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Porque importam as histórias? Porquê perder tempo a ler uma coisa fictícia? A ver um filme cheio de efeitos especiais? A remoer lendas do passado, que ainda que possam ter sido reais, já o tempo as levou?

As histórias foram desde sempre o melhor meio de transmissão de conhecimento entre gerações. O papel estraga-se ou perde-se, mas a memória não se apaga. A velha imagem da tribo reunida à volta da fogueira a contar histórias é bastante fidedigna. Temos facilidade em aprender com histórias porque são fáceis de memorizar e porque nos identificamos com as personagens da mesma. O herói que mata o dragão e salva a princesa fascina-nos porque temos em nós esse desejo de heroísmo. Também nós, na nossa vida, enfrentamos dragões e salvamos princesas, ou príncipes. A diferença é que os nossos dragões podem ser chefes rudes, e as princesas que salvamos podem ser os empregos que tanto nos dedicamos para manter. Ou o dragão pode ser simplesmente o levantar da cama num dia difícil e aquilo que precisa ser salvo é a nossa sanidade mental, o nosso relacionamento ou um projeto desafiante.

A ficção, apesar de ficar aquém da realidade, contém a essência da mesma. É a realidade desprovida dos momentos mundanos e aborrecidos. Entre o acordar e o salvar o mundo, o herói faz cocó, lava os dentes e toma banho. Ainda que pensar nisto tenha a sua graça, num filme de duas horas ou num livro de quatrocentas páginas, ninguém desejaria que metade do conteúdo fossem descrições dessas situações banais.

As histórias mostram-nos apenas os momentos em que os heróis fazem caminhadas difíceis, vivem períodos incertos, enfrentam provações e conquistam os seus objetivos. É isto que nos agarra às histórias, é isto que nos inspira. A valentia do personagem principal motiva-nos a ser valentes, a agir moralmente, a expressar quem somos, a salvar o mundo (ainda que seja apenas o nosso). É por isto que quando terminamos de ver um filme sobre um jogador de basquetebol que dominou o mundo com as suas jogadas, ficamos com muita vontade de praticar aquele desporto, ou no mínimo, ficamos motivadíssimos para ir praticar a nossa arte ou profissão, esperançosos de que nos tornemos um dia tão influentes quanto aquele herói do desporto.

Entendemos então que sejam fictícias ou não, todas as histórias falam de nós, da nossa vida. Falam das capacidades, dificuldades e medos da condição humana. Transmitem uma lição de perseverança e resiliência, mostram-nos que somos capazes de ir mais além. É por isto que as histórias importam, para nos relembrar que não somos os únicos com medo e que apesar de o sentirmos, somos capazes de enfrentar o dragão.

Além de tudo isto, ler, ouvir ou ver uma história é sempre agradável. E se é agradável, já vale a pena fazê-lo.

Por: Simão Crespo João (Apresentador do Podcast Tenho Media Pa’Isto e Criador do Enso Project – blog onde este artigo foi originalmente publicado)


Obra por Ignacio Merino, Reading Don Quixote

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