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Ainda me lembro de ver as barraquinhas das feiras de Natal a serem montadas, as luzes a serem penduradas e as árvores todas decoradas… e pensar – Uau, é Natal!

Ainda me lembro do que isso me fazia sentir, Natal era sinónimo de felicidade, de festas e de presentes (principalmente). O Natal era aquela altura em que podíamos ficar em casa a dormir mais um pouco enquanto a chuva caí lá fora, em que nos protegíamos do frio mundo exterior, no interior de um cobertor. Era aquela altura em que íamos ao cinema ver o filme que acabara de sair da Disney, saíamos de lá um pouco mais sábios e muito mais contentes. Fazíamos uma extensa lista de tudo o que queríamos receber e íamos deixá-la no correio para que um senhor de roupas vermelhas e barbas brancas nos realizasse os desejos.

As barraquinhas de Natal agora assustam-me e à medida que as luzes vão se erguendo pelas cidades o meu coração bate mais rápido. Já cá chegamos, já é Natal, já só temos um mês. A árvore de Natal agora não marca o início do calendário de chocolates, mas precisamente 11 meses desde que fizemos outra lista com desejos e metas para um ano que muito provavelmente nunca chegamos a cumprir. Com apenas um mês pela frente, tirando os feriados, temos coisas para pagar, prendas para comprar, leituras para fazer, jantar a que comparecer e quando damos por ela temos duas semanas para tudo isso. Desta vez a lista de desejos é ainda maior, mas nenhum Pai Natal o poderá fazer por nós, temos de aprender a presentear-nos da melhor maneira.

E quando chega ao dia, nem vou falar… talvez nos tenhamos esquecido de alguma prenda, talvez alguma não tenha chegado a tempo, talvez não tenha havido tempo ou dinheiro suficiente para tudo, os jantares não se pagam sozinhos e as leituras não se fazem sem tempo. Queremos ser perfeitos, queremos conseguir fazer tudo e não pensamos em admitir que talvez seja demais, o ano está a acabar, mas não vivemos numa corrida, haverá um ano seguinte e provavelmente uns quantos a seguir e o que não for feito hoje, poderá ser feito um dia. E agora a pensar em comida… a mesa recheada com doces, queijos e tantas outras coisas, mas e as pessoas que não têm nada na mesa? Como é que este ano me esqueci do Banco alimentar e todo o desperdício que estamos a criar? Devo comer muito para aproveitar ou tenho de ter cuidado para não engordar? É tanta coisa que mal consigo pensar, aliás, não faço nada mais do que pensar. O Natal é família, mas se há roupa velha, também há quem queira lavar a roupa suja à mesa. Os jogos nem sempre se limitam a jogos de dados e brincadeiras, às vezes parece que é tudo um jogo, um jogo que já nem tento ganhar, só não perder.

Mas ei, é Natal! É suposto termos um sorriso na cara, estamos felizes e rodeados de coisas boas. Rodeada eu estou, mas é de tanta coisa que nem sei para onde ir e nem sei o que dizer porque é Natal e é suposto estar feliz!

Vitória Ferreira

Autora e escritora dos textos “Dois Caminhos Para o Mesmo Destino” “Poema ao Espelho“, “Palavras… Que Palavra Mais Peculiar” e outros textos.

Imagem Por, Alphonse Mucha, “Christmas in America

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