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Não tenho o hábito de falar dos meus problemas. Costumo chorar, fechar-me no meu quarto e esperar que eles se esvaziem e fujam pela janela, atravessando nuvens e rasgando o céu, muitas vezes nublado, até voltarem do maldito sítio de onde vieram.

Mas é engraçado, sabem? Pensar que podem sair sem se despedirem, logo eu que não gosto que me deixem assim, sem saber o que fazer. Mas eles deixam-me. E eu sou grata por eles me abandonarem de vez em quando. É como se a minha alma se enchesse de novo e eu voltasse a sentir o coração pulsar forte. É como se estivesse viva novamente e não só a respirar, a tentar sobreviver. Depois de tantos desgostos e lamúrias, sentir que, talvez, nem tanto por um mero acaso, seja bom estar aqui.

Mas, de repente, eles voltam e é como se o tempo recuasse e eu voltasse àquele malditos anos, às vezes até os vejo passar como fitas de cassete. Talvez tenha de lidar com eles e aprender a viver (ou sobreviver) assim.

E é estranho, pensar que agora estou bem e amanhã já estou mal. Que agora de manhã me animo e logo à noite não descanso. Que agora sorrio e, daqui a uns minutos, penso… No peito apertado, cheio de tristeza e deceção. Nas lágrimas que lutam para não escorrerem, nos punhos cerrados e no corpo trémulo. No controlo que tenho de manter para não me arrepender.

E eu esforço-me, percebem? Não acredito que seja egoísta, aliás, faço tanto para me mostrar bem. E isto cansa o corpo, cansa cada ínfima parte do meu corpo, e ele transborda dor, quando finalmente me estendo no colchão para dormir – tentar dormir.

Estes são os Monólogos durante madrugadas, depois de dias exaustivos. Mas talvez amanhã alguém tenha piedade de mim, talvez seja mais fácil lidar com os obstáculos da minha mente. “A esperança é a última a morrer”, não é o que dizem? Bem, espero que a minha não tenha oportunidade de chegar ao seu fim.

Por: Gabriela Meireles (Escritora)


Imagem Por, Edgar Degas, “The Convalescent”

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