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A maior parte das pessoas acredita que quem se suicida não avisa, que não dá sinais. Muitas outras têm medo que falar sobre o assunto “dê ideias” ou leve alguém a passar a ação. Na verdade, entre 50 a 75% das pessoas que se tentam suicidar dão algum tipo de indicação das suas intenções, quer seja partilharem os pensamentos suicidas, as suas emoções ou até mesmo os planos. E segundo a Ordem dos Psicólogos 1https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/opp_diamundialprevencaosui cidio_documento.pdf, o suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens e estima-se que em Portugal, todos os dias se suicidem 3 pessoas. 

A única forma que temos de prevenir e ajudar alguém que possa estar a pensar em suicidar-se é falar sobre o assunto 2Saúde, O. M. (2000). Prevenção do suicídio: Um manual para profissionais Da saúde  Em atenção primária.. Ainda existe muito tabu, quer sobre o suicídio, quer sobre as doenças mentais, mas a verdade é que enquanto não começarmos a falar destes temas com normalidade e fazer deles um assunto do qual se pode discutir, vamos continuar a assistir a pessoas a sofrer e a fazer o que sentem que precisam de fazer para terminar com esse sofrimento. Como podemos ajudar alguém se não sabemos a que sinais devemos estar atentos? Como podemos ajudar se anulamos o que alguém nos diz com frases “não digas essas coisas”; “até parece! Há pessoas que estão piores que tu”; “ai não sejas tão dramático/a”? Enquanto o nosso discurso não mudar, enquanto a nossa forma de ver a saúde mental e o sofrimento a eles inerente não mudar, não podemos ajudar verdadeiramente alguém que está a sofrer. 

Por isso hoje falo-vos de suicídio. Para que possam perceber as diferenças entre ter pensamentos suicidas e cometer suicídio, para que possam conhecer alguns sinais de alerta, para que possam saber o que podem fazer quer conheçam alguém, quer vocês próprios estejam a pensar nisso. O suicídio não é a saída mais fácil, como muitos pensam. É assunto sério e que deve ser levado em consideração. Vamos falar hoje no suicídio para que não o tenhamos que enfrentar amanhã. 

Pensar em suicídio é o mesmo que ser suicida?

Ideação suicida: é descrita como pensamentos, fantasias, ideias ou imagens relacionadas com cometer suicídio3https://www.verywellmind.com/suicidal-ideation-380609. Existem dois tipos de ideação, na passiva podem ser experienciadas ideias sobre cometer suicídio. A pessoa vê o suicídio como uma forma de acabar com a dor, mas não existe um plano, nem nenhuma ação é realizada. Na ideação ativa, os pensamentos acerca do suicídio são constantes, existe intenção e um plano para cometer suicídio. 

Suicídio: Já o suicídio é o ato efetivo de acabar com a própria vida de forma deliberada e intencional. Sofre influência de fatores biológicos, psicossociais e culturais e deve ser encarado como um problema real.

Ao que devo estar atento/a?

  • Isolamento social
  • Sentimentos de desespero 
  • Falar sobre morte ou suicídio 
  • Dar objetos ou coisas pessoais 
  • Despedirem-se das pessoas 
  • Ter acesso a meios (medicação, drogas, etc.) 
  • Aumento dos comportamentos de risco 

O que leva alguém a suicidar-se?

Existem diversos fatores que podem contribuir para os pensamentos suicidas. Normalmente, estes surgem em fases da vida em que a pessoa se sente desesperada/o, sem capacidade de controlar a sua própria vida. As pessoas que pensam em suicidar-se tendem a sentir que a sua vida não tem significado, podendo estar relacionado com diversos fatores, como a experiência de um trauma, dificuldades financeiras, uma mudança repentina na vida (como o término de uma relação), o trabalho ou algum diagnóstico médico. Adicionalmente, a presença de dificuldades ao nível da saúde mental (ex: depressão, PTSD, ansiedade) pode vulnerabilizar a pessoa para o aparecimento deste tipo de pensamentos. No entanto, qualquer pessoa, de qualquer idade e em qualquer momento da vida pode ver no suicídio a única opção. 

