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No casal, 1 + 1 é igual a 3. Cada 1 representa um dos elementos do casal, com a sua individualidade e especificidade, com a sua história e passado, com as suas vivências e aprendizagens. Para nascer “o casal”, o 3, essa entidade e identidade que vai para além da mera soma de ambos os algarismos 1, é necessário que se crie uma identidade conjunta, um “nós”. Trata-se de um terceiro elemento com características próprias, assumindo-se um compromisso com o novo sistema conjugal. Mas, ser um casal é um dos maiores desafios do ser humano. Uma relação a dois nem sempre é fácil.

Um casal é composto por pessoas de dois mundos diferentes que têm de se unir para formar uma equipa fundada no Amor. E esta união é feita através de um caminho em constante movimento e evolução, que abarca muitas vezes conflitos. Cada um dos elementos do casal traz sempre consigo uma bagagem para a relação, mais ou menos complexa e conseguir um «nós», que integre ambas as bagagens, carregadas de crenças e histórias de vida, expectativas e receios, sonhos e conflitos internos, perspetivas e frustrações, modelos de relação e sistemas familiares de origem, é um grande desafio.

Para que a conjugação e união destes mundos, ou destas bagagens, funcione, para além do respeito, do compromisso, da cedência, da cumplicidade, da compaixão, da amizade e do Amor, é imprescindível haver partilha e comunicação, o que levará à intimidade do casal. Contudo, nos dias de hoje, muitas vezes não há tempo e disponibilidade para manter esta intimidade no casal. As preocupações, as exigências do dia a dia, o tempo dedicado aos filhos, a conciliação entre a vida familiar e profissional, a gestão económica, as divergências não resolvidas ou assumidas e os conflitos facilmente levam a um padrão de comunicação disfuncional, poluído com críticas, recriminações, projeções de culpas e em casos mais extremos, de palavras duras que provocam mágoa e frustração. E isto faz com que o casal se afaste dessa intimidade.

Segundo dados do INE, em 2020, existiram em média 91 divórcios em cada 100 casamentos. Ser casal só é possível quando os dois crescem, aprofundando e evoluindo dentro da relação, e por vezes, o casal precisa de um espaço e tempo de acompanhamento para poder continuar este caminho. A terapia de Casal é um recurso valioso para ajudar o casal a encontrar este espaço e este tempo, para que este reencontre a sua intimidade e possa continuar a construir a relação de forma plena, íntima, criativa, forte e feliz. Um espaço próprio de escuta e recetividade, marcado pela neutralidade e imparcialidade, para que ambos os elementos do casal possam expor as suas necessidades, angústias, objetivos e expectativas, implicando-os ativamente no processo de mudança.

A terapia ajuda o casal a descentrar-se da necessidade em identificar um culpado, a identificar padrões de comportamento que causam sofrimento, a refletir e a (re)construir uma comunicação clara e funcional, encontrando soluções alternativas e de compromisso. O terapeuta de casal é um buscador das necessidades e desejos, que se escondem atrás das queixas, das acusações e dos silêncios, de forma a abrir espaço à vulnerabilidade no casal e este encontre novamente o seu sentido e a sua força. É neste caminho, que o terapeuta ajuda a que o casal se olhe verdadeiramente e se “reconheça”, recordando o que os uniu, ajudando a (re)construir a intimidade e a identidade deste “nós”, que se foi perdendo.

Por vezes, é também neste “percorrer e descobrir o caminho”, que por vezes, o casal pode chegar à conclusão que a melhor solução é prosseguirem por caminhos distintos. Neste caso, o psicoterapeuta é uma ajuda fundamental para o casal, não só nesta constatação, como num processo de separação menos doloroso e mais harmonioso. No entanto, a terapia de casal não deve ser apenas considerada quando o casal já se encontra à beira da rutura, o psicoterapeuta de casal pode surgir bastante mais cedo na vida do casal, numa ótica preventiva e não só numa perspetiva remediativa, pois só assim poderá ajudar o casal a sentir-se com uma maior conexão.

Sílvia Dias

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Imagem Por, Jan van Eyck, “The Arnolfini portrait” (National Gallery)

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