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Desde pequena que me lembro de querer ser médica. Sempre que ia à pediatra ficava fascinada e acho que foi por ela que comecei a achar piada à coisa. Disse durante muito tempo a toda a gente que era o que queria ser mas na verdade a maior parte das meninas dizem que querem ser pediatras em certa altura da infância. Não tenho médicos na família nem ninguém ligado à saúde, no entanto o meu desejo de ingressar na área só foi crescendo e tornou-se cada vez mais sólido ao longo do meu percurso escolar.

Curiosidade de Saber

Sempre fui aquela pessoa que adora aprender coisas novas, a escola nunca foi uma obrigação mas sim uma oportunidade e, apesar de nem sempre me apetecer, posso dizer que gosto de estudar, gosto sobretudo de saber mais, de adquirir todo o conhecimento que me é oferecido. Vivemos pouco tempo neste mundo, se há algo que podemos fazer é explorar e desenvolver aquele que sempre foi o órgão que mais me fascinou. O cérebro é um armazém de conhecimento que não tem limite de ocupação e quanto mais o preenchermos, melhor proveito tiraremos dele. Muita gente não pensa nisto e acaba a vida sem saber como poderia ter usado o conhecimento a seu favor. Eu, que tenho esta noção, quero ver o máximo de filmes e documentários, quero ler o máximo de livros e estudar tudo aquilo que tiver para estudar de modo a conseguir atingir o melhor de mim mesma porque acredito que só assim serei verdadeiramente feliz. Por isso, durante todo o meu percurso escolar tentei sempre dar o meu melhor, porque era o que fazia sentido para mim e porque tinha sempre o bichinho da medicina ao ouvido a dizer-me que se queria mesmo realizar o sonho não havia outro caminho. As médias são simplesmente médias, não são pessoas, não são talento, não são a chamada “vocação” de que as pessoas tanto falam mas, se queria medicina, tinha de as atingir.

A transição do básico para o secundário pode ser complicada mas acredito que quando temos um objetivo é mais fácil, como tudo na vida. O melhor que se pode fazer é trabalhar a média desde o início porque o tempo não volta atrás.

O dia em que soube as colocações foi um dos mais felizes da minha vida. Saber que entrei no curso que sempre quis e que ia poder continuar em casa (no meu amado Porto) foi a melhor sensação de sempre, sentimento de paz, de missão cumprida. Sempre fui uma pessoa muito esforçada e dedicada e não há nada melhor que vermos o nosso trabalho recompensado ou reconhecido. Acho que nos dias seguintes ainda demorei para acreditar que tinha realmente conseguido e só respirei de alívio porque o mais difícil já estava.

A Minha Segunda Casa

Mal pus os pés na FMUP percebi logo que estava no sítio certo, que aquela ia ser a minha segunda casa. Recebem-nos de braços abertos e dão-nos toda a ajuda que um recente estudante universitário precisa. A mudança para o ensino superior é um choque porque aquilo a que chamávamos escola, aquilo a que estávamos habituados desaparece e somos deixados à deriva por isso claro que no início me senti um pouco perdida, principalmente sobre como, quando e por onde estudar. Nesse sentido a minha faculdade é incrível devido à enorme ajuda dos alunos mais velhos que nos disponibilizam imenso material de estudo, o que facilitou e continua a facilitar muito a minha vida. O 1.º semestre acaba por ser o mais complicado por termos de descobrir qual a melhor maneira de estudar e por recebermos uma quantia muito maior de matéria mas nada é impossível e a faculdade é muito mais do que isso. Fiquei impressionada com a quantidade de programas e atividades que tinha à minha disposição, era tanta coisa que uma pessoa nem sabia como escolher no que participar. Tive uma experiência incrível no 2.º semestre em que fui para Budapeste durante uma semana com pessoas de vários anos e ficamos em casa de estudantes de medicina húngaros, uma aventura a repetir sem dúvida. Desde cedo percebi que estava num mundo novo e que oportunidades não faltavam, bastava agarra-las com força e sem medo. Como tive a sorte de entrar na FMUP antes do covid-19, pude viver metade do meu ano de caloira com a máxima liberdade e só me arrependo do que não fiz, mal eu sabia que uma pandemia me ia roubar mais de 1 ano de convívios, de festas, de praxe, de tudo aquilo que faz de nós humanos no fundo. Bem dizem que nunca sabemos o dia de amanhã e acho que a pandemia foi a maior confirmação disso. Agora que estou de volta tenho tentado aproveitar ao máximo o facto de poder estar fisicamente na faculdade e que bem que sabe voltar a casa.

Se pensar na pessoa que eu era no 1.º ano e comparar com a pessoa que sou agora sinto que a faculdade me trouxe um enorme desenvolvimento pessoal em menos de 2 anos. Uma vez uma aluna mais velha disse-me que um ano na FMUP eram 30 lá fora e começo a perceber o que ela queria dizer com isso. Vamos para o ensino superior com o objetivo de tirar um curso mas tenho a certeza que saímos de lá com muito mais do que isso. Para mim o que faz a minha faculdade são as pessoas, o ambiente que se vive lá. Nunca concentrei a minha vida no estudo mas acho que foi na faculdade que aprendi a dar cada vez mais valor a tudo o que a vida tem para nos dar e a tudo aquilo que podemos fazer se quisermos, porque às vezes só precisamos de querer mais. Foi nesse sentido que surgiu a vontade de fazer algo mais para além da faculdade. Nunca fui uma pessoa que gostasse de estar parada, gosto de me manter ocupada, de ser útil de alguma maneira. Lembrei-me de criar o podcast (que neste momento está em standby) porque passei muito tempo sozinha durante o isolamento e sentia falta e vontade de falar. Juntei isso ao facto de adorar comentar tudo o que vejo a acontecer no mundo e daí surgiu o projeto caseiro ao qual dei o nome de Abertamente. Pouco tempo depois surgiu-me a ideia de colocar o podcast no YouTube de modo a chegar a mais pessoas e comecei a perceber que gravar vídeos, produzir conteúdo para lá, era algo de que realmente gostava e que continuo a fazer por gosto e por acreditar que esteja a ser útil para quem vê e ouve.
No fundo, descobri algo por acaso e acabou por se tornar num projeto que me ocupa parte da semana e que me deixa ter outros interesses para além da medicina. Estou sempre à procura de novas maneiras de ocupar o meu tempo, gosto de ser polivalente e de não me focar única e exclusivamente numa coisa porque há neurónios para tudo e não devemos por limites aos nossos interesses e sonhos. Recentemente comecei a trabalhar no McDonald’s por vontade própria e quem sabe os próximos projetos e trabalhos que a vida me reserva. Acredito piamente na famosa frase “Um médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe.” porque a medicina vai muito para além do corpo humano, tratamos doenças mas também cuidamos de pessoas e para isso é preciso mais que um entendimento fisiológico e anatómico do corpo humano.

A vida é aquilo que queremos fazer dela, com mais ou menos percalços, temos sempre o comando na mão e desde que sejamos felizes, que nos sintamos realizados, está tudo bem.

Por: Catarina Brito (Criadora de Conteúdo e Estudante de Medicina)


Obra por Clyfford Still, PH-439

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