Corri o mundo de pernas cambaleantes e de alma nómada e vazia.
Conheci rostos e vozes, pessoas boas e más, sanas e loucas, fortes e fracas.
Estive em lugares grandes e pequenos, em cidades modernas e antigas, povoadas e desertas. Fui testemunha de atrocidades e de gestos lindos; soube de mortes devastadoras e de nascimentos milagrosos: vi alegria e tristeza, luz e escuridão. Vi vidas mudarem.
Tive experiências para esquecer, outras memoráveis; umas que me marcaram, outras que se perderam na minha memória falível.
Mas prendi-me à tendência para o desprendimento. A minha única constante foi a instabilidade. Mergulhei na indiferença e na efemeridade daquilo que me rodeava durante o que me pareceu uma eternidade, porque de cada vez que me lembrava do quão gigante o universo era em comparação com a minha inútil pessoa, uma tristeza profunda avassalava-me. E esse era o único sentimento que realmente me conseguia manter acordada de noite.
Até que por fim, no meio do meu desespero por algo que me lembrasse de casa, algo que me trouxesse conforto, algo que me suscitasse um sentimento quente… Encontrei-te a ti.
Foste o melhor dos acasos. Um simples coração que se uniu ao meu de uma forma tão macia e doce, como mais nenhum tinha antes feito. Não foste uma experiência nem uma memória, nem te associo a um lugar que visitei ou a um rosto que vi: foste a parte de mim que eu encontrei após a procura incessante, a impaciência, o desconcerto e a saudade dolorosa de algo que não conseguia descrever.
E depois de ter corrido o mundo uma vez, voltei a fazê-lo, gozando a jornada, de pernas fortes e alma inchada, de braço dado e sorriso nos lábios… e continuámos a ser seres inúteis, cuja vida não tem significado, mas fomo-lo juntos, e sempre com a consciência de que um dia voltaríamos para casa.
Por: Diana Lopes (Escritora e Criadora de Conteúdo)
Imagem Por, Francesco Hayez, “The Kiss [El Beso]“
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