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Será que, enquanto líder, assumir um papel de liderança significa “one fits all”? Será que o líder deve-se manter firme perante diferentes pessoas e contextos ou deve-se adaptar consoante essas diferenças?

A verdade é que, ao longo da história e do desenvolvimento da área ligada à liderança, foram surgindo várias perspetivas que abordaram diferentes contextos para a implementação desta prática. Uns ligados mais à tarefa e em concluir os objetivos, outras onde a prioridade e o foco eram as relações estabelecidas. Além disso, desenvolveram-se abordagens que assumiam determinadas características como inatas aos líderes1Liden, R. C., Wayne, S. J., & Stilwell, D. (1993). A longitudinal study on the early development of leader-member exchanges. Journal of Applied Psychology, 78(4), 662–674., e outras que apontavam para a possibilidade em desenvolver competências e trabalhar em características que se aproximam à essência de um líder.

Muitas foram as visões que produziram conhecimento e pensamento crítico sobre o mundo organizacional, e como estas são estruturadas ao nível das equipas e respetivas lideranças. Independentemente dessas mesmas perspetivas, que existem atualmente, sobre liderança, um bom líder, e a sua prática correta de liderança, a mesma é vista como uma possível resposta para atingir o sucesso, sendo a sua essência a de influenciar e facilitar os recursos individuais bem como os coletivos, de modo a alcançarem objetivos comuns2Yukl, G. (2012). Effective leadership behavior: What we know and what questions need more attention. The Academy of Management Perspectives, 26(4), 66–85. https://doi.org/10.5465/amp.2012.0088.

O papel do líder, de um modo geral, passa por influenciar a escolha dos objetivos e alocação dos recursos necessários para as atividades de trabalho, em estabelecer a confiança mútua bem como a cooperação entre membros, o desenvolvimento de competências e respetiva partilha de novos conhecimentos pelos membros, tal como a motivação dos membros para alcançar os objetivos.

Os primeiros estudos que surgiram sobre liderança dizem respeito à abordagem dos traços, onde o foco é centrado no líder sem ter em conta o contexto ou os subordinados, e procurando dar ênfase às características de personalidade3Jago, A.G. (1982). Leadership: Perspectives in theory and research. Journal of management science 28(3) 315-332.. Deste modo, foram analisadas e definidas quais as 5 características mais salientes e visíveis num líder4Northouse, P. G. (2016). Leadership: Theory and practice (7th ed.). Thousand Oaks, CA: Sage. Pages: 494.:

  • Inteligência (funcionamento intelectual);
  • Autoconfiança (capacidade de estar seguro em relação às suas competências e habilidades);
  • Determinação (desejo de realizar uma tarefa incluindo iniciativa, persistência e capacidade de dirigir);
  • Integridade (associado à honestidade e confiabilidade);
  • Sociabilidade (procura em criar relações agradáveis);

Tratando-se, portanto, duma visão mais reducionista de liderança que ignora a interação realizada entre as componentes: líder, subordinado e contexto.

Por outro lado, a liderança LMX (Leader-Member Exchange) está inteiramente associada à eficácia organizacional, o que enfatiza uma liderança onde se estabelece uma relação diádica entre líder e liderados, tendo como foco a interação entre ambas as partes. Isto porque, estudos atuais, reforçam que trocas de elevada qualidade entre líder-membro, desencadeiam avaliações de desempenho mais positivas, melhores atitudes no trabalho, uma participação mais ativa por parte dos membros e maior atenção e apoio do líder5Graen, G. B., & Uhl-Bien, M. (1995). Relationship-Based Approach to Leadership: Development of Leader-Member Exchange (LMX) Theory of Leadership over 25 Years: Applying a Multi-Level Multi-Domain … Ler mais.

A teoria LMX apresenta dois níveis distintos: nível descritivo e o nível prescritivo.

  • O nível descritivo é importante para compreender que existem ligações baseadas em responsabilidades de papel negociadas e alargadas, e ligações baseadas em contratos formais de trabalho (in-grop e out-group).
  • O nível prescritivo implica que os líderes desenvolvam uma relação especial com todos os seus subordinados (leadership making).

Em complementaridade ao que foi escrito acima, foi desenvolvida uma das teorias mais populares e dominantes na área da liderança assente na teoria da liderança transformacional, que enfatiza a motivação intrínseca e o desenvolvimento dos seus seguidores.

Esta teoria vai de encontro às necessidades atualmente procuradas pelos grupos de trabalho, ao desejarem ser inspirados a ter sucesso em tempos de incerteza, dado que, estimulam os seguidores a irem mais além dos seus interesses pessoais através da mudança de valores, e ideais6Schippers, M. C., Den Hartog, D. N., Koopman, P. L., & van Knippenberg, D. (2008). The role of transformational leadership in enhancing team reflexivity. Human Relations, 61(11), 1593–1616. … Ler mais.

Atualmente e de um ponto de vista mais pessoal, a teoria transformacional é a que se mostra adequar melhor à proposta de um bom líder que se torna como um facilitador e um incentivador para a conquista dos objetivos estabelecidos, que expressa fortes ideais, interage de um modo preocupado com os seus seguidores, onde procura criar relações genuínas que transmitam confiança, de modo a que os próprios seguidores se sintam capacitados a discutir livremente e/ou arriscar, superando as suas próprias limitações.

