Como é possível? Hoje bastou olhar para trás para te rever de relance, bastou-me menos de um segundo para perceber e acreditar que eras tu. Corri para ter a certeza, quando te vi, parei, não me permiti a correr mais, a chegar mais perto.
— Olha esta perdeu o combustível. — Ouvi dizerem.
Soltei uma gargalhada. Realmente deve ter tido um sentido peculiar visto de fora, aquela que corria tão determinada de repente congelou. Ainda fiquei parada uns segundos a sorrir pela tua presença e pela piada do lado. Vestias uma camisola de um amarelo pálido às riscas pretas e calças de ganga cinzentas. Levavas os teus típicos óculos de sol, um saco azul na mão esquerda e na direita, folhas, suponho que fossem partituras.
Continuei a andar, calmamente, tentando manter-te ao meu alcance. Estivemos tão perto e tão longe, fomos e não fomos pelo mesmo lado, perdi-te. Quando fiz um esforço para te reencontrar, encontrei outra pessoa. Ele trazia aquela bonita camisola azul turquesa, azuis são também os seus olhos. Temo-nos cruzado todos os dias como por magia.
“— Quando duas pessoas pensam muito uma na outra elas se esbarram.” — diz a Juliana.
Levaste-me até ele, outra vez. Mas mais uma vez não tive coragem de gritar o seu nome ou qualquer coisa que marcasse presença.
— Ei! Estou aqui! Olá. Como estás? Se não nos víssemos hoje até ficava admirada.
Nada, baixei a cabeça, desviei o olhar, fingi, fingi que não o estava a ver, não disse absolutamente nada… arrependo-me um pouco, mas se tivesse dito algo em ambas as situações o que será que acontecia? Acho que para a segunda existir nunca poderia ter dito algo na primeira… agora já não há nada a fazer, nunca saberei. Fico triste ao pensar nisto e por não te ter abraçado. Bastava só mais um bocadinho de coragem… correr e chegar perto.
Imagem Por, Louis-Jean-François Lagrenée, “Pygmalion and his statue [Pygmalion med sin staty]” (Sinebrychoff Art Museum)
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