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A cadeira em frente está vazia
A cadeira em frente está suja
ou será a minha que está suja, empoeirada e perdida algures no tempo,

ao meu lado, uma senhora cruza as pernas e abana o pé, de quando em vez, vai-me mirando
faço de conta que não noto – eventualmente desviará o olhar – assim o fez, creio que sim.

e aí, nesse momento – entre a dúvida e o desespero, a aflição ansiosa – devolvo o mirar.
nada mais se seguirá, perdi a vontade.
às mulheres
ao jogo
ao poema, por vezes. Assim se esquece a salvação.

mas amo a vida, por aí contínuo
essa proxeneta miserável – que de nós usa e abusa.
sobretudo nos momentos de paragem -aquele badalado, entre o passado e o próximo passo dado. – mas não se deixem enganar, reconheço ao que venho e aquilo que quero adquirir – material ou não. nem sempre, por vezes, demasiadas.

Em frente, uma saia demasiado curta, pernas morenas, vestido demasiado decotado.
perdi o foco.
o poema isso me leva a entender.

mas os momentos vazios também devem ser preenchidos e transcritos.
a bem da recordação,
pois lá tornaremos.

Quem sabe, uma vez mais, ou várias.
aí já sabendo como bem agir.

e foi isto,
poucamente o foi
lamento.

a poeira primeiro tem de assentar, logo trago a vassoura.
aí sim, verão onde pode chegar uma pessoa.
talvez a tudo, talvez a nada.

que a dúvida um dia se desfaça.

Afonso Robles

Escritor

Imagem Por, Joaquín Sorolla y Bastida, “Joaquín” (Sorolla Museum)

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