir é que demorei muito tempo a decidir a área. Estava indecisa entre Artes e Humanidades, porque sempre fui uma apaixonada por ambas e a decisão foi muito difícil. Aconselhei-me junto dos meus pais, irmãos, avós, amigos e com a psicóloga da escola, mas a decisão coube-me só a mim. Ponderei várias variáveis, vi cursos possíveis, analisei as disciplinas específicas de cada um, bem como as saídas profissionais. Acabei por tomar a melhor decisão para o meu caso e, em setembro de 2018, comecei esta jornada.

Apercebi-me logo na 1ª semana que estava no sítio certo! Apesar de não gostar de todos os meus professores e seus métodos, gostei imenso dos programas de forma geral, da nova exigência e desafio. Estava muito empolgada por começar e bastante motivada para tirar o melhor partido da experiência. No entanto, a primeira fase de testes não me correu bem. Tive algumas notas excelentes, sim, mas o que me assustou foi a nota de História A: tinha estudado imenso, feito os tpcs e estado atenta às aulas, mas deparei-me com um 10,4 (2ª melhor nota da turma por 1 décima). Fiquei aterrada, mas, spoiler alert, terminei a disciplina com 19.

Essa é a primeira dica que te quero dar: adaptabilidade. Apesar de ter ficado muito em baixo com esta nota, aproveitei esta facada para me motivar e provar a mim mesma que era capaz! Analisei o que correu mal e apercebi-me de alguns pontos: o método de estudo estava desadequado, precisava de mais antecedência para estudar, não estava preparada para o tipo de perguntas e algumas especificidades na correção e não tinha feito exercícios suficientes. No teste seguinte tive 15,6 e em todos os outros, até ao final do secundário, tive notas superiores a 18, mesmo tendo tido 3 professoras diferentes. Tem muita atenção a isto e não cometas o mesmo erro que eu: quando vires que um método não está a funcionar, altera-o. Não existem formas certas e erradas de estudar, mas existem atitudes erradas e existe o método certo para ti.

No final do 10º ano, vários professores, familiares e colegas mais velhos avisaram-me sobre o monstro do 11º ano. Foi a pior coisa que podiam ter feito porque, na realidade, sim, há mais trabalho e exigência, mas é perfeitamente possível fazer tudo e equilibrar uma vida de trabalho e uma de descanso. Os frequentes avisos puseram na minha cabeça a ideia de que era um ano impossível e que eu ía falhar. Sempre tive objetivos claros e não queria deixar-me derrubar por este desafio. Decidi dar TUDO, passar noites em claro a estudar, fazer bem mais do que era pedido, até chegar a um ponto em que estava a sobreviver com 4h de sono há semanas, 2 cafés por dia e poucas refeições (uma resposta instintiva do meu corpo). Estive cerca de 2 meses assim, até que chegou a fase de testes. De forma geral correram bem e estava já a pensar que tinha valido a pena, até que chegou a última avaliação, de Latim, a minha disciplina preferida. Eu sabia tudo, estava “bem” preparada e ia confiante. Nessa noite não tinha dormido para ficar a fazer exercícios e estava completamente exausta, era a última aula da semana. Quando olhei para o teste e vi exercícios semelhantes aos que tinha feito na noite anterior fiquei contente, mas quando os comecei a resolver a minha cabeça simplesmente não estava a funcionar. Eu sabia aquelas coisas mas estava muito travada, baralhada, a confundir coisas básicas que tinha frescas na memória. Não consegui sequer terminar a tradução e tive um ataque de pânico a meio do teste, comecei a chorar e não me estava a controlar, só queria dormir, foi horrível. Eu sou aluna de 20 a Latim e tive 15 nesse teste. A nota é boa, sim, mas não para uma aluna de 20. Desanimei muito, mas este episódio foi fulcral para compreender a importância da minha humanidade, dos meus limites, do descanso, da saúde mental. Jurei para mim mesma que nunca mais me ia meter numa situação destas e aprendi a ter uma relação saudável com os estudos e o trabalho. Nunca mais deixei de dormir as horas necessárias para estudar, salvo raras exceções. Essa é a 2ª lição. És um ser humano, complexo, único e irrepetível. Uma nota não vale a tua saúde física ou mental, a exaustão. Precisas de descansar tanto quanto de trabalhar: encara o descanso como um investimento para um estudo de qualidade, porque sem ele não é possível.

