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A Psicoterapia consiste num conjunto de técnicas não medicamentosas assentes em conhecimento científico do funcionamento psicológico, tomando como objeto de estudo e intervenção o comportamento humano, bem como os processos mentais subjacentes ao mesmo. Esta tem como intuito alcançar mudanças que visem o bem-estar e equilíbrio psicológico de quem a procura.

A relação estabelecida em Psicoterapia entre psicoterapeuta e cliente difere de outras relações, visto que se trata de uma relação formal, temporalmente limitada que decorre em espaços combinados e se centra na problemática apresentada no cliente, sendo por isso uma relação unilateral. Ao longo do século XX, mediante a necessidade de encontrar respostas válidas para as perturbações e processos mentais do comportamento humano, desenvolveram-se vários tipos de correntes em psicoterapia.

Psicoterapia Existencial

Esta é uma abordagem psicoterapêutica, fundamentada em princípios fenomenológicos-existenciais que visa promover o encontro da pessoa com a sua própria existência, facilitando uma postura mais autêntica em relação a si mesma. Neste processo psicoterapêutico são definidos os objetivos da intervenção que deverão fomentar a capacidade da pessoa em lidar com a angústia existencial, quer esta se relacione com aspetos cognitivos, emocionais ou de comportamento.

Os pressupostos na base desta abordagem são os de que os seres humanos têm necessidade de construir significado sobre a sua existência, sendo o confronto com estes dados uma parte intrínseca de um projeto de vida; e de que as pessoas têm a capacidade de escolher livremente e assumir responsabilidade pelo seu projeto existencial. Nesta corrente, a experiência é descrita através de autorrelatos tal como é perspetivada pelo indivíduo, de modo subjetivo e único, permitindo identificar os significados para o mesmo. Desta forma, os seres humanos são livres e independentes, com enorme potencial para o desenvolvimento pessoal.

Psicoterapia Cognitivo-Comportamental

A Psicoterapia Cognitivo-Comportamental é uma abordagem psicoterapêutica baseada no modelo que teoriza que os nossos pensamentos, emoções e comportamentos estão interligados e se influenciam. As emoções e os processos interpessoais afetam as cognições tal como as cognições afetam os processos emocionais e interpessoais. Através desta abordagem, o terapeuta e cliente trabalham em conjunto para identificar quais os pensamentos, emoções e comportamentos que se encontram presentes em situações que causam sofrimento ao mesmo, de forma a que com a sua transformação os clientes atinjam o bem-estar e equilíbrio psíquico.

Aqui o foco consiste em capacitar o cliente em conceber soluções mais adaptativas do que a sua forma habitual para os problemas que encontra. Desta forma, o terapeuta é participante ativo e educa o cliente acerca da sua perturbação e/ou problemática e das diversas técnicas utilizadas para a superação da mesma. A intervenção na psicoterapia cognitivo-comportamental visa então ajudar os clientes a tomar consciência dos seus processos cognitivos disfuncionais e ensiná-los a detetar, monitorar e interromper tais ciclos de forma a que consigam produzir respostas mais adaptativas. Por outro lado, o cliente é também instruído a identificar situações de risco futuras e a preparar-se para lidar com o fracasso caso ocorra.

Psicoterapia Psicodinâmica

E por fim temos a Psicoterapia Psicodinâmica, que tem uma ligação umbilical à psicanálise, temos aqui presente o foco na evocação do afeto, o trazer à consciência sentimentos perturbadores e na integração de dificuldades quotidianas com experiências de vida anteriores, utilizando, para isso, a relação terapeuta-paciente como agente de mudança 1As características singulares que a caracterizam assentam no ênfase na vida mental inconsciente, a exploração da contratransferência como uma ferramenta terapêutica importante, atenção … Ler mais. São aqui avaliadas as motivações do cliente e o seu nível de insight para compreender a relação entre angústias e conflitos intrapsíquicos, sendo que o pressuposto fundamental é que os acontecimentos de infância moldam a pessoa quando adulta e, neste sentido, os padrões repetitivos de interações problemáticas estabelecidos com outros têm origem em assuntos intrapsíquicos interiorizados durante a infância.

Relação Terapêutica

A relação terapêutica estabelecida em psicoterapia proporciona um lugar seguro aos clientes, oferecendo-lhes a experiência de serem aceites, compreendidos e acolhidos sem julgamentos. Trata-se de uma relação afetiva, enquanto o conhecimento progressivo do outro e da sua história, das suas dificuldades e das suas vitórias desencadeia no terapeuta afeto, envolto de sentimentos de cuidado, compaixão e compreensão que irão acompanhar o percurso em conjunto com o cliente. Este vínculo, facilitador de mudança psicológica, demonstra-se como mais importante do que a abordagem psicoterapêutica do terapeuta, contribuindo para um crescimento e bem-estar psíquico.

Aquilo que é terapêutico na psicoterapia é a comunicação e é nela que se implementam as técnicas e que se reflete a relação terapêutica.”

Por: Sara Valadares (Psicóloga Clínica e da Saúde)


Obra por Salvador Dali, The Persistence of Memory

Notas de rodapé

Notas de rodapé
1 As características singulares que a caracterizam assentam no ênfase na vida mental inconsciente, a exploração da contratransferência como uma ferramenta terapêutica importante, atenção constante em temas transferenciais e assuntos desenvolvimentais, assim como o trabalho sobre a resistência, defesa e conflito.

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