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Uma forma mais fácil de percebermos o nosso cérebro é através da teoria do cérebro triuno do neurocientista Paul MacLean, que divide o cérebro em três partes, embora saibamos que o nosso cérebro funciona como um todo.

Se visualizarmos o nosso cérebro desde a zona inferior da cabeça até à testa, primeiro encontramos o cérebro reptiliano, o mais primitivo de todos e que partilhamos com os répteis. É responsável pela nossa sobrevivência, pois controla funções básicas da vida (e.g., frequência cardíaca, respiratória, ciclo sono-vigília)1Goleman, D. (2020). Inteligência emocional (26ª edição). Temas e Debates. (Do original: Emotional Intelligence, 1995).. É igualmente responsável por respostas automáticas que muitas vezes temos perante uma ameaça, ou seja, nós paramos, lutamos ou bloqueamos.

A seguir, temos o cérebro emocional ou mamífero, que possui uma estrutura que se chama amígdala, que compõem o sistema límbico. É responsável por detetar ameaças, por ativar um sinal de alerta, pela memória do medo e por sentirmos medo2Bilbao, A. (2021). O cérebro da criança explicado aos pais (5ª edição). Lisboa: Planeta Manuscrito. (Do original: El cérebro del niño explicado a los padres,2015).. É a amígdala que dá “ordens” ao cérebro reptiliano para que dê uma resposta automática de sobrevivência.

Por último, o cérebro racional, que nos distingue dos animais, evoluiu pela nossa necessidade de convivermos socialmente, ou seja, para ajudar-nos a conjugar os nossos interesses com os dos outros3Ricou, M. (2014). A ética e a deontologia no exercício da psicologia (1ª edição). Lisboa: Ordem dos Psicólogos Portugueses.. Este cérebro permite que comuniquemos, que tenhamos empatia, consciência de nós próprios e que tomemos decisões através de um pensamento mais lógico ou intuitivo.

Dentro deste cérebro racional, existe uma estrutura que se chama córtex pré-frontal que tem como funções o autocontrolo, a interiorização de normas, a planificação, a organização, a resolução de problemas e a detectação de falhas. Na idade pré-escolar esta estrutura está em desenvolvimento, só ficando totalmente desenvolvida na idade adulta. Por isso, nas crianças em idade pré-escolar, perante emoções muito intensas (e.g., frustração, medo, tristeza), que excita em demasia o cérebro emocional, é difícil para a criança, sem a ajuda do adulto, conseguir controlar as suas emoções, sendo dominada pelo cérebro emocional.

Então, como é que os pais podem ajudar?

Através de uma capacidade poderosa que se chama empatia. Segundo o psicólogo Daniel Goleman, a empatia faz parte da inteligência emocional e permite que reconheçamos as necessidades e desejos dos outros. Tem um efeito cerebral muito tranquilizador, no sentido que as respostas empáticas permitem a sintonia entre o cérebro emocional e racional, pois ativa uma região denominada “ínsula”, acalmando assim o cérebro emocional. A empatia não se expressa só através de palavras, mas também pelo toque físico (abraços, beijos, etc.). A evidência científica indica que o toque físico alivia a angústia e a tensão cardiovascular, pois liberta oxitocina, dando uma sensação de segurança4Neff, K. (2021). Autocompaixão (1ª edição). Porto: Albatroz (Do original: Self Compassion,2011)..

Assim, termino com uma frase sobre a empatia, que é uma capacidade essencial para que percebamos e ajudemos no desenvolvimento cerebral saudável das crianças: “Poderia haver milagre maior do que vermos pelos olhos uns dos outros por um instante?” ~ Henry David Thoreau

Mariana Chaves

Psicologia Infantil

Imagem Por, Rembrandt, “The anatomy lesson of Dr. Joan Deyman [Anatomische les van Dr. Jan Deijman]” (Amsterdam Museum)

Notas de rodapé

Notas de rodapé
1 Goleman, D. (2020). Inteligência emocional (26ª edição). Temas e Debates. (Do original: Emotional Intelligence, 1995).
2 Bilbao, A. (2021). O cérebro da criança explicado aos pais (5ª edição). Lisboa: Planeta Manuscrito. (Do original: El cérebro del niño explicado a los padres,2015).
3 Ricou, M. (2014). A ética e a deontologia no exercício da psicologia (1ª edição). Lisboa: Ordem dos Psicólogos Portugueses.
4 Neff, K. (2021). Autocompaixão (1ª edição). Porto: Albatroz (Do original: Self Compassion,2011).

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