Tenho também de referir que nunca me senti integrada na minha turma. Nunca tive muitos amigos, estava sozinha frequentemente e é uma experiência que, sinceramente, gostava de ter tido. Sou uma pessoa muito introvertida, mas, com o passar do tempo, tenho vindo a aprender formas de me abrir e de falar. O meu último ano no secundário foi melhor, tinha mais amigos, mas estava ansiosa pelo fim. Já sabia que curso pretendia seguir, já não me sentia enquadrada naquele ambiente e muito menos desafiada. Estava ansiosa que o ano acabasse e pudesse trocar de ambiente. Por isso, aproveitei esse ano para desenvolver projetos fora da escola: investi no meu studygram, participei novamente num concurso da minha escola, fiz workshops, entre outros. Foi muito bom envolver-me noutras atividades, o que me ajudou a relaxar do peso dos estudos e a abrir a minha cabeça para outras perspetivas e visões, a ter uma noção mais completa da realidade que me esperava quando os exames acabassem em julho. Por isso, a minha 3ª dica é que te envolvas em projetos e atividades extracurriculares e que invistas nestes tempos de qualidade.

Por último, preciso de referir que a pandemia começou estava eu a meio do 11º ano. Foi muito complicado devido a diversos fatores, mas também foi por isso que conheci o mundo do studygram, comecei a pesquisar mais atentamente sobre métodos de estudo e aprendizagem, tirei um curso online, comecei a investir num estilo de vida mais saudável e em hábitos enriquecedores. É esta a minha última dica, de entre milhentas que podia dar. Aproveita todas as contrariedades e imprevistos que surgirem! Não podemos ter a certeza de nada, portanto de nada vale chorar sobre caldo derramado. Usa isso a teu favor, como uma nova oportunidade de crescimento, e prova a ti mesmo que és capaz.

Esses 3 anos vão passar a correr e são um tempo de ouro. Vais conhecer-te melhor e às tuas capacidades e limitações, vais perceber exatamente aquilo que gostas e aquilo que não te vês a fazer o resto da vida, vais conhecer pessoas, professores e colegas incríveis, mas vais também conhecer o oposto. É um tempo essencial na tua formação. Aproveita-o com sabedoria, não troques aquilo que mais queres na vida pelo que mais queres no momento, mas lembra-te que a escola e o trabalho não são a parte mais importante da vida. Acima de tudo, procura o equilíbrio e aproveita.

Gostava de dizer mais coisas, aconselhar-te, mas terei de ficar por aqui! Se quiseres conhecer um pouco melhor a minha vida de estudante e ter acesso a imensas dicas e materiais de estudo, aproveita para seguir o meu studygram (@es.tu.dar). Espero ter ajudado de alguma forma e desconstruído alguns dos estereótipos que se existem sobre o ensino secundário. Bons estudos!

Por: Lia Alves (Estudante de Estudos Clássicos e Criadora de Conteúdo)


Obra Por Rembrandt “The Syndics of the Clothmaker’s Guild

3 thoughts on “Secundário: A Minha Experiência e Dicas

  1. Se me permite tratá-la pelo seu nome próprio.
    Extraordinário Lia! Genial!!

    Fiquei agradavelmente surpreendida.
    Pelo modo como abordou, expôs, desenvolveu a temática em apreço: – Secundário: A minha Experiência e Dicas –

    Simples, objetivo, pragmático e até com toque de beleza subtil. A sua descrição tão loquaz quanto e
    capaz de sensibilizar, informar, e deixar em aberto a possibilidade de se criar momentos de cooperação inter associação académico – didática. Foi simplesmente – Maravilhoso – Obrigada Lia Alves

    1. Muito obrigada! É muito gratificante ler um comentário assim, fico mesmo muito contente. Obrigada por partilhar e por deixar uma opinião tão construtiva!

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