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Qualquer decisão na vida é sinónimo de uma coragem que se faz necessária. Quando o assunto é a escolha de uma profissão que se deseja levar pela vida fora e que, na mesma medida, garanta a realização pessoal e profissional, percebe-se que além da coragem para decidir, é também necessária a criação de um método diferenciador que permita estabelecer um plano de ação consistente e congruente com os objetivos estabelecidos na vida.

A fase da adolescência é considerada uma das mais desafiantes. Desde as mudanças físicas emergentes, o despertar do sistema endócrino e a consequente revolução hormonal, o adolescente tende a sentir-se perdido entre o limiar da infância e o vislumbre da vida adulta. A par de tantos desafios, é precisamente nesse momento que o adolescente é confrontado com a necessidade de decidir qual a área profissional que melhor se ajusta aos seus interesses atuais e futuros.

Nunca será de mais frisar a importância do processo de Orientação Vocacional na vida do adolescente que, além do contexto escolar, enfrenta uma série de desafios a nível do desenvolvimento emocional e pessoal.

A Orientação Vocacional é uma das modalidades de intervenção da Psicologia Educacional e tem como grande objetivo o desenvolvimento do conhecimento pessoal e profissional do aluno considerando, entre vários fatores, as suas capacidades e aptidões, as preferências e interesses, valores e aspirações futuras. A avaliação das diferentes opções escolares, escolas, cursos e profissões são alguns dos passos contemplados neste processo de decisão. Disponibilizar ao aluno um conjunto de procedimentos que o conduzam a um conhecimento de si próprio mais profundo e consciente, é um dos maiores objetivos abraçados pela Orientação Vocacional.

A aplicação dos testes destinados à avaliação dos interesses profissionais é determinante ao longo do processo, contudo, é necessário repetir o quanto o desenvolvimento pessoal se assume de acrescida relevância. Escolher uma profissão é muito mais do que refletir sobre as características de uma determinada profissão, quais as atividades presentes, que tipo de habilitações são necessárias e que futuro, como se pudéssemos adivinhar, trará ao aluno. Uma escolha vocacional deve incluir, em primeiro lugar, o aluno enquanto ser individual que se conhece e que tem consciência das suas potencialidades. Trata-se de um caminho de autoconhecimento que integra conceitos tão importantes como a consciência de si mesmo, dos outros, o desenvolvimento da empatia e a relação com o meio. Desenham-se assim os pilares necessários para que, dessa forma, uma escolha vocacional seja menos a definição de uma profissão e mais a certeza de uma jornada que deve ser vivida de forma gradual e crescente. Adiantará ao aluno com excelente desempenho escolar optar por Medicina se, no seu íntimo, assume a Música como o seu grande talento? Este é um exemplo que serve, sobretudo, para vislumbrar que nem sempre o desempenho escolar tem de estar associado a uma determinada área específica.

De forma a facilitar uma escolha mais consciente, segue-se um conjunto de questões orientadoras neste processo. É importante refletir sobre as mesmas em contexto familiar ou na presença de uma referência significativa para o adolescente, de forma a garantir um apoio mais robusto.

  • Quem sou eu?
  • Quais as atividades que mais me agradam/desagradam?
  • O que aprendo com mais facilidade?
  • Quais são os meus interesses?
  • Qual o meu papel na escola?
  • Que curso posso escolher?
  • Como posso conhecer as profissões?

Para que seja eficaz, o processo de Orientação Vocacional contempla, além da administração de provas específicas, uma análise individual de cada aluno, bem como a análise e estudo dos principais interesses destacados. É através do estudo, em conjunto com o psicólogo responsável, que mais facilmente o aluno poderá integrar a sua esfera individual, social e profissional. É com base num enquadramento consciente destes três alicerces que se sentirá preparado para decidir a sua área profissional.

Apesar deste processo ser mais reconhecido no 9ºano de escolaridade, os estudos têm vindo a demonstrar a sua relevância em anos escolares precedentes, especificamente, no 7º ano de escolaridade. O facto de o aluno ser sensibilizado para a importância de uma boa decisão profissional desde cedo, amplia a consciência do seu impacto a longo prazo. Assim, sistemas de ensino que adotem a Orientação Vocacional no 7º, 9º e 12º anos de escolaridade, contribuem para um autoconhecimento mais aprofundado, bem como um historial que permitirá aos jovens uma análise mais completa dos seus interesses e a variância que estes podem representar naquele hiato de tempo.

Decisões conscientes traduzem-se em profissionais mais seguros. Decisões que integram o desenvolvimento pessoal, a empatia e a inteligência emocional, espelham profissionais resilientes, que reconhecem a adversidade como fonte contínua de aprendizagem.

A Orientação Vocacional é o primeiro passo ao encontro de uma decisão que se prolonga no tempo e se solidifica na certeza de que, para ser eficaz, jamais poderá ser tida em conta como um aspeto pontual e linear na vida do aluno, mas, antes, sob a perspetiva de constantes ajustes que o aproximam às suas reais expectativas profissionais.

Por: Denise C. Rolo (Psicóloga Educacional)


Obra por Jean-Baptiste-Siméon Chardin, “The Attributes of the Arts and the Rewards Which Are Accorded Them

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