O Brainspotting é uma ferramenta terapêutica relativamente recente, criada por David Grand, em 2003. Na sua prática clínica de terapia EMDR, David descobriu pontos oculares de reprocessamento de memórias/eventos traumáticos, os brainspots. Esta é uma terapia de 3.ª geração, que parte do Mindfulness, aqui a consciência emerge ao prestar atenção particular, propositada e sem julgamento1Jon Kabat-Zinn,1994.
Na sua aplicação, o paciente traz o tema/dificuldade à sessão, e o terapeuta rastreia, no campo visual do paciente, os pontos oculares (brainspots) de maior e menor ativação, relativamente ao tema em tratamento. Este ponto ocular representa o lugar no cérebro onde o trauma/evento perturbador está alojado, daí a ideia de David Grand de que “onde tu olhas, afeta o que sentes”2“Where you look, it affects what you feel”.
Desta forma, o terapeuta ajuda o paciente a aceder aos traumas ou memórias não processadas no cérebro subcortical (cérebro mais emocional e primitivo), e, posteriormente, reprocessa toda a carga ali bloqueada, i.e., emoções, imagens, pensamentos e sensações. Depois deste reprocessamento o paciente obtém uma nova forma de olhar para o passado, permitindo-lhe viver o presente livre das suas vivências anteriores. Tudo isto faz com que o brainspotting seja uma técnica com impacto neuropsicofisiológico (que trabalha o cérebro, corpo e mente com a finalidade da cura).
Nesta terapia, o papel do psicólogo é o de ser a cauda do cometa, seguindo o paciente na sua trajetória e guiando-o no seu processo de tratamento – sendo que o corpo e o cérebro do paciente farão a maioria do trabalho. Podemos então ver o brainspotting como um instrumento/tratamento que possui consequências psicológicas, emocionais e físicas, onde a relação terapêutica é a chave da terapia; sendo fulcral a sintonia dual paciente-terapeuta – o olhar atento do terapeuta e a sintonia do seu sistema límbico com o do paciente são a porta de entrada para o tratamento.
Grand destacou a técnica como algo revolucionário devido a sua rápida eficácia ao longo das sessões (geralmente os benefícios e mudanças podem até ser visíveis na primeira sessão) e pela compatibilidade com todos os outros modelos de psicoterapia. Esta técnica atua tanto ao nível da perturbação como da instalação de recursos positivos para que o paciente possa fazer uso delas no seu dia a dia após a sessão; adicionalmente, não é necessário que o paciente fale do seu problema, permitindo assim que espaço do mesmo possa ser respeitado de uma forma construtiva e segura.
Podendo ser utilizada, em bebés até adultos, para o tratamento de ansiedade, fobias, pânico, depressão, trauma físico/emocional, desmotivação/baixa autoestima, problemas de desempenho sexual, problemas de relacionamento, fibromialgia/outras condições de dor crónica e otimização do desempenho profissional/académico/desportivo, etc. Embora alguns estudos de neurofisiologia tenham demonstrado como o Brainspotting funciona no cérebro, nomeadamente o neurocientista de renome Damir Del Monte, a investigação científica ainda se encontra em curso. Atualmente existem no mundo mais de 9.000 terapeutas de Brainspotting e menos de 70 em Portugal. E quanto a Portugal, foi em 2010 criada pela Dra. Margarida Couto, a Associação Portuguesa de Brainspotting – sendo esta a primeira associação de brainspotting no mundo.
Imagem Por, Ernst Ludwig Kirchner, “Lovers in the bibliothek [Paar in der Bibliothek]” (Kirchner Museum Davos)
Notas de rodapé[+]
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