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O estudo da psicopatologia na infância e adolescência tem aumentado de forma exponencial nos últimos anos. É possível pensar-se que, este interesse, esteja relacionado com o reconhecimento de 3 fatores fundamentais: 1) a existência do risco de consequências a longo prazo no desenvolvimento da criança; 2) o papel da idade de início da perturbação como fator de risco para a sua continuidade na idade adulta; 3) a necessidade de uma melhor compreensão das perturbações da infância e adolescência para se desenvolverem intervenções e programas de prevenção eficazes.

Antes de trazer até este artigo a conceptualização da psicopatologia da infância e adolescência, é pertinente definir esta palavra para a desconstruir interpretações estigmatizadas. A psicopatologia refere-se à área do conhecimento que estuda as condições que provocam sofrimento psicológico. Desta forma, a psicopatologia pretende identificar, definir, avaliar e traçar planos de intervenção baseados em evidência científica, relativamente a perturbações que surgem neste período desenvolvimental e que possam constituir-se como fatores de risco para a desadaptação das crianças e adolescentes nas diversas áreas do seu funcionamento.

É muito importante e pertinente que se fale da saúde mental e do desenvolvimento de psicopatologia durante a infância e adolescência, dado que dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que, na Europa, a Depressão e a Ansiedade se enquadram nas cinco maiores causas de doença em crianças e adolescentes e que em crianças e jovens entre os 10 e os 19 anos, o suicídio é a segunda maior causa de morte em países desenvolvidos 1ver mais aqui. Para além disto, a OMS ainda alerta que 10% das crianças e adolescentes (1 em cada 7) experienciam uma perturbação mental 2ver mais aqui.

O surgimento de uma perturbação mental é multifatorial, dependendo assim de diversos fatores que contribuem para o aumento do risco e da vulnerabilidade da criança para desenvolver um problema relacionado com a saúde psicológica. Neste sentido, a avaliação e compreensão do problema apresentado pela criança deve ter como base um modelo dimensional. Isto significa que não é suficiente categorizar o problema pelos critérios do DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais) ou do CID (Classificação Internacional das Doenças). Importa que seja adotada uma abordagem ecológica e sistémica que tem em consideração o papel desempenhado pelos fatores contextuais na compreensão dos problemas apresentados pelas crianças, bem como os seus sintomas psicopatológicos.

Ora, apresenta-se como fundamental que, na avaliação do problema da criança, se atente ao papel desempenhado pelos contextos onde esta se encontra (familiar, grupo de pares, escolar, comunitário) e em que medida estes se constituem como fatores de risco para o desenvolvimento de um problema, ou como fatores de manutenção das dificuldades que apresenta. Da mesma forma que é necessário atentar à disfuncionalidade da criança, é igualmente relevante atentar aos fatores protetores que podem prevenir a agudização do problema, ou que possam atuar como aliados na intervenção, identificando-os também nestes contextos. Para concluir e sublinhando a importância de ter em conta todos estes fatores na avaliação e intervenção junto das crianças e adolescentes que manifestam sintomas psicopatológicos, não posso terminar este artigo sem assinalar a importância do despiste e da procura de ajuda especializada, junto de profissionais especializados: os psicólogos!

Por: Beatriz Silva (Licenciada em Psicologia e Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde. Psicóloga Clínica e da Saúde com um trabalho ativo na promoção da literacia em Saúde Mental)


Obra Por, Pieter Bruegel the Elder, “Children’s Games [Die Kinderspiele]

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