Já sentiste que o tempo está a andar para trás? Como se tu te movesses para a frente, mas todos estivessem a andar de costas? Quanto mais ando menos saio do sítio, quanto mais te esqueço mais te quero. Quanto mais tempo passa, mais penso em ti e mais me pergunto como teria sido se tivesses ficado. O único momento em que sais da minha mente é quando eu mesma o faço, quando não estou em mim. Quartas à noite, suada, copo na mão e de repente estou livre de ti.
Quanto mais longe estamos mais te quero puxar para mim, volta e beija-me como se ninguém estivesse a ver. Vamos dançar por baixo da lua, fazer dela a nossa única espetadora. Nem tens de estar ao meu lado amanhã de manhã, ao acordar. Contento-me com virar-me para o lado e ainda sentir o teu calor corporal nos lençóis, a minha definitiva última memória de ti. Só por um momento, agarra-me e finge que sou tua, finge que queres que eu o seja. Não te peço que o sintas, peço-te que mostres o que um dia sentiste. Se já não o sentes, isso não é comigo.
Custa-me pensar que eu estou a pensar sobre ti e tu provavelmente não queres saber, já nem te lembras do meu nome. Para mim, eu e tu temos uma cicatriz igual, fomos carimbados pela presença um do outro. Queima-me o corpo como queimaste o coração, faz os meus lábios sentirem o que a minha garganta sente de cada vez que pronuncia o teu nome. Reabre de vez a cicatriz dolorosa que colocaste em mim. Arrebenta-me com a alma, leva-me até ao fundo, segura-me a mão enquanto me destróis.
Beija-me a cara enquanto me esfaqueias por trás. Dança comigo por baixo da lua, faz dela a nossa única espetadora, faz com que ela fique para sempre a perguntar-se porque nunca mais nos viu a dançar de novo.
Joana Sousa
Autora deste texto “Melodia do Nosso Adeus” e o texto “Devia Odiar-te, Mas Não Consigo“
Outros textos que podes achar interessantes são: “O Que Sobra Depois do Adeus” e “Momento de Paixão e Paraíso“
Imagem Por, Jack Vettriano, “Betrayal No Turning Back” (Instagram)
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