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Frequentemente, quando ouvimos o termo “Ansiedade” associamos instantaneamente a algo mau, ao desassossego, à inquietação, à limitação… e ela realmente pode significar tudo isso. Mas, será que a Ansiedade é assim algo tão negativo? Será que pode ser útil? De onde é que a Ansiedade vem?

A Nossa Evolução e a Ansiedade

Quando somos dominados pela ansiedade, a nossa mente não para. Parece funcionar 24 horas, sete dias por semana. Não conseguimos desligar dos pensamentos, mesmo quando queremos dormir, relaxar ou simplesmente não fazer nada.

Em alguma medida, acreditamos que toda essa preocupação é importante, e que precisamos dela. Achamos que nos protege, que vamos estar mais preparados para lidar com certa situação se já nos tivermos preocupado com ela anteriormente. No entanto, o que realmente acontece é que o nosso comportamento fica menos adequado, o nosso sono fica prejudicado, ficamos acelerados, limita as nossas opções de vida… Em poucas palavras, faz-nos sofrer.

Então por que não conseguimos simplesmente deitar, fechar os olhos e dormir? A resposta pode estar na evolução.

As capacidades e tendências que a evolução deixou para os nossos ancestrais são aquelas que foram necessárias para sobreviver num determinado ambiente. Mas as coisas mudaram rapidamente nos últimos 10 ou 20 anos. A civilização moderna alterou as nossas circunstâncias de uma forma tão rápida que a nossa biologia evolutiva não acompanhou o ritmo. Assim, estamos preparados biologicamente de uma forma que não se encaixa nas circunstâncias atuais.

A capacidade de saber como fazer uma armadilha, fazer fogo, afastar os predadores, cuidar das crianças e impedir que as tribos ficassem sem comida teriam de estar presentes para a nossa sobrevivência. Mesmo na nossa sociedade, estas qualidades são adaptativas em alguma medida. Mas o que dizer da ansiedade? Como os nossos medos irracionais se encaixam no quadro evolutivo?

A Ansiedade é Útil?

No fundo, os nossos ancestrais sobreviveram devido às suas ansiedades. Quem não fosse ansioso o suficiente simplesmente não sobreviveria. Em circunstâncias em que a morte provocada por fome era sempre uma ameaça, em que os ataques de animais podiam acontecer a qualquer momento, em que os precipícios precisavam de ser evitados, em que estranhos podiam matar e em que a sobrevivência dependia do quanto a tribo gostasse da pessoa, a ansiedade foi uma das principais ferramentas para a sobrevivência.

Mas, a ansiedade que foi necessária em tempos, não parece mais funcionar. Em vez de nos ajudar a sobreviver, a ansiedade parece muitas vezes “atrapalhar” as nossas vidas. Recebemos um conjunto de respostas biológicas e psicológicas que nos preparam mal para as exigências da nossa existência atual.

O medo de altura, o medo de águas profundas ou o medo de áreas abertas foram medos que ajudaram os nossos ancestrais a evitar situações perigosas. A cautela com os estranhos foi uma atitude de proteção, já que um encontro ao acaso com uma tribo hostil poderia facilmente resultar num desastre. Uma tendência a preocupar-se com a reserva de alimentos para o inverno seguinte poderia ajudar a tribo a chegar à próxima primavera. De forma geral, percebemos que muitas das perturbações de ansiedade que conhecemos hoje têm ligação com os medos que estão presentes em nós devido à nossa história evolutiva.

É o Medo Certo na Hora Errada

Este é o ponto de partida fundamental para lidar com a ansiedade: compreender que ela originalmente tinha uma função adaptativa. Que a Ansiedade é uma emoção e que ela tem de estar presente em alguma medida.

Todos os nossos medos – independentemente do quanto eles possam parecer irracionais para nós hoje – têm, de alguma forma, a sua base na sobrevivência.

Algumas eras depois, num ambiente civilizado, os mesmos impulsos parecem muito desadequados. A evolução ensinou aos nossos ancestrais: “Melhor prevenir do que remediar”.

Cada uma das perturbações de ansiedade têm ligações similares com a história evolutiva. Exemplo:

A agorafobia – que pode ser o medo intenso de estar em espaços abertos e públicos – está relacionada à vulnerabilidade dos nossos ancestrais aos predadores, em ambientes abertos a que estivessem expostos.

A perturbação de ansiedade generalizada é a antecipação, é o ter cautela. Os “preocupados” das tribos podem ter sido aqueles que anteciparam as calamidades e se preparam para elas – sobrevivendo dessa forma.

Assim, não precisamos de ver a ansiedade como uma fragilidade ou um defeito. É como se fizesse parte da nossa herança biológica. No entanto, essa herança pode ser ajustada. Se a tua ansiedade é intensa, frequente ou te limita de alguma forma, procura ajuda. Não tem de ser assim.

Raquel Teixeira

Psicóloga e Autora do Artigo “Ansiedade & Stress

Imagem Por, Jean Béraud, “After the Misdeed [Après la faute]” (National Gallery)

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