A partir do momento em que a fecundação acontece, o futuro bebé encontra-se “condicionado”. A mãe e todo o seu contexto biopsicossocial afeta (positiva e/ou negativamente) o desenvolvimento deste bebé.
O seu contexto, estado físico e mental, hábitos de vida e até mesmo o tipo de parto tem influência nesta criança. No entanto, não quer isto dizer que este impacto se verifique logo à nascença ou até nos primeiros anos de vida. Muitas vezes, pode surgir passadas décadas!
Quando nascemos, o nosso cérebro é uma “peça inacabada”. Segundo Paul Maclean, o cérebro encontra-se “dividido” em três partes: cérebro reptiliano, sistema límbico e neocórtex. O neocórtex evolui a vida toda e a zona pré-frontal deste cérebro, inicia a sua maturidade a partir dos 16 anos. Desta maneira, não podemos esperar que as crianças e os adolescentes se saibam regular emocionalmente, se ninguém os ensinou a fazê-lo de forma adaptada.
Ensinaram à maioria das pessoas que: 1) “umas palmadas e uns berros são bons para eles aprenderem”; “bater nos colegas é errado”. 2) “chorar deixa-vos feios/as”; “são é bonitos quando se riem”; 3) “não fiques triste/zangado/ com medo, não vale a pena”; “aí estás contente?”. 4) “Vais demorar muito?”; “Para quieto/a”. Percebem a incongruência? Bater e gritar com as crianças/adolescentes é educação, no entanto, se eles forem bater nos amigos (porque foi assim que aprenderam) é errado. Não podem chorar porque é feio, têm é que se rir. Não podem sentir tristeza, raiva ou medo, porém quando estão felizes, é felicidade a mais. Têm que ser rápidos a fazer as coisas, contudo têm que estar sempre quietos/sossegados.
O condicionamento que abordei inicialmente, também surge no decorrer da vida dessa criança: I) tendo impacto na forma como esta irá perceber o mundo e os outros; II) na maneira como se irá relacionar com as pessoas à sua volta; III) nos comportamentos e atitudes que vai ter perante situações favoráveis e/ou desfavoráveis; IV) na potencialização de competências e habilidades; V) no desenvolvimento de perturbações psicológicas e doenças físicas, entre outras…
Os cuidadores fazem o melhor que sabem, mas é possível melhorar ainda mais. É possível: colocar limites sem gritos e palmadas, ajudá-los a regularem-se emocionalmente, colocar em prática alternativas aos castigos e promover a independência. Permitam que eles brinquem muito e que vos conheçam; Aceitem que eles digam que não. Digam-lhes que todas as emoções são importantes, que eles valem a pena, capazes de tudo e que têm o vosso apoio.
Saibam que as palmadas, os gritos, a desregulação emocional, a desvalorização e outros comportamentos/atitudes traumatizam. Saibam também que não há idade para acabar o mimo, é fundamental que o vosso colo esteja sempre disponível. Estejam, acima de tudo, presentes.
Lembrem-se que podemos sempre escolher como queremos mostrar o mundo e os outros. Se não lhes providenciarem segurança, o mundo vai ser um lugar perigoso para eles e os outros não vão ser de confiança.
Por fim, deixo o apelo a que façam terapia. Façam o vosso processo de autoconhecimento. Curem os vossos traumas. Não deixem que as vossas crianças/adolescentes carreguem algo que não é deles.
Imagem Por, Edgar Degas, “The Bellelli Family [La Famille Bellelli]” (Musée d’Orsay)
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