|| ◷ Tempo de leitura: 4 Minutos ||

Mateus recebeu uma resposta no telemóvel.

“Claro que aceito! Mas quero primeiro conversar contigo, que tal combinarmos um café?”

Mateus recebeu a boa notícia da sua editora para publicar o livro e tinha que convidar pessoas para ir ao seu lançamento. Então ele começou a lançar convites para todos os seus contactos, que eram só família, colegas de trabalho e um ou outro amigo que tinha conhecido na escola há uns anos, mas que deixaram de falar quando a escola acabou.

Nunca tinha sido convidado para ir tomar um café e estranhou, mas aceitou o convite do Leo porque seria bom falar com uma pessoa que já não falava há anos.

Quando foi tomar o café, Leo surpreendeu-o a fazer perguntas sobre como foi escrever um livro, recomendações de como publicar e combinaram tomar café juntos mais vezes para voltar a terem a amizade que tinham antes nos tempos de escola.

Umas semanas depois, Mateus foi tomar o seu café semanal com o seu amigo quando o viu na mesa do café enervado. Ele ficou preocupado com o Leo e sentou-se na cadeira de imediato.

— Está tudo bem?

— Oh, oi! Bem, tenho tido uns problemas com a minha namorada. – Nesse momento o seu telemóvel vibra com uma notificação. Leo pega no telemóvel. – É ela, posso responder?

— Claro que podes, estás à vontade.

Esse à vontade dito pelo Mateus rapidamente ficou estranho. O Leo respondia a mensagem e recebia outra logo a seguir, sem largar o telemóvel. O Mateus observava que as mãos do Leo tremiam como se houvesse um terramoto de terra dentro do seu corpo.

Passaram 5, 10, 15 e 30 minutos e de vez enquanto o Leo dizia um ocasional “Peço desculpa pela demora, queres alguma coisa?” que o Mateus recusava e mantinha-se sentado a observar o seu amigo. Por um lado, aquele café estava a ser uma seca, por outro lado ele não ia deixar o amigo naquele estado sozinho. Podia acontecer-lhe alguma coisa.

Quase 50 minutos depois o Leo finalmente colocou o telemóvel na mesa. O Mateus não sabia o que fazer. Ele nunca teve uma namorada, mas aquilo claramente não era uma coisa normal.

— Está tudo bem?

— Sim, bem… não sei. Peço já desculpa por ter-te maçado este tempo todo aqui só a olhares para mim, mas tinha mesmo de responder.

— Sem stress. Mas o que se passou?

O Leo começou a contar como tem sido as 2 relações que ele teve com a sua namorada e, mesmo depois dos sacrifícios que o Leo fez, as várias prendas que deu à sua namorada e irmã, as férias que passaram juntos na Serra da Estrela e o Leo não foi com a sua família para os Açores para estar com ela, e agora como ela acabou com ele por mensagem, embora ele tentasse mudar tudo o que podia para a manter com ele, mas ela simplesmente não o queria.

Quando o Leo acabou de falar sem ter o Mateus a interromper uma única vez, ele finalmente falou.

— Se queres a minha opinião, depois de todos os sacrifícios que fizeste por ela e tudo o que compraste para ela e para a sua irmã e ela não te quer, eu aconselho a deixares ir. Acredito que é triste ver alguém que gostamos não nos responder da mesma moeda, mas não precisas de mudar para ela te aceitar porque, pelo que falas, tu deste tudo o que tinhas e ela não te deu nada do que só o sentimento de felicidade.

— Wow. Isso eu não esperava ouvir. Sabes, Mateus, tu és um verdadeiro amigo.

— Como assim?

— Ficaste aqui a apanhar uma seca comigo e não saíste daqui vez nenhuma.

— Como poderia vendo que estavas mal, isso seria insensível da minha parte.

— Pois, pouca gente tem essa paciência. Obrigado, mano.

Desde esse dia, o Mateus e o Leo têm-se mantido unidos a ter os cafés semanais, no que começou uma simples amizade de escola que teve vários anos parada se tornou numa amizade que ambos os amigos sabiam que teriam para o resto da vida.

Bruno Correia

Escritor e Autor das obras “As Joias Mágicas

Imagem Por, Raffaello Sanzio, “Self-portrait with a friend [Portrait de l’artiste avec un ami]” (Museu do Louvre)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Previous post Aniversário
Next post Vitória