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Meu querido filho,

Nasceste no meio do caos, numa altura em que o mundo está virado do avesso. Nada vai ser como dantes, o mundo mudou, a vida mudou. O Planeta Terra mudou. Talvez, um dia, eu te possa explicar o que está o mundo a viver hoje. O medo que nos assola, a incerteza, a angústia de uma vida parada por um ser mais pequeno que tu.

Desculpa por não estar ao teu lado, nos teus primeiros momentos de vida. Desculpa por ser o pai ausente que jamais queria ter sido e me imaginava a ser, mas, neste momento, há outras pessoas que dependem de mim, como tu dependerás quando tudo isto terminar. Um dia, meu amor irei falar-te do meu lado herói. Do momento em que tive que deixar a minha família para trás para salvar vidas. É isso que muitos pais são, não é? Heróis.

Desculpa por não ter pegado em ti pela primeira vez, por não ter ouvido o teu choro pela primeira vez. Por não ter chorado como me imaginava a fazer, por não ter a oportunidade de viver um momento único: o de ser pai. Chorei, sim. Mas por ver vidas a fugirem-me por entre os dedos, pela impotência que via passar-me à frente dos olhos. Desculpa por não te poder encostar ao meu peito e envolver-te nos meus braços como tanto desejaria, mas, tudo farei para que esse momento não tarde.

Desculpa pelas vicissitudes da vida que neste momento nos obrigam a estar longe. Amo-te, meu filho. Aproveito estes pequenos momentos para ganhar fôlego, a vida é dura neste momento. Acredita, meu pequeno. Vejo te pela primeira vez através do ecrã do telemóvel, deitado no teu berço, pequeno e singelo, no seu sono profundo, ainda bem que ainda és demasiado pequeno para te aperceberes do que se passa à tua volta, porque neste momento a proximidade é-me vedada.

Estaremos juntos, meu amor. Em breve serei o pai que sempre quis e que sempre sonhaste.

Um beijo,
Do teu pai

Por Ana Ribeiro (Escritora e Autora das obras, “Diário de uma Vida”, “Um Amor Inexplicável” e “Ao Teu Lado”)

Imagem, Ford Madox Brown, “Take your Son, Sir” (Tate Britan)

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