Comunicar, expressar e reconhecer os nossos afetos, sentimentos e emoções é por vezes difícil e penoso. Exigimos muitas vezes às crianças que se expressem, que partilhem a razão por detrás de chorarem e estarem zangados, ainda que nós, adultos, não expressemos/comuniquemos o que sentimos ou nos perturba.
Mais do que sentir, é preciso perceber o que são os sentimentos e as emoções – o que os difere, como funcionam, como se relacionam, como lhes podemos dar voz e forma. Perceber como nos sentimos e porque o sentimos é vital para a nossa regulação emocional e saúde mental.
As emoções distinguem-se dos sentimentos pela sua durabilidade/estabilidade e pelas reações fisiológicas e cognitivas associadas.
- Os sentimentos derivam da nossa experiência emocional e surgem quando temos consciência das nossas emoções; podemos então descrevê-las como uma espécie de emoções conscientes que apresentam uma maior estabilidade e durabilidade comparativamente às emoções – sendo alguns exemplos (o/a) amor, felicidade, ódio, inveja e desamparo.
- Por outro lado, as emoções são respostas rápidas e automáticas, desencadeadas por uma perceção interna/externa, que levam a reações neurofisiológicas (suar, corar, etc), comportamentais e/ou cognitivas. – sendo alguns exemplos de emoções (o/a) alegria, medo, tristeza e raiva.
As emoções e os sentimentos, apesar de distintos, estão interligados. As emoções são como uma cascata de reações – ao termos medo o nosso coração bate mais rápido, a nossa expressão facial muda. E o segundo é a experiência emocional do primeiro – tendo medo, sentimentos como ansiedade, angústia e desesperança podem vir ao de cima. Outro ponto de comparação é que, as emoções não conseguem ser escondidas, mas pelo contrário, os sentimentos podem ser escondidos e guardados; podemos estar apaixonados e sentir afetos por uma dada pessoa e conseguir escondê-lo.
Ter consciência das emoções e dos nossos sentimentos é o ponto de partida para uma boa gestão emocional no nosso dia a dia. Experienciar diferentes sentimentos devido uma dada situação é normal. Não existem sentimentos errados, tal como não existem boas ou más emoções. Vulgarmente apelidadas más ou desagradáveis, a tristeza, raiva e medo são essenciais e não as devemos conter ou suprimir. Todas as emoções fazem parte da vivência humana e são proeminentes para um desenvolvimento saudável e positivo. Pois, se não vivêssemos a tristeza, como saberíamos lidar com ela e acolhê-la? Expressar a nossa tristeza é tão importante quanto expressar a nossa alegria.
Torna-se por vezes difícil verbalizar ou encontrar um nome para o que sentimos. Um/a psicólogo/a pode ajudar a traduzir para palavras o que nos apoquenta, assusta, motiva e nos deixa felizes. Permitindo, assim, acolher e afigurar os sentimentos ainda não visíveis/explorados, ainda que presentes em nós.
Assim, termino com esta questão: E tu, o que sentes?
Imagem Por, Benjamin West, “Romeo and Juliet”
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