Estar triste é cansativo e mais cansativo é estar cansado de se estar triste. Não ter amor próprio é estar sempre solitário, sempre vazio. Os amores e amizades que vão e vêm fazem pequenas flores e borboletas florescerem dentro de nós; um pequeno jardim. Mas as pessoas são passageiras, passeiam dentro de nós como se fossemos passadeiras… intermediários para o seu verdadeiro destino. E o jardim murcha, as borboletas morrem e apodrecem. E quem as irá limpar? Certamente não será quem se foi. E se tu não limpares, não desaparecem, mas fazem com que desapareças tu. Há um facto interessante sobre as bananas: quando começam a apodrecer, libertam uma substância que faz com que as frutas à sua volta também apodreçam. E foi isso que aconteceu dentro de mim. Apodrecida, murcha, sem postura e dores na coluna, porque ninguém limpou o estrago que estas passagens causam. O vazio fica maior, insuportável, imensurável, catastrófico. Um buraco negro que engoliu-me por completo até eu ser nada além da plena obscuridade. Essa é a crua verdade. Mas eu levantei-me um dia e a inércia dissipou-se, como uma epifania. Sofrer é doloroso, estar triste dói, não dormir dói, não comer dói e estar vazio dói. E eu doía e tudo em mim perpetuamente dói, mas decidi deixar de ceder. Porque ceder dói, dói, dói. Nem que seja uma tentativa falhada de tentar respirar e contar até 5 ou 15, um chá com um sabor estranho, mas com benefícios mágicos, uma caminhada desconfortável ao sol, mas continua a ser um esforço, menos um desgosto, menos uma hora ou duas, nem que seja meia hora, de resiliência. Persistência. Motivação. É pouco, mas é assim que se formam hábitos. Porque as flores e as borboletas elas morreram, mas eu não. O amor numa das vertentes acabou, mas eu não. E estar triste é cansativo, mas mais cansativo é estar cansado de estar triste. Às vezes as borboletas não morrem, voam para outros corpos, e se ele vive também eu vou viver. O meu corpo é um templo, e vai ser a minha utopia se eu assim o desejar.
Imagem Por, Viktor Vasnetsov, “Alenushka”
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