|| ◷ Tempo de leitura: 5 Minutos ||

Nas derradeiras décadas, o turismo tornou-se um dos mais importantes setores económicos de vários países, incluindo Portugal. No caso do nosso país, a atividade turística foi o principal motor da recuperação económica que se sucedeu à crise económica e financeira enfrentada pelo país entre 2008/2009 e os primeiros anos da década passada. Aliás, já no período coincidente com a própria crise, a economia portuguesa não se afundou mais porque esta indústria a foi puxando para cima. Esse papel central do turismo só foi interrompido pelo desencadear da crise sanitária que ainda vivemos, que constituiu um duro golpe para o setor e para a economia do país, no seu todo. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2019, o turismo representava 9,4% do total de emprego nacional.

Sendo um dos setores de atividade que tem apresentado maior crescimento, e sendo responsável pela criação de muitos postos de trabalho em Portugal e no mundo, em geral, não surpreende que muitos territórios tenham olhado para o turismo como espaço de oportunidade para o próprio desenvolvimento e a valorização dos seus recursos endógenos.

Falando-se de recursos turísticos, estão em causa o património natural, equipamentos e infraestruturas turísticas diversas mas, também e particularmente, o património cultural nas suas múltiplas expressões, tangíveis e intangíveis. A dotação dos territórios nestes atributos, a respetiva singularidade e a capacidade de construir produtos turísticos a partir deles, em conjugação com uma imagem consistente de destino que se consiga promover, são peças essenciais para a construção de estratégias de potenciação turística de cada território.

Sublinhe-se que para constituir um efetivo contributo para o desenvolvimento local, numa perspetiva de médio e longo prazos, a estratégia de desenvolvimento do turismo a implementar tem que basear-se na manutenção da identidade sociocultural dos destinos turísticos, e permitir construir um relacionamento positivo entre visitantes e visitados. De outra forma, pode resultar no efeito contrário e atuar como uma força potencialmente destrutiva da cultura, das artes, da expressão criativa e da identidade locais. Daqui sai sublinhada a importância do património cultural na configuração de múltiplos projetos de desenvolvimento turístico. Anote-se, a propósito, que o segmento do turismo cultural é o que na Europa mais visitantes atrai e, igualmente, o que mais tem crescido.

Se as peculiaridades de cada local forem encaradas como pontos de distinção e englobadas nas estratégias de oferta turística, e se as identidades das comunidades de acolhimento forem consideradas no desenho desta atividade, criam-se condições para assegurar a sustentabilidade do destino turístico e melhorar a qualidade de vida das populações locais e, simultaneamente, assegurar a satisfação do turista. Um turista satisfeito é alguém que pode retornar ou, pelo menos, veicular junto dos seus familiares e nos seus círculos de relações pessoais uma imagem positiva dos lugares visitados.

A este propósito, importa ter presente que frações alargadas dos turistas do presente são motivadas pela vontade de aprender, de ir à descoberta, de vivenciar experiências novas, de manter contacto direto com peças do património tangível e intangível dos lugares que visitam e com as pessoas que dão expressão às culturas locais.

Atentos à dotação de muitas terras portuguesas em matéria de património cultural, fundado na sua história e nas manifestações culturais do presente (artesanato, música e artes performativas várias, gastronomia, festas e romarias, oferta de experiências criativas derivadas de manifestações culturais locais, entre outras), o turismo tem potencial para ser olhado como resposta para as fragilidades de economias até agora baseadas na agricultura de subsistência ou em indústrias fragilizadas por contextos de concorrência estabelecidos à escala mundial e assentes, frequentemente, em mão-de-obra barata e socialmente desprotegida.

Inspirados por esta visão do desenvolvimento e procurando fixar população e proporcionar-lhe oportunidades de realização económica e social, nas duas últimas décadas, múltiplos municípios portugueses têm vindo a fazer apostas com relativo sucesso no desenvolvimento turístico, mesmo estando conscientes de que o sucesso não é algo que se possa esperar encontrar ao virar da esquina, e sempre implica mobilizações significativas de recursos financeiros e humanos. São municípios (lugares) de diferente dimensão, diferenciados em matéria de dotação em património construído, e com perfil económico e social bem distintos.

Se quisermos reter alguns bons exemplos, olhe-se para os casos de Ponte de Lima, Montalegre, Guimarães, Paredes de Coura, Braga. Cada um destes casos pode ilustrar percursos particulares de afirmação no setor, suportados no património cultural e nos atributos naturais locais. No entanto, em nenhum dos casos, o que foi alcançado foi fruto do acaso ou dispensou compromissos a nível de política pública e de mobilização de atores locais relevantes. O que se alcançou já também não deve ser olhado como meta, mas, apenas, como ponto de um percurso que continuará a reclamar o compromisso dos poderes públicos e das gentes locais.

Por: José Cadima Ribeiro (Doutor em Ciências Económicas e Empresariais, e Professor Catedrático do Departamento de Economia da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho)


Obra Por, Caspar David Friedrich, “The Lone/Solitary Tree [Der einsame Baum]

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Previous post Último Passeio
Next post Princípio