Quando não consigo dormir, penso em ti. Estranho, visto que tenho altas suspeitas de que és o responsável pelas minhas insónias. Ainda assim, não consigo evitá-lo. Não consigo evitar a busca pela tua voz calmante, a tagarelar pensamentos leves sobre mim no meu ouvido; pelo teu toque suave, o braço pacificador na minha cintura e o carinho no nariz, para me ajudar a adormecer. Não consigo parar de buscar pelo teu abraço nos meus sonhos. Tenho este sonho recorrente em que tu me abraças, e desapareces como brisa em poeira, deixando-me avidamente à tua procura. Choro, mas há em mim uma seriedade, como a de quem está de luto por algo que já sabia que iria perder.
É doloroso, sabes? Sofrer por algo que sabias desde o início que seria momentâneo. Disse-me a mim mesma para ter cuidado, convenci-me dos perigos que continhas e mantive 6 passos de distância de ti em todos os momentos. Mas esses 6 passos transformaram-se em 5, que se transformaram em 3, que passaram para 2 e que se tornaram nos meus lábios colados aos teus, eu a sentir finalmente o teu sabor. Convenceste-me de que todo aquele cuidado não era necessário e eu baixei a minha cortina de ferro para te ver com mais clareza, não me apercebendo que a única coisa que ela tapava era eu. Acabaste por ver por mim, eu transparente e clara como água, ali, toda entregue a ti. Por uns momentos, acreditei mesmo que fosses ficar para sempre… o famoso para sempre, que num piscar de olhos se transforma em mais um bocadinho.
Vivo em constante medo de acordar um dia e esse sonho trespassar para a realidade. Vivo em constante terror de um dia acordar e querer abraçar-te e tu te transformares em poeira nos meus braços. E nas noites passadas, separados neste momento complicado, cada um no seu canto… espero que também busques pela minha voz, a dizer-te coisas bonitas ao ouvido; o meu toque, eu a mexer-te no cabelo e o meu indicador a contornar a tua face. Espero que sonhes comigo e que eu não me transforme em poeira.
Espero que, quando acorde amanhã, tu ainda estejas aqui; espero ver-te, ouvir-te, sentir-te; espero estar agarrada a ti e espero que não te tornes em poeira, levada pela brisa. Espero que o nosso para sempre, ainda dure mais um bocadinho.
Imagem Por, John Everett Millais, “A Huguenot”
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