És uma de coleção de aromas, sabes?
Cheirei-te ao acordar quando abri a janela daquele que, outrora, foi o nosso quarto, para que o sol pudesse beijar-me o corpo seminu.
Cheiravas a primavera e a flores do campo e os teus beijos eram uma sinfonia para todos os meus sentidos. Deixei o sol entrar e fiquei a olhar a paisagem que se desenhava à minha frente, tinha a tua cor: o verde dos teus olhos, o vermelho dos teus lábios e todas as cores do arco-íris do teu corpo perfeito.
Dizem que o sol é alquimista, que consegue transformar tudo o que toca em ouro, por isso deixei que me tocasse. Por momentos senti as tuas mãos na minha pele, o toque suave dos teus dedos a percorrerem-me o corpo, o teu tronco nu contra o meu, o teu peito em suaves ondulações numa dança respiratória que adivinhava aquela dança tão nossa.
Fazes-me falta, sabes?
Fiz a nossa cama e cheirei-te, novamente. Cheiravas a baunilha e chocolate, a fragrância intemporal dos amantes. Tomei a tua almofada nos braços e senti-lhe o aroma uma e outra vez, tinha o teu cheiro. Cheirava a luxuria, prazer e paixão, o nosso cheiro, aquele que nos seguia até ao banho e que permaneceu até hoje na minha memória olfativa.
Cheirei-te ao pequeno-almoço. Cheiravas a café e sumo de laranja, aquele que derramavas no meu corpo para depois beberes em suaves tragos para nunca perderes o sabor.
Cheirei-te ao espelho da casa de banho enquanto te barbeavas. Cheiravas a couro, madeira e aventura, o aftershave da tua marca preferida, aquele que te ofereci por altura do teu aniversário.
E fazes-me falta, sabes?
Cheirei-te na varanda quando fui fechar as janelas. Cheiravas a Mallboro, aquele cheiro inconfundível que se impregnava na tua pele depois de fumares o teu cigarro matinal – um aroma de fazer corar de inveja qualquer bom perfumista conceituado – porque qualquer cheiro que se te pegava era uma delícia para o meu olfato.
Cheirei-te no quiosque do Sr. António, quando fui comprar a minha revista semanal. Cheiravas ao jornal desportivo que compravas todos os dias e sem o qual eras incapaz de ir trabalhar, porque a bola fazia parte da tua vida e as notícias eram a tua paixão.
Cheirei-te ontem, cheiro-te hoje e cheirar-te-ei amanhã, na confeitaria da esquina, em qualquer divisão da casa, no elevador do nosso prédio, no restaurante da baixa do Porto, nos semáforos do cruzamento para a terra dos sonhos. Porque o teu cheiro é inconfundível, porque mesmo sem te cheirar eu cheiro-te e cheiro-te em cada lembrança, em cada memória, em cada tempo, em cada história.
Porque tu és uma coleção de aromas, sabes?
E fazes-me muita falta.
Imagem Por, Minas Halaj, “Flower Power #1”
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