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Já passava da meia-noite, noite fria para um pouco sombrio. Eu estava esperando sua chegada, parecia ridículo, esperando por alguém que nem podíamos admitir que seria a nossa coisa. Não é que eu possa-me referir a um sentimento correspondido. Eu devo ter uma cara tola, para fazer esperas como se eu fosse um detetive particular, mas eu posso fazê-lo, se o fruto proibido é o mais apetecido. Na verdade, não sei muito sobre a sua privacidade, só que desde o dia em que a conheci, não saiu mais da minha cabeça. Uma discoteca, não é um lugar generoso para conhecer ninguém. Foi sua escolha, e não sou ninguém para julgar isso. Acabei de vê-la e não pude resistir mais. Sua pele morena e sedosa. Seus olhos pretos e selvagens. Seu cabelo escuro, rebelde. Eu acho, que deixa quem lá passa, radiante. E não sou exclusivo, por mais que isso incomode. Queria ter a coragem de falar-lhe, o que há muito tenho por dizer. Mas quanto mais tempo passa, mais me sinto impotente para o fazer. Sinto-me um verdadeiro cobarde. Reparei que os nossos olhos cruzaram-se várias vezes.

Não posso ser iludido, pode ser o meu coração a falar mais alto do que a verdadeira razão. Pergunto-me, será hoje? Que vou ter a coragem e dizer-te…

Ao fundo, vi uma sombra de alguém que pensaria ser ela, mas com o nevoeiro, a minha visão estava desfocada, ficarei cego. Cada vez mais, este alguém aproxima-se do meu carro, que está estacionado do lado do parque de estacionamento. De facto… Já estou envergonhado, já reparou que lhe observo há dias? Que momento desconfortável quando tudo vem à mente. Estou a ficar frio, fechei os olhos para tentar abstrair-me desse desejo, e respirei fundo.

Truz, truz. Congelei completamente, alguém da parte de fora… Abri os olhos, baixei o vidro, e uma elegância de voz disse-me:

“Sei que és o anjo que me vai salvar hoje e dar boleia para casa. Tem sido muita dor e horas, servindo bêbados e aberrações. Deves, devido ao teu comportamento tão atento e sem protestos, ser a única pessoa diferente.”

Estou sem reação, ela fala comigo como se nos conhecêssemos e eu não sei o que dizer… nada me sai, que estúpido!

“Não precisas de falar, eu compreendo a tua posição, para ti não é fácil passam-te mil e uma coisas na cabeça. E, na verdade, sou um simples ser humano que tenta sobreviver.” Pus o carro a trabalhar, mesmo sem norte ou desnorteado. Tinha a minha frente, a oportunidade que sempre quis. Falo?

“Leva-me ao sul do posto em frente à rodoviária.”

Liliana Costa

Escritora

Imagem Por, Roy Lichtenstein, “In the Car” (Scottish National Gallery of Modern Art)

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