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“As pessoas que estão suficientemente loucas para acreditar que podem mudar o mundo são aquelas que o conseguem fazer.” – Steve Jobs

É exatamente isto que os voluntários fazem: mudar o mundo. Por muito cliché que pareça a velha máxima de que “Podes não mudar o mundo, mas podes mudar o mundo de alguém”, essa é a realidade que acontece quando se começa a fazer voluntariado pois impactamos tanto a vida de outros como a nossa. Independentemente da área na qual sejamos voluntários, quer seja uma causa social, ambiental ou animal, poderemos sempre gerar um efeito positivo cujas dimensões, por vezes, nem conseguimos medir pois podem ir muito além da nossa ação inicial. No entanto, parte da alma do voluntário fica sempre insatisfeita, procurando constantemente provocar um impacto maior e novas formas de o conseguir, há até quem considere o voluntariado um vício não pelo bem-estar que cria, mas pela necessidade de continuar a fazê-lo, abdicando, muitas vezes, dos momentos de lazer e descanso em prol de uma causa.

Nem sei bem quando foi a primeira vez que fiz voluntariado, teria talvez 15 anos quando integrei o grupo jovem da Cruz Vermelha, depois veio a Santa Casa da Misericórdia através da disciplina de EMRC, a APPACDM quando estava a estudar Terapia da Fala e, há cerca de 11 anos, uma associação de proteção animal. Este último foi o que verdadeiramente me agarrou e me fez sentir realmente pequenina, entre horas passadas com os pés molhados a lavar canis malcheirosos ou na sala de espera do veterinário com animais feridos, ou não, a minha perceção do mundo e das pessoas alterou-se. O sentimento de constante impotência permanece, apesar de já ter perdido a conta ao número de vidas salvas, no meio daquelas que só foi possível ajudar a partir suavemente por ser a única opção, pois o voluntariado nesta causa, como em tantas outras, não é só alegria, há muita tristeza, há o confronto com a realidade e o abdicar do nosso bem-estar para que vida de outros, pessoas ou animais, possa melhorar. Há celebrações também, de vez em quando aparece aquele adotante ou aquela pessoa que faz o donativo que nos permite dar uma vida imensamente melhor ao animal velhinho, ferido ou anteriormente rejeitado e que nos faz acreditar e revalidar o porquê de continuarmos a lutar pela nossa causa. Apesar de na atualidade não fazer voluntariado diariamente, o sentimento permanece e os hábitos não se perdem, refletindo-se em muitas das atitudes que tomo uma vez que ser voluntário de uma causa pode ser mais que um momento no tempo e transformar-se numa forma de estar na vida.

Gostava de fazer voluntariado, mas… Que causa? Tenho pouco tempo!  E a pandemia?

A vontade de ajudar é a base de tudo, procura a causa com a qual mais te identifiques, que faça mais sentido para ti e para o teu estilo de vida. Não te sintas pressionado por escolher só uma, temos o direito de ter interesses e de fazer coisas diferentes e ser voluntário não implica um regime de exclusividade. Podes experimentar apoiar uma causa que te pareça fascinante e ficar desiludido, assim como descobrir uma grande paixão por algo que te parecia irrelevante.

O tempo pode não ser importante, apesar de influenciar aquilo que poderás fazer não te impede de ser mais ativo na causa do teu interesse. Podes simplesmente colaborar em campanhas pontuais de recolha de donativos em grandes superfícies, ajudar a organizar eventos como espetáculos solidários ou colaborar em limpezas de praias e florestas. Se puderes dedicar algum tempo semanal à causa que te interessa e começar a realizar um turno numa associação, o que pode ir de fazer companhia e jogar às cartas com pessoas idosas, distribuir bens essenciais por pessoas sem-abrigo ou limpar um canil e socializar com os animais, lembra-te que deves honrar esse compromisso sempre que possível pois quando não o puderes fazer, tanto a vida, dos beneficiários como dos outros voluntários será afetada.

Atualmente, com a importância que as redes sociais têm nas nossas vidas, estas são o maior meio publicitário utilizado pelas associações que defendem as diferentes causas. Assim, estas precisam sempre de voluntários que saibam usar estas ferramentas e tenham disponibilidade para gerir as publicações. Mesmo que não tenhas tempo livre ou esteja impossibilitado de fazer voluntariado presencialmente pela pandemia, podes participar nos eventos online de angariação de fundos ou, unicamente, partilhar, gostar e comentar as publicações que as associações que tu segues fazem. Além de mostrar à rede social que aquela publicação é relevante, aumentado indiretamente a capacidade publicitária da mesma, identificar uma associação ou partilhar a sua publicação num story do Instagram, do Facebook, no Tik Tok ou afins é maneira mais rápida, fácil e económica de dar a tua contribuição à causa que queres ajudar.

Além de tudo, lembra-te que não precisas de estar ligado a uma associação para fazer voluntariado e ajudar os outros, há coisas tão simples como que: és bom numa disciplina em particular e sabes que o filho do vizinho tem dificuldades e não pode pagar explicações? Podes oferecer-te para o ajudar a estudar. Não será uma causa com impacto mundial e muito visível na sociedade, mas para aquela criança poderá influenciar a sua qualidade de vida.

“A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.”  Franz Kafka

Ana Margarida Covas

Professora e Terapeuta da Fala na Escola Secundaria D. Maria II


Imagem por: Chiara Lima Quindere (Aluna da E. S. D. Maria II)

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