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A Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma Perturbação do Desenvolvimento que afetam indivíduos em diferentes níveis – comportamental, linguístico e social – e em diferentes graus de severidade1APA, 2013..

Nos últimos anos houve um grande aumento de diagnósticos, segundo a APA, 2013, 1 em cada 100 pessoas eram identificadas com esta patologia. No entanto, investigações mais recentes apontam para 1 em cada 59 crianças, até aos oito anos2Baio & Christenses, 2018..

A pergunta que todos fazem é porquê? Porquê que existem cada vez mais casos? Porquê que evoluímos tanto e não se chega a uma causa? Porquê que não há cura? Existem algumas questões que conseguimos esclarecer. Klin esclareceu algumas justificações que passo a explicar.

Primeiramente, o facto de haver uma definição mais ampla do autismo – consequência do reconhecimento da Perturbação do Espetro do Autismo e das suas condições, nomeadamente com as alterações no DSM-5. É com esta alteração do DSM-5 que deixamos de ter a separação entre Autismo e Síndrome de Asperger para os casos mais severos e leves, respetivamente e, passamos a ter a designação de Perturbação do Espetro do Autismo. Esta designação insere esta patologia em três níveis, o nível um (antigo Síndrome de Asperger) em que segundo o mesmo manual, é exigido apenas algum apoio para quem é diagnosticado, o nível dois em que o apoio exigido é já substancial e o nível dois em que é exigido muito apoio substancial. Em todos os níveis são verificadas dificuldades especialmente em duas áreas, comunicação social e comportamentos restritivos e repetitivos, que vão aumentando conforme os graus acima suprarreferidos.

Uma maior consciencialização da sociedade sobre as suas manifestações é outra das justificações encontradas para este aumento de casos – temos pais e cuidadores muito mais atentos e com fácil acesso à informação, por exemplo, sobre sinais precoces de autismo. Aproveitando o assunto deixo-vos algumas considerações sobre alguns desses sinais, segundo a literacia:

  1. Ausência de atenção partilhada, ou seja, seguir com o olhar o que o outro nos mostra ou indicação espontânea por gestos/olhar para algo que esteja a ocorrer;
  2. Falta de intenção ou necessidade de estar perto do outro;
  3. Não responder ao nome;
  4. Não sorrir em resposta a uma interação social;
  5. Não apontar;
  6. Falta de intencionalidade comunicativa;
  7. Ausência de vocalização/interação com adultos, focando-se nos objetos;
  8. Diminuição ou ausência de gestos comunicativos como dizer adeus, mandar beijinhos, esticar os braços para pedir colo ou abanar a cabeça com o sim e não;
  9. Em última estância, não falar.

Continuando com as justificações para o aumento de casos de PEA, é de referir que também agora existem mais diagnósticos que não incluem um défice cognitivo e que por isso nos é possível fazer uma investigação diferente. Há mais incentivos para determinar o diagnóstico devido ao aumento de serviços – apesar de ainda não ser fácil encontrar um serviço público especializado, há já mais respostas. A sociedade tem uma perceção de que a intervenção precoce promove melhores resultados no futuro – este ponto para além de justificação é uma ótima observação, nem sempre se consegue fazer um diagnóstico de PEA em idades precoces, principalmente, se estivermos perante um nível 1, no entanto, quando nos apercebemos que há qualquer tipo de défice na criança, é crucial investir na intervenção. Independentemente da confirmação ou não de diagnóstico, a intervenção é a única forma de colmatar dificuldades existentes. E por fim, maior número de investigações que promovem a identificação desta condição.

Tal como não existe uma causa, também não existe uma cura3Filipe, 2015.. No entanto, a intervenção precoce permite-nos um melhor prognóstico e em muitos casos o exercer de uma vida completamente dita normal. Importa aqui referir que as PEA como o próprio nome indica são um espetro, isso significa que dentro da palavra autismo cabem muitas “tonalidades”, se por um lado temos crianças que um dia se podem tornar adultos muito bem-sucedidos, temos também outras que geralmente, com outras comorbidades associadas como, por exemplo, o défice cognitivo, não conseguem um resultado tão risonho. Os casos mais severos não devem, contudo, serem visto como derrotistas, a intervenção continua a ser o ponto-chave que nos poderá permitir ter alguém que não se comunica de todo ou alguém que, por exemplo, se expressa através de um sistema alternativo de comunicação ou, pegando noutro exemplo, podemos ter alguém que está constantemente em estereotipia ou alguém que consegue tornar a sua estereotipia funcional.

A mensagem mais importante que gostaria que este artigo passasse é que tendo em conta o aumento exponencial de diagnósticos4APA, 2013., torna-se fundamental (in)formar e sensibilizar a população em geral, e mais especificamente aqueles que se relacionam, direta ou indiretamente, com estes indivíduos, como os pais, professores, assistentes operacionais, educadores sociais, entre outros agentes educativos. É crucial procurar informação fidedigna, obter formação específica para quem trabalha com esta população e não julgar, não julgar as crianças, jovens e adultos com perturbação do espetro do autismo, mas acima de tudo, não julgar quem os acompanha neste processo, os pais e cuidadores.

Daniela Vieira

Psicóloga Clínica e Educacional

Imagem Por, Theo van Doesburg, “Counter-composition XVI” (Kunstmuseum Den Haag)

Notas de rodapé

Notas de rodapé
1, 4 APA, 2013.
2 Baio & Christenses, 2018.
3 Filipe, 2015.

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