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Como é escuro e frio o fim. Como é desagradável, tempestuoso e inevitável. Por vezes imprevisível, de outras chega de mansinho, como que à espera que o notemos para nos fazer desabar aos poucos.

Para Katherine foi algo assim entre os dois; como um bater das asas de um pássaro, num segundo ele estava lá e, no outro já não. Ela previra, sabia que algum dia ele iria voar para longe, mas não o esperava tão cedo.

Sempre ouviu dizer que o que é bom dura pouco tempo, tudo tem desfecho algum dia, mas Katherine recusava-se a pensar que o fim deles estava tão próximo assim. Odiava finais e Steve sabia-o mais que ninguém. Odiava a tempestade que eles traziam consigo, odiava destruição e o abismo para onde a atiravam.

Ao vê-lo ali todas as noites quando chegava a casa, sentado na poltrona encarnada enquanto a melodia baixinha acolhia o lar, Katherine conseguia prolongar aos poucos esse fim.

Quando terminava, apercebia-se claro. Sabia que não passava de uma mera miragem, mas era assim que o podia ter para si por mais um pouquinho que fosse; queria contrariar o destino, mesmo que o preço a pagar fosse a sua mente a enganar.

Sebastian olhava-a cauteloso de todas as vezes, sabendo já a rotina da dona, mas nem por isso deixava de a acompanhar através dos vários estágios até esta se aproximar da janela lacrimejando.

Naquela noite, quando finalmente se permitiu dizer aquelas duas palavras de voz trémula e cansada, com os fragmentos de um coração partido a espalharem-se pelo chão, fora um alívio e Sebastian soube que, pelo menos aquela cena tinha chegado ao fim. Não era o fim de tudo, muito menos o princípio do fim, claro que não, esse estaria ainda para vir num futuro longínquo. Mas, talvez… talvez fosse o fim do princípio. Katherine ainda tinha um grande caminho a percorrer.

[Continuação do conto, Desvaneio]
Por: Soraia Couto (Escritora e Autora da obra “Almas Condenadas”)


Imagem Por Gustav Klimt, “Hope II [Die Hoffnung II]”

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