Vinculação: O que é e qual a sua importância?
O exercício da parentalidade assume um papel fulcral no desenvolvimento cognitivo e psicossocial das crianças, por isso, é determinante que os pais se constituam como modelos adequados e criem as condições necessárias para que as crianças possam desenvolver as suas capacidades (emocionais, sociais, de autonomia e comunicação, e resolução de problemas) de forma mais completa possível, tanto dentro como fora da família. Neste seguimento, a qualidade da relação que os pais criam com os seus filhos possui um grande impacto e influência no desenvolvimento dos mesmos, pois é a partir desta relação que a criança vai aprender e criar expectativas sobre si própria, sobre os outros e sobre o mundo em geral.
Chama-se vinculação à relação emocional e profunda entre a criança e a figura que lhe presta cuidados (figura de vinculação) que maioritariamente é a mãe, mas pode ser outro cuidador. Esta relação de vinculação começa logo que o bebé nasce e prolonga-se ao longo de todo o ciclo de vida, no tempo e no espaço. É uma relação duradoura e emocionalmente significativa onde a criança procura o conforto, segurança e deseja manter a proximidade ou contacto com a figura de vinculação. Quando existe uma separação involuntária ou quando a criança deseja a proximidade da figura e tal não é possível, a criança experiencia uma certa perturbação (ex. chora). A qualidade desta relação é bastante significativa no desenvolvimento dos indivíduos e baseia-se nas respostas que os pais dão aos filhos mediante os seus comportamentos e necessidades. Existem dois comportamentos de vinculação que os filhos nos demonstram: exploração e proximidade.
Quando falamos do comportamento de exploração, falamos da vontade que a criança tem de explorar o mundo à sua volta, interagir com outras pessoas, conhecer novos objetos. Normalmente, a criança afasta-se da figura de vinculação para explorar o meio e interagir com outras pessoas e regressa para junto dela por sua iniciativa, para brincar ou para estabelecer um breve contacto, afastando-se novamente, num movimento contínuo de exploração-retorno.
Quando falamos do comportamento de proximidade, este comportamento acontece quando a criança perceciona situações de perigo ou ameaça, situações que causam ansiedade e sentimentos de insegurança. Nestas situações, a criança diminui o seu comportamento de exploração e procura o contacto físico da mãe/pai para o proteger. Isto acontece por exemplo quando a criança se magoa, quando se assusta com alguma coisa, quando se chateia com os amigos. Nestas situações a criança vai procurar a pessoa que sabe que a pode confortar e proteger.
Consoante as respostas que os pais fornecem à criança mediante estes dois comportamentos, criam-se estilos de vinculação, nomeadamente, vinculação segura, vinculação insegura-evitante e vinculação insegura-ambivalente.
Os pais da relação de vinculação segura caracterizam-se por serem pais que se sentem confortáveis a dar afeto à criança, conseguem aliviar o seu mal-estar quando necessário, e também se sentem confortáveis a deixar a criança explorar o mundo à sua volta, apoiando-a nessa exploração. Desta forma, as crianças que têm este tipo de relação com os pais caracterizam-se por terem uma visão positiva sobre si mesmas (porque se sentem competentes e autónomas na exploração do mundo) e têm uma visão positiva dos outros (porque sabem que os outros estão disponíveis para apoiar e ajudar). São crianças autoconfiantes, empáticas, responsivas, autónomas, confiam nos outros e estão confortáveis com intimidade e afetos.
Os pais da relação de vinculação insegura-evitante caracterizam-se por serem pais que se sentem confortáveis a deixar a criança explorar o mundo à sua volta, apoiando-a nessa exploração, mas que não se sentem confortáveis a dar afeto à criança, não a confortam, nem protegem, rejeitam com frequência o contato físico, abraçar e acarinhar. Desta forma, as crianças fruto desta relação caracterizam-se por terem uma visão positiva sobre si mesmas (porque se sentem competentes e autónomas na exploração do mundo), mas possuem uma visão negativa dos outros (porque sabem que os outros não vão estar disponíveis para a apoiar e confortar). Estas crianças ficam ansiosas em situações de stress e evitam o contacto com os pais (ainda que não resistam a ir ter com eles), porque sabem que eles não vão conseguir ajudá-la da maneira que ela gostaria. São crianças confiantes, independentes, mas têm dificuldade em demonstrar emoções, em confiar nos outros e não estão confortáveis com afetos.
Por último, os pais da relação de vinculação insegura-ambivalente caracterizam-se por serem pais que se sentem confortáveis a dar afeto à criança, conseguem aliviar o seu mal-estar quando necessário, mas não se sentem confortáveis a deixar a criança explorar o mundo à sua volta. São pais que tendem a minimizar a exploração independente da criança, concentrando-se nas interações afetivas e na dependência excessiva da criança em relação aos pais. Deste modo, as crianças fruto desta vinculação caracterizam-se por terem uma visão positiva dos outros (porque sabem que os outros estão disponíveis para apoiar e ajudar), mas não têm uma visão positiva sobre si mesmas (porque não se sentem competentes e autónomas na exploração do mundo). Neste caso, a criança perceciona a figura de vinculação como alguém que está lá para a proteger e confortar, mas não a deixa brincar livremente, sendo intrusiva e híper-protetora. Perante este cenário, a criança prefere não explorar o mundo e ficar agarrado à figura para que esta lhe dê carinho, atenção e proteção. São crianças que confiam nos outros, estão confortáveis com afetos, mas são dependentes dos outros e têm medo do abandono.
Destes três estilos, a vinculação segura pode ser considerada o estilo de vinculação ideal por existir um equilíbrio entre os dois níveis de comportamento: exploração e proximidade, onde os pais respeitam as necessidades da criança, proporcionando um maior bem-estar à mesma. Segundo Bowlby, a fórmula dos pais para uma relação/vinculação segura é: “Seja sempre maior, mais forte, mais sábio e gentil. Sempre que possível, siga a necessidade do seu filho. Sempre que necessário, assuma o controlo”.
Por: Filipa Tavares de Lima (Psicóloga)
Obra por Édouard Manet, Olympia
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