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Ataque de Pânico ≠ Crise de Ansiedade

Embora os termos ataques de pânico e crises de ansiedade sejam utilizados como sinónimos os dois termos representam dois tipos de crises distintas. No que os assemelha, os ataques de pânico e as crises de ansiedade manifestam-se através do envio de uma mensagem ao sistema nervoso que ativa o nosso instinto de lutar, congelar ou fugir. De seguida ocorrem descargas de cortisol e adrenalina no organismo e um conjunto de respostas físicas, como tensão dos músculos, aumento dos batimentos cardíacos, aceleração da respiração, entre outras. Estas crises normalmente acontecem diante de situações corriqueiras que não apresentam necessariamente ou realmente uma ameaça de vida, segurança ou bem-estar individual, no entanto, para a pessoa ansiosas/em pânico, estas situações são vistas como intimidadoras ou assustadoras.

Mas como disse, há várias diferenças entre a crise de ansiedade e pânico, sendo uma delas a causa e forma como os sintomas se manifestam. Enquanto o ataque de pânico surge quase espontaneamente, a crise de ansiedade surge após um período de preocupação excessiva devido a um evento/situação específica. Outra diferença é que na crise de ansiedade, as pessoas têm dificuldades em pensar logicamente sobre algo que está para acontecer levando a longos períodos em que se sofrer por antecipação, isto contrasta com os ataques de pânico em que as coisas acontecem de forma mais inesperada e automática.

Os sintomas da crise de ansiedade são tipicamente menos intensos que os da crise de pânico estes persistem por longos períodos enquanto em ataques de pânicos os sintomas são extremamente intensos, mas desaparecem numa questão de minutos (podendo durar mais ou menos tempo dependendo do caso). Ao apercebemo-nos dos sintomas, a primeira coisa a fazer é procurar ajuda médica para uma melhor avaliação do que está a acontecer.

Numa primeira experiência, a crise de ansiedade ou ataque de pânico pode ser facilmente confundida com um ataque cardíaco, mas, após serem efetuados os exames médicos necessários para investigar a condição de saúde, não se encontra nada de anormal, descartando assim a hipótese de ser um problema do foro físico. Algumas pessoas, mesmo após terem tido a crise estão em negação e alegam não sofrer de ansiedade e pânico, mas a verdade é que, em situação de extremo stresse, qualquer pessoa (mesmo sem uma perturbação mental) pode ter uma crise de ansiedade e/ou ataque de pânico.

A ansiedade é o discurso (conjunto de frases/palavras) que nos contamos e aprendendo a desenvolver este discurso, seremos capazes de desaprender e aprender novos significados.

Quando os sintomas de crise de ansiedade e pânico manifestam-se no nosso dia a dia em circunstâncias comuns, é um sinal de que precisamos de dar mais atenção a nossa saúde mental. Portanto, procurar ajuda médica e psicológica é importante porque assim conseguimos evitar com que desenvolvamos perturbações de ansiedade como a perturbação de pânico1Na minha experiência clínica encontro mais pessoas com perturbação de pânico e tenho visto mais pessoas nesta situação depois do período de pandemia-quarentena, é por isso importante dar a … Ler mais.