Tanto as crenças como a visão criada por este líder é bastante robusta e vincada, uma vez que parte do pressuposto onde o compromisso e a ética estão presentes, combinando interesses pessoais tanto do líder como dos seus seguidores (por isso, vêm o líder como alguém a seguir, como um modelo que inspira).

Adicionalmente, este líder é alguém que trabalha ativamente na combinação e no equilíbrio perfeito para ter em conta o bem-estar dos seus seguidores, tal como em promover o empenho necessário da sua equipa em prol da concretização do objetivo estabelecido, adaptando-se ao contexto e aos desafios que encontra pela frente. Alguém que se adapte facilmente, que assuma responsabilidade dos seus atos e que esteja à frente, para mostrar credibilidade e confiança em si e nos outros que estão consigo, que o acompanham.

Um bom líder é visto como um exemplo que segue as práticas de liderança: conectar, adaptar e colaborar. Conectar através da sua história e na forma como vai impactar o coletivo, motivando-os; adaptar, quando surgem tempos de incerteza como foi o caso da pandemia ou da era das novas tecnologias, com recurso à inovação e à tentativa/erro e finalmente colaborar, no sentido em que, constrói eficazmente esta ligação e parceria genuína com os seus seguidores e as pessoas que o acompanham, para cooperarem mutuamente, para haver um crescimento na intimidade estabelecida7Hull, R. B., Robertson, D. P., & Mortimer, M. J. (2020). Leadership for sustainability: Strategies for tackling wicked problems..

Por muito que a teoria nos dê uma chave mágica para vencer os conflitos, e construir a prática perfeita na dinâmica organizacional, é importante não esquecer a importância do contexto em que os indivíduos estão inseridos e nas relações que foram estabelecidas poderem conter alguns inconvenientes: não haver sintonia ou identificabilidade para trabalhar com determinado tipo de indivíduo, tomar consciência que determinadas tarefas que nos são alocadas podemos não dominar totalmente, e isto provar-se como uma dificuldade no processo, a produtividade duma determinada equipa ser baixa pelo excesso de relação previamente estabelecido, ou simplesmente pela desejabilidade social, onde estão num determinado cargo, de modo a serem aceites e validados pelos outros, no entanto, falta-lhes a motivação intrínseca para a realizar eficazmente.

Ademais, o papel do líder pode ser bastante decisivo para o sucesso duma organização, ainda assim, não é por si só, suficiente para que esse sucesso aconteça. A construção duma equipa motivada, que coopere entre si e um conjunto de circunstâncias favoráveis ao objetivo definido, podem promover este outcome tão apreciado e ambicionado por todos.

Em suma, a eficácia nas equipas, não se deve única e exclusivamente do ser-se bom líder e de uma boa prática, pois é preciso que contemplemos a temática na totalidade, e a soma das suas partes, com a sua devida importância. Observar por um lado o desempenho e performance geral da equipa, a satisfação sentida ao desempenharem a tarefa, e a sua viabilidade, o grau em que os membros desejam trabalhar com a mesma equipa8Salas, E., Sims, D. E., & Burke, C. S. (2005). Is there a “Big Five” in Teamwork? Small Group Research, 36(5), 555–599. https://doi.org/10.1177/1046496405277134.

Diana Dias

Psicóloga em Formação

Imagem Por, Jacques-Louis David, “Oath of the Horatii” (Toledo Museum of Art)

Notas de rodapé

Notas de rodapé
1 Liden, R. C., Wayne, S. J., & Stilwell, D. (1993). A longitudinal study on the early development of leader-member exchanges. Journal of Applied Psychology, 78(4), 662–674.
2 Yukl, G. (2012). Effective leadership behavior: What we know and what questions need more attention. The Academy of Management Perspectives, 26(4), 66–85. https://doi.org/10.5465/amp.2012.0088
3 Jago, A.G. (1982). Leadership: Perspectives in theory and research. Journal of management science 28(3) 315-332.
4 Northouse, P. G. (2016). Leadership: Theory and practice (7th ed.). Thousand Oaks, CA: Sage. Pages: 494.
5 Graen, G. B., & Uhl-Bien, M. (1995). Relationship-Based Approach to Leadership: Development of Leader-Member Exchange (LMX) Theory of Leadership over 25 Years: Applying a Multi-Level Multi-Domain Perspective. The Leadership Quarterly, 6(2), 219–247. https://doi.org/10.1016/1048-9843(95)90036-5
6 Schippers, M. C., Den Hartog, D. N., Koopman, P. L., & van Knippenberg, D. (2008). The role of transformational leadership in enhancing team reflexivity. Human Relations, 61(11), 1593–1616. https://doi.org/10.1177/0018726708096639
7 Hull, R. B., Robertson, D. P., & Mortimer, M. J. (2020). Leadership for sustainability: Strategies for tackling wicked problems.
8 Salas, E., Sims, D. E., & Burke, C. S. (2005). Is there a “Big Five” in Teamwork? Small Group Research, 36(5), 555–599. https://doi.org/10.1177/1046496405277134

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