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A nossa saúde, seja física ou mental, é o que promove o equilíbrio necessário ao nosso dia a-dia. As nossas emoções têm um papel fulcral na boa manutenção da nossa saúde. Estas, para além de se manifestarem na forma como nos sentimos e nos posicionamos perante o mundo, e na forma como a nossa personalidade se constrói, acabam por ter uma função social, e são, também, mecanismos de defesa e de proteção.

As emoções são impulsos neurais que nos movem para determinada ação. São fenómenos cerebrais automáticos, resultantes da atividade do Sistema Nervoso Autónomo, como uma resposta que pode, ou não, ser visível, e que é fruto de um estímulo interno ou externo. Quando sentimos uma emoção, o nosso corpo reage e responde de determinada forma, mediante a emoção que surge e a intensidade da mesma. As emoções surgem, frequentemente, com alguns rótulos. São boas ou más, polarizadas como positivas ou negativas. Hoje, felizmente, sabemos, cada vez mais, que todas as emoções são fundamentais para o nosso bom funcionamento, independentemente de as sentirmos como mais agradáveis ou mais desagradáveis. Todas elas são úteis e adaptativas, se tivermos em consideração o contexto em que ocorrem, a sua frequência, duração e intensidade. Emoções como a tristeza, o medo ou a raiva, ainda que sejam quase o “parente pobre” do nosso dicionário emocional, são igualmente válidas e importantes, ajudam a adaptarmo-nos a diversas situações, e até a dar-lhes um determinado significado.

As emoções consideradas básicas ou primárias são: alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa e nojo. São consideradas universais e inatas na sua expressão, uma vez que a capacidade de as expressarmos nasce connosco e a sua expressão acaba por ser bastante semelhante entre todas as pessoas. Desde muito cedo que são experienciadas e transmitidas aos outros.

Relativamente à tristeza, sabemos que é uma emoção de que, tendencialmente, não gostamos, uma vez que lhe costuma ser dada uma valência desagradável. Não raramente, lutamos um pouco contra a sua existência, já que a sociedade tende a não reforçar esta emoção. Sentimo-la em contextos em que experienciamos algum tipo de perda, rejeição, abandono, separação, desilusão, trauma etc. É uma emoção que está, com frequência, associada a sensações de angústia e desesperança. Faz-nos sentir vulneráveis – e todos sabemos que isso é difícil – ainda que, nestes momentos, a reação emocional da tristeza e a sensação de infelicidade sejam completamente normais e adaptativas, sendo que são limitadas no tempo.

Por vezes não estamos preparados para lidar com a tristeza sentida, ou para a aceitar, e caímos no erro comum de a reprimir e de a evitar o máximo que conseguirmos. Sentimo nos desconfortáveis e tentamos desligar-nos dessas sensações, “correndo” para soluções que funcionam quase como “pensos rápidos” de bem-estar. Esta repressão, ou “desligamento” destas emoções (com o objetivo de nos defendermos do mal-estar) poderá, a médio/longo-prazo conduzir ao aparecimento de algumas doenças de foro físico ou psíquico – como a depressão. Na origem da depressão, para além do descrito, poderão estar outros fatores como: outras doenças de natureza física ou mental, experiências adversas na infância, acontecimentos traumáticos que ocorreram ao longo da vida da pessoa, consumo de substâncias como medicamentos, álcool ou drogas, entre outros.

A depressão é uma doença mental que pode, e deve, ser cada vez menos estigmatizada e mais conversada. Estar triste não significa que se esteja deprimido. Contudo, se a tristeza se prolongar no tempo e interferir continuada e significativamente na nossa vida, é possível que estejamos perante um quadro clínico de depressão. É um dos problemas de saúde mental mais comum e, existindo, afeta-nos em diversas áreas da nossa vida. Pode afetar-nos nas atividades diárias, no nosso relacionamento com os outros, e pode provocar, também, diversos problemas que afetam a nossa saúde física. Caracteriza-se, maioritariamente, por um recorrente ou continuado estado de humor abatido (ou irritável), ação inibida, pensamentos negativos e ritmos alterados. A intensidade dos seus sintomas pode variar entre o ligeiro e o severo, sendo que, nos casos mais graves, pode haver risco elevado, na medida em que podem estar presentes ideias de suicídio e comportamentos auto-lesivos.

Há, na depressão, determinados sinais e sintomas que poderão ser alguns sinais de alerta, aos quais devemos estar atentos:

  • Sensação continuada de tristeza, desespero ou vazio (por vezes, choro fácil);
  • Tendência para nos isolarmos dos outros;
  • Dificuldades de concentração e de tomada de decisões;
  • Pensamentos negativos associados a crenças de autodesvalorização, culpabilidade e desesperança;
  • Ausência de vontade/iniciativa para fazer atividades que nos dão sensação de prazer/bem-estar;
  • Dificuldades no sono: não conseguir dormir ou dormir demasiado;
  • Alterações no apetite: perdê-lo ou sentir necessidade de comer em demasia;
  • Ausência de energia, de libido e uma apatia generalizada;
  • Maior tendência para um aumento de consumo de substâncias como tabaco, álcool ou drogas.

É importante perceber se existe algum fator desencadeante ou se, pelo contrário, não é encontrado qualquer motivo para que a pessoa se sinta desta forma. O facto de não se encontrar, à partida, um motivo aparente, não significa que este não exista.

Contrariamente ao que, muitas vezes, se diz no senso comum, a depressão não é uma “fita” e, infelizmente, não se resolve com “Tens é de pensar positivo!”. Porém, existem alguns comportamentos que, no fundo, são os pilares para uma boa saúde mental, e que podem levar à diminuição dos sintomas depressivos. Alguns exemplos poderão ser: a prática regular de exercício físico, uma alimentação saudável e equilibrada, uma boa higiene do sono, um convívio social regular com pessoas que lhe façam bem, a estruturação do seu dia com rotinas que incluam atividades prazerosas, um aumento de exposição à luz solar (que fomenta a produção da vitamina D e, consequentemente, da serotonina – “a hormona da felicidade”).

Ainda assim, será sempre importante ressalvar que não devem ser realizados “auto diagnósticos” e que a própria gravidade dos sintomas deverá ser avaliada mediante a sua intensidade, frequência e duração. Será essencial, então, que, na presença de algum destes sintomas, seja procurada uma ajuda especializada que será dada por um profissional de saúde qualificado. Existem tratamentos eficazes para a depressão, e a própria intervenção deverá ser sempre adaptada a cada caso específico.

Em suma, e no que diz respeito às nossas emoções, sugiro que tenhamos abertura para as “acarinharmos”, independentemente da emoção que bata à nossa porta. A forma como as vamos decifrando no nosso sentir, irá permitir que percebamos melhor a forma como pensamos e, também, a forma como nos comportamos. Quando aceitamos aquilo que sentimos, estamos num caminho gerador de saúde física e psicológica, estamos num caminho de autoconhecimento, questionamento e posterior tomada de decisão para mudanças conscientes e promotoras de um maior bem-estar.

Por: Joana Gonçalves (Psicóloga Clínica e da Saúde)


Obra por Jan Matejko, “Stańczyk

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