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A Perturbação de Hiperatividade ou Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação do comportamento infantil, de base genética, onde ocorrem várias alterações neuropsicológicas, que provocam alterações atencionais, de impulsividade e uma grande atividade motora. Esta perturbação acarreta repercussões no desenvolvimento, capacidade de aprendizagem e no ajustamento social da criança. E consoante o DSM-5, esta perturbação é mais prevalente no género masculino.

Nesta perturbação, surge a desatenção, hiperatividade e impulsividade, de uma forma inapropriada ao desenvolvimento humano. Estas alterações têm frequentemente o seu início na primeira infância. Contrariamente ao que se pode achar de primeira, a PHDA não é explicável por deficiências neurológicas, sensoriais, de linguagem, motoras, deficiência mental ou distúrbios emocionais. A PHDA pode se apresentar em três formas:

PHDA apresentação Combinada
Neste subtipo existem sintomas de falta de atenção e podem ser observados sintomas de hiperatividade-impulsividade por pelo menos 6 meses.

PHDA apresentação predominantemente de Desatenção
Este subtipo está presente quando verificamos mais sintomas de falta de atenção e menos hiperatividade-impulsividade, que persistem por um mínimo de 6 meses.

PHDA apresentação predominantemente de Hiperatividade-Impulsividade
Este subtipo está presente quando existem mais sintomas de hiperatividade-impulsividade e menos sintomas de falta de atenção, por pelo menos 6 meses.

Segundo a literatura, existem outras perturbações que podem coexistir com a PHDA, nomeadamente a: Perturbação Desafiante de Oposição; Perturbação da Aprendizagem (Dislexia); Perturbação do Comportamento; Perturbação de Tiques; Perturbação Obsessivo-compulsiva; Perturbação do Espetro do Autismo, e; Perturbações de Ansiedade.

Muitos desvalorizam esta condição, afirmando que há um sobrediagnóstico que leva todas as crianças a serem consideradas hiperativas. A verdade é que atualmente existe mais informação disponível levando a que hajam mais casos diagnosticados. Não nos podemos esquecer da existência desta perturbação que traz consigo alterações estruturais e funcionais no cérebro – onde o volume de áreas como o córtex pré-frontal, sistema límbico, corpo caloso, lobo parietal e cerebelo se encontra diminuído em pessoas com esta perturbação.

Ressaltando a prevalência desta perturbação nas crianças, as crianças com PHDA apresentam algumas características como:

  • Défice de Atenção
  • Inibição comportamental
  • Agitação motora (hiperatividade)
  • Pouco controlo (impulsividade)
  • Dificuldade em seguir regras e instruções
  • Desorganização
  • Imaturidade
  • Dificuldades nos relacionamentos sociais
  • Irresponsabilidade
  • Pouca tolerância à frustração
  • Falta de persistência
  • Desajustamento social
  • Dificuldade em compreender as consequências do seu comportamento, apresentando uma tendência em culpar os outros

Alguns dos mitos que me tenho deparado com, ao longo da minha prática, relativamente à PHDA são (a):

  1. PHDA não existe
  2. PHDA resulta de má educação
  3. PHDA passa com a idade
  4. PHDA apenas surge em rapazes

Mas estas afirmações acabam por ser falsas, pois, como já estabelecemos, a PHDA é uma perturbação neurológica de origem multifatorial. Isto faz com que as crianças com esta perturbação não cumpram determinadas tarefas ou não acatem determinadas regras (não porque não o querem ou porque não o saibam fazer, mas sim) devido à incapacidade em cumpri-las, embora façam um enorme esforço para as realizar.

Sendo a PHDA, uma condição real e que não tende a passar com a idade, observamos com o tempo uma alteração dos sintomas. A agitação motora tende a atenuar-se, mas as dificuldades atencionais e de autorregulação comportamental tendem a aumentar. A ideia de que a PHDA apenas surge em rapazes é devido ao fato do seu diagnóstico ocorrer mais frequentemente no género masculino; contudo, também ocorre em raparigas, mas o quadro de sintomas tende a diferir, sendo que o género feminino apresenta mais sintomas de desatenção.

É fundamental que todos tenhamos um olhar atento relativamente à sintomatologia acima descrita, isto permite que a criança seja avaliada e se necessário ajudada o mais precoce possível. Intervir cedo é o melhor caminho, é claramente melhor do que intervir tarde.


Referências Bibliográficas

Barkley, R. A., & Murphy, K. R. (2006). Attention-deficit hyperactivity disorder: A clinical workbook. Guilford Press.

Biederman, J., Faraone, S. V., & Lapey, K. (1992). Comorbidity of diagnosis in attention-deficit hyperactivity disorder. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America1(2), 335-360.

Guha, M. (2014). Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-5. Reference Reviews.

Hora, A. F., Silva, S., Ramos, M., Pontes, F., & Nobre, J. P. (2015). A prevalência do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): uma revisão de literatura. Psicologia, 29 (2), 47-62.

Carina João

Neuropsicóloga Clínica que colaborou connosco no artigo de “Dislexia

Imagem Por, Natalija Miladinović, “Akril na platnu

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