O inverno já se faz sentir, apesar do frio, lá fora o sol brilha. E no bengaleiro sofre abandonado o chapéu de chuva. Que triste sina a sua, ele que tanto gosta de sair e ver as suas amigas nuvens cinzas. E em segredinhos lhes sussurrar “Vá está na hora, é agora. Se não vou novamente para o armário…” diz ele ansioso para as amigas.
Quando de repente o vento sopra e o dia se torna melodramático, o chapéu não cabe em si de contente, pois sabe que vai sair à rua. As gotículas são mil e uma, elas caem copiosamente sobre si e ele, sorri, sorri desmesuradamente. Quando na mão de uma criança ela brinca e roda-o, apesar das tonturas é deveras feliz! As suas cores do arco-íris respingam gotas, morrinhas por todo o lado e deixam um aroma a terra molhada pelos jardins e ruas.
Mas o chapéu de chuva também se zanga, principalmente nos dias de ventania em que o sibilo do Sr. Vento o deixa desnorteado. Nessas alturas reclama, vocifera “Ó Senhor vento, que tonteria é esta? Ai que me viro do avesso!”
Quando o inverno aperta e a chuva dá lugar aos dias gelados e de muita neve, o chapéu de chuva fica muito cabisbaixo e pensativo, olha pela janela e nos seus pensamentos conta os dias até que volta a sair à rua.
E assim lentamente vai passando o inverno, por entre frio, chuva, árvores despidas e sentimentos melancólicos, para que uma vez mais a natureza desperte no seu mais belo esplendor e se cubra de uma vida que estava até então adormecida.
Autora e escritora de outros textos como “Prelúdio de uma Chamada“, “A Solidão de Nevena” e “Calcei os teus sapatos“
Imagem Por, Gustave Caillebotte, “Paris Street; Rainy Day [Rue de Paris, temps de pluie]” (Art Institute of Chicago)
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