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(Mulher caminhando pelo palco, parando uma e outra vez e sentindo os cheiros próprios do espaço. Um foco de luz, percorre todo o caminho feito pela personagem.)

― Tantos palcos já atravessei, para hoje chegar aqui. (Inspirando) A que cheira o palco? Cheira a ocre, cheira a madeiras, cheira a panos e cenários guardados. Cheira a vida… a tantas vidas!

O palco chama-nos. Quem vem uma primeira vez, volta sempre uma vez mais, nem que seja em sonhos.

Sempre que regressamos damos vida e corpo a uma personagem que está adormecida… vestimos a sua alma, aprendemos a andar, a falar, tal qual se tratasse de um começo.

Aos poucos a personagem ganha forma, carácter e personalidade própria… Quantas vezes enfrentamos papéis que nunca pensamos fazer… quantas vezes damos “vida” a alguém que nada tem a ver connosco… Estudamos os seus passos, as suas atitudes e poses, vestimos as suas roupas, mas… no fim, é o nosso corpo está lá! Sempre! Em cada uma das pessoas representadas, está sempre um pouco de nós!

E quando o pano cai, tu limpas a maquilhagem, despes as roupas, mas por vezes ela insiste em ir contigo, mesmo para lá do camarim, mesmo depois da porta do Teatro se fechar…

Calcorreia as ruas por onde caminhas, acompanha a tua sombra e quer fazer parte de ti!

Mas tu, és mais forte, mais valente e aos poucos despegas-te dela e voltas a ti própria! Para mais uma vez vestires uma e outra personagem… sempre sabendo de antemão que contigo irá sempre um fio de cada uma delas.

E os anos passam, vestes e despes roupas, usas cabeleiras, maquilhagens e calças tantas vezes os sapatos dos outros… mas nunca, nunca perdes o norte de ti mesmo!

Um dia, quando a tua passagem for apenas uma memória, no palco vai sempre estar uma sombra tua, nas coxias a tua voz vai sussurrar os textos antes decorados e no camarim, em frente ao espelho vai sempre estar a tua alma, ajudando outros a sorrirem, mesmo quando uma lágrima teima em correr pelo rosto.

Essa é a magia do teatro.

Sandra Monteiro

Autora e Escritora dos textos “Prelúdio de uma Chamada“, “A Solidão de Nevena”, “Calcei os teus sapatos“, “Chapéu de Chuva“, “Receita de um Natal“ e “Ode aos Gatos

Imagem Por, Edward Hopper, “Two Comedians”

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