Abordagem Ideal para Gerir a Ansiedade e o Pânico

  1. Conhecer o funcionamento do cérebro e compreender o porquê da ansiedade. Se percebermos como o nosso corpo funciona não ficaremos tão surpreendidos quando algum sintoma aparecer. Ter uma melhor perceção facilitará o ato de relativizar e encontrar uma justificação válida para o sintoma, em vez de o interpretarmos como algo catastrófico. É também necessário naturalizar a ansiedade e retirar-lhe o peso do horror/catástrofe, sim, ela é desconfortável, mas está cá para nos ajudar, temos então de observar, ouvir e entendê-la, por mais absurdo e estranho que isto possa parecer. A ansiedade é o discurso (conjunto de frases/palavras) que nos contamos e aprendendo a desenvolver este discurso, seremos capazes de desaprender e aprender novos significados.
  2. Melhorar e fortalecer o nosso discurso interno, diminuindo a tendência de assumir: Que o pior cenário provavelmente acontecerá → Que se isso acontecer não serias capaz de lidar com ele, e → Que ameaça/perigo são mais prováveis do que segurança. Ao melhorarmos e fortalecermos o nosso discurso interno e adquirir um discurso mais compassivo, seguro e tranquilizante, iremos aumentar o nosso sentido de segurança e autoconfiança, reduzindo a resposta emocional face aos pensamentos ansiosos como a necessidade de evitamento. Ao acreditares que consegues lidar com a tua ansiedade, sentirás menos ansiedade, isto é claramente um trabalho muito longo que requer esforço, mas é algo perfeitamente possível2Nota do Editor (Pedro Amaral): Para redefinir como olhamos para os desafios que a vida nos atira, a filosofia do estoicismo é uma ótima ajuda. Estando confrontados com as situações mais … Ler mais.
  3. Saber respirar e relaxar o corpo perante situações de ansiedade, ao fazeres isto aumentarás a tua consciência/conhecimento corporal, perceção de competência e autoconfiança para lidar com situações difíceis, pois, se acreditarmos que conseguimos lidar com a ansiedade, sentir-nos-emos com menos ansiedade.
  4. Exposição gradual aos estímulos ansiosos, estar com pessoas, ir ao centro comercial, andar de autocarro, andar de avião, conduzir, fazer uma apresentação oral, etc.

Uma coisa importantíssima é tentar encarar as situações traumáticas como uma oportunidade de aprendizagem – uma oportunidade para te conheceres melhor a ti, à tua mente e ao teu corpo.

Ajuda para as Pessoas nesta situação

Em primeiro lugar é fundamental procurar ajuda médica e psicológica. Caso não consigas pagar sessões de psicologia, existem inúmeros serviços gratuitos, desde linhas telefónicas a serviços à comunidade (nas faculdades de psicologia), por exemplo.

Em segundo, é importante ter alguém que nos ajude a: combater o medo do medo; perceber de onde isto vem; o que estamos a fazer que nos leva a manter a nossa ansiedade, e; traçar um plano para aprender a gerir a ansiedade e ver a ansiedade como um processo natural de defesa/interpretação da realidade e não como um monstro (a ansiedade é um verdadeiro monstro quando nos leva a deixar de viver a nossa vida devido ao desconforto que nos causa, o que leva-nos também a um ciclo de evitamento e sofrimento sem fim).

Ao acreditares que consegues lidar com a tua ansiedade, sentirás menos ansiedade, isto é claramente um trabalho muito longo que requer esforço, mas é algo perfeitamente possível

Por último, não devemos permitir que a ansiedade assuma o controlo. É importante ouvi-la, mas também falar com ela e dizer que apesar da preocupação, nós também temos uma palavra a acrescentar no meio de todo discurso negativo e de que somos capazes.

Sophie Seromenho

Psicóloga Clínica e Autora do livro “Não é Loucura, É Ansiedade“. Escritora do artigo “Ansiedade: Pazes com o Passado“ e “Agorafobia e Perturbação de Pânico

Imagem Por, Gustave Courbet, “The Desperate Man [Le Désespéré]

Notas de rodapé

Notas de rodapé
1 Na minha experiência clínica encontro mais pessoas com perturbação de pânico e tenho visto mais pessoas nesta situação depois do período de pandemia-quarentena, é por isso importante dar a devida atenção a este tema.
2 Nota do Editor (Pedro Amaral): Para redefinir como olhamos para os desafios que a vida nos atira, a filosofia do estoicismo é uma ótima ajuda. Estando confrontados com as situações mais desafiantes o estoicismo apela que: devemos sempre pensar no que pode acontecer de pior e utilizar isso, não como crença de que o pior nem sempre acontece, mas sim para lembrar-nos de que o pior é sobrevivível. E podemos adicionar aos ensinamentos filosóficos a perspetiva psicológica presente no livro da Sophie Seromenho.

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