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Alain de Botton, escritor suíço, disse uma vez que se fala muito de sexo, mas que se fala mal de sexo. Ora, fala-se muito de sexo porque, efetivamente, vivemos numa sociedade cada vez mais sexualizada. Isto não tem que ser necessariamente bom, mas também não tem que ser necessariamente mau. Mas apesar de haver muita informação à disposição, tal não significa que haja acesso à boa informação.

Como pontapé de saída, e se estamos a falar de sexualidade, faz sentido que desmistifiquemos o que é, então, a saúde sexual. Ora, segundo a OMS, a saúde sexual é “fundamental para saúde e o bem-estar gerais do indivíduo, dos casais e famílias, e é também relevante para o desenvolvimento social e económico das comunidades e dos países”. E para existir uma boa saúde sexual é importante que as pessoas tenham acesso à informação de qualidade acerca da sexualidade, que possam entender as consequências que advêm dos comportamentos de risco mas também que possam viver num ambiente que promova e reitere a saúde sexual.

Posto isto, fica mais clara a importância desta dimensão nas nossas vidas. Convém reforçar, no entanto, que o que significa ter uma boa sexualidade vai depender daquilo que para cada um faz sentido. E, obviamente, está dependente de vários fatores, não sendo passível de se dissociar daquilo que é o nosso dia a dia, das nossas crenças e valores e formas de nos posicionarmos face ao tema.

O Problema Importante, mas Pouco Falado

Um desses fatores é algo muito pouco falado entre pares, mas de extrema relevância pelo impacto negativo que representa para as vidas das pessoas, tanto individualmente como relacionalmente: disfunções sexuais. Embora a investigação demonstre que estas sejam comuns (estima-se que afete 43% das pessoas com vagina e 31% das pessoas com pénis), o tópico em si é tão pouco abordado que quem sofre das mesmas pode acabar a sentir-se mais sozinho que seria esperado para a prevalência das mesmas.

Uma disfunção sexual pode ser qualquer situação que impeça a pessoa, ou casal, de concretizar uma relação sexual ou de experienciar satisfação na sua prática. Elas estão divididas em quatro categorias:

  • Perturbações do desejo sexual;
  • Perturbações de excitação sexual;
  • Perturbações de orgasmo, e;
  • Perturbações de dor sexual.

Simplificando, elas podem acontecer em qualquer etapa do ciclo de resposta sexual humana.

As Perturbações do desejo sexual dividem-se em dois grupos: o desejo sexual hipoativo e a aversão sexual. No primeiro temos poucas ou nenhumas fantasias sexuais acompanhadas de falta de desejo, e o segundo caracteriza-se por uma resposta aversiva e evitamento ativo do(a) parceiro(a).

As Perturbações da excitação sexual estão relacionadas com a dificuldade em se estar fisicamente excitado antes ou durante a atividade sexual revelando-se através da falta de ereção (disfunção erétil) ou dificuldades na pessoa com vