O sol aquece a janela e
suavemente o gato percorre a casa.
Observa cada recanto
como se todos fossem sua propriedade…
Lânguido, mas decidido, lá vai ele
pata ante pata, deitar-se exatamente
onde os raios de sol vêm pousar.
Trata-se de um ritual de beleza,
de beleza interior, pois nesta ação
o gato guarda todas as energias,
para mais tarde as gozar em tropelias…
Imerge no mais profundo sono,
mas quando os bigodes dão fé,
um olho se abre para indagar
a presença do seu humano.
Aí, num sentido de ioga gatês,
levanta-se, preguiça e estende
todos os músculos do seu corpo
e brinda-nos com uma turriçe1Derivação da palavra turra, que se refere as cabeçadas que os gatos costumam dar.}…
Mas não há cá turriçes sem
piteusices2Derivação da palavra piteus ou guloseimas.… pois, claro!
Miado daqui, miado dali,
entrelaçando o corpo nas pernas
do humano que finge ignorá-lo…
Como as suas pretensões não são
atendidas, as intenções proclamadas,
intensificam-se…
O seu miar torna-se mais audível e
quando nem isso resulta,
pula elegantemente chamando a
atenção do seu humano.
Ah, finalmente obtém o seu objetivo,
comida. O seu humano é generoso.
Em agradecimento, depois da barriga cheia,
salta para o seu colo, dando turras e
ronronando docilmente.
No fim de cada dia, o gato tem
o seu momento de ginasticar o corpo.
Corre, esconde-se debaixo dos móveis,
para logo a seguir disparar
em grande velocidade da sala para o corredor.
Olhos dilatados, rabo em chicote,
orelhas em riste, assim é gato na
versão diversão…
Alguns costumam vadiar deixando
o coração dos seus humanos em transe.
A espera termina quando sua excelência
gatice regressa ao lar,
presenteando quem o espera com
uma espécie animal, deixando
todos em plena loucura.
Nunca se pense que conhecemos os gatos.
Por trás do seu olhar profundo
muitos mistérios se encontram por revelar.
Nos seus sonhos por onde viajarão?
Terão desejos que quererão concretizar?
As suas sete vidas serão mais?
Cada gato é único,
acredito que sente cada momento
como se fosse o último…
Por isso, vive pacificamente,
mas com alguns momentos de pura traquinice.
Só assim, a sua vida faz sentido.
Ser gato é ser livre,
é ser um pequeno diabo sem ter cauda,
é ser anjo mesmo sem ter asas…
é ser ele próprio respeitando as suas regras.
O gato vive num mundo de loucos,
onde ele é o sábio, o absoluto.
Viva o gato!
Autora e escritora de outros textos como “Prelúdio de uma Chamada“, “A Solidão de Nevena”, “Calcei os teus sapatos“, “Chapéu de Chuva“ e “Receita de um Natal“
Notas de rodapé[+]
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