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Aniversário, nome masculino que, segundo o Priberam se define pelo dia em que se completa um ou mais anos sobre a data de um acontecimento ou nascimento de alguém. Mas já todos sabemos isso, certo? Afinal, é uma palavra que circula na boca de todos pelo menos uma vez por mês. Seja em que língua for, todos já ouvimos e já dissemos: “Amanha é o meu aniversário”, “Aquela marca festeja o segundo aniversário”, “Aquele casal acaba de completar o 23º aniversário de casamento”, … E o mais curioso deste simples vocábulo é a capacidade de metamorfose do seu significado.

Sigamos o primeiro exemplo: “Amanhã é o meu aniversário”, todos sabem que significa que amanhã completarás mais um ano da tua vida, mas o que significa para ti essa ocasião? Aos 5 anos dizias “Amanhã é o meu aniversário!!!” com três pontos de exclamação e tudo a que tens direito, afinal, aniversário significa prendas, bolo, festa, certo? Aos 15 anos dizias “Amanhã é o meu aniversário!!” já só com dois pontos de exclamação, afinal, aniversário significa dinheiro, família, festas, mas também significa que estás a caminhar para a vida adulta e a incerteza do futuro já te começa a afetar, certo? Aos 25 dizias “Amanhã é o meu aniversário!”, com um ponto de exclamação, afinal toda aquela antecipação não valia a pena, o tempo está a passar a correr e a incerteza do futuro só aumenta, estás a caminho dos 30 e a vida não está tão definida quanto parecia, certo? Aos 45 dizias “Amanhã é o meu aniversário.”, com um ponto final, é uma declaração para aqueles que vivem e convivem contigo, para relembrar caso se tenham esquecido, é uma declaração ao espelho para relembrar aquilo que certamente não te esqueceste, afinal, a vida está a passar por ti e já começas a olhar para trás, certo? Aos 65 dizes “Amanhã é o meu aniversário…” com reticências, mais para ti, mais para dentro, afinal, quem festeja já o sabe, e para ti pouco mais há que festejar, por um lado a alegria é grande, mais um ano na Terra, mais um ano rodeado daqueles e a amado por eles, mas a incerteza já não é preocupação, o problema? O problema a certeza do futuro, certo?

Passando à segunda ocasião “Aquela marca festeja o segundo aniversário”, geralmente, ao ouvirmos algo assim pensamos: “Uau, está-se a aguentar”, e à medida que o tempo passa e os aniversários se festejam a marca ganha credibilidade, afinal, tempo é sabedoria, certo? À medida que o tempo passa e os aniversários se festejam achamos que a marca já não só se “safa” como se torna importante, mais anos é sinónimo de mais trabalho e mais trabalho é sinónimo de dinheiro, certo? É como os casamentos, certo? Quando ouvimos “aquele casal acaba de completar o 23º aniversário de casamento” invejamos a sua felicidade, afinal, tanto tempo é sinónimo de muitos sorrisos, certo? Quando ouvimos algo semelhante só desejamos ser nós, “Quem poderia imaginar? Tantos aniversários ao lado da pessoa especial. A relação deve ser mesmo boa!”, afinal tantos anos só pode ser sinónimo de proximidade e amor, certo?

Ou talvez, estejamos apenas iludidos pelo significado desta palavra “aniversário”, talvez e só talvez, o Priberam estivesse certo e não passasse de mais um ano completado, talvez não signifique mais nada, mas tanto teimamos em acrescentar-lhe significado, em atribuir-lhe emoções e conclusões, talvez precipitadas… Quem definiu que um aniversário se festeja? Talvez aniversários não signifiquem festa, talvez seja mais uma data da qual inocentemente (ou talvez não) o comércio se aproveite, ou mais uma data que criamos inconscientemente (ou talvez não) para acrescentar esperança ao futuro incerto, cor aos momentos mais cinzentos ou animação ao monótono quotidiano. Mas isso são tudo talvez, certo?

Vitória Ferreira

Escritora e autora do livro “Será que te amo?

Imagem Por, Caravaggio, “Bacchus” (Uffizi Gallery)

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