Ainda assim, existem alguns fatores de risco a que podemos estar atentos:

  • Tentativas prévias de suicídio 
  • Ter um plano 
  • Histórico de problemas de Saúde Mental 
  • Relatar sentimentos de desespero e solidão 
  • Doenças e dor crónica 
  • Situações de trauma 
  • Problemas com abuso de substâncias 
  • Acesso a meios letais 
  • Histórico de abuso 
  • Falta de apoio social 

Sinais de alerta:

  • Falar sobre querer morrer 
  • Desespero e desesperança 
  • Raiva 
  • Envolver-se em comportamentos de risco 
  • Isolamento da família e amigos 
  • Sentir que a vida não tem sentido

O que podemos fazer para ajudar ou como posso ser ajudado?

  • Fazer terapia: É importante procurar ajuda ou incentivar a pessoa a procurar ajuda. É importante lidar com as razões que motivam quer a ideação suicida, quer tentativas prévias de suicídio 
  • Remover objetos que possam ser utilizados para causar dano 
  • Técnica dos 5 sentidos: Observe 5 objetos que consegue ver, 4 que consegue tocar, 3 que consegue cheirar, 2 que consiga ouvir e 1 que consiga provar. Esta técnica pode ajudar a trazer para o momento presente em situações de maior desespero, deixando-nos mais calmos 
  • Terapia familiar: acompanhar e estar envolvido no processo pode ser muito importante quer para a pessoa que está a lidar com estes pensamentos, como para a família e pessoas próximas, de forma a conseguirem entender melhor o que se passa e aquilo que a pessoa está a sentir 
  • Mudanças na vida quotidiana: aumentar a qualidade do sono, da alimentação, promover hábitos saudáveis e uma rotina que seja estimulante para a pessoa. Encontrar atividades prazerosas e formas alternativas de lidar com as emoções e pensamentos negativos (ex: escrever, exercício, estar com pessoas de quem gosta) 
  • Medicação: se se verificar necessário acompanhar a um médico psiquiatra de forma a que possa ser receitada medicação para ajudar com a ideação suicida
  • Oferecer uma base sólida de suporte: amigos e família mostrarem-se disponíveis  e compreensivos nesta fase, fornecendo apoio e suporte 

Como reduzir estes pensamentos?

  • Identificar os precipitantes: O que provoca esses pensamentos? Em que situações eles mais surgem? Quando e com quem surgem? Após identificadas as situações tentar evitar as que podem ser evitadas 
  • Conversar com alguém, quer seja com um psicólogo, quer seja com um amigo ou familiar próximo, é importante conversar acerca do que está a sentir
  • Autocuidado: é importante tirar tempo para si, para relaxar e fazer coisas que lhe provoquem bem-estar e alivem o stress 

Se o sofrimento é muito grande e o suicídio parece a única opção, procurem ajuda, ainda existem razões para viver, mesmo que não as consigam ver neste momento. Se conhecem alguém que tem pensamentos suicidas, ajudem-na a procurar ajuda. Não vamos continuar a descartar o suicídio, não vamos desvalorizar o sofrimento dos outros e não vamos fazer deste tema um tabu. Todos nós sofremos, todos nós podemos ter alguma doença ou dificuldade, quer física, quer psicológica e nenhum sofrimento é mais válido, nenhuma dor merece mais atenção que outra, porque só quem a vive sabe realmente o quanto dói. Por isso vamos valorizar quando alguém nos diz que está a sofrer e fazer o que podemos para ajudar.


Linhas de apoio: Se está ou conhece alguém que esteja a sofrer e desesperado/a, pode ligar par as  seguintes linhas de apoio (algumas): 

  • 112 (INEM)  
  • 808 24 24 24 
  • SOS Voz Amiga: 213 544 545; 912 802 669; 963 524 660 
  • Conversa Amiga: 808 237 327 
  • SOS Estudante 239 484 020; 969 554 545; 915 246 060
Margarida Santos

Psicologa

Imagem Por, Édouard Manet, “The Suicide [Le Suicidé]” (Foundation E. G. Bührle)

Notas de rodapé

Notas de rodapé
1 https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/opp_diamundialprevencaosui cidio_documento.pdf
2 Saúde, O. M. (2000). Prevenção do suicídio: Um manual para profissionais Da saúde  Em atenção primária.
3 https://www.verywellmind.com/suicidal-ideation-380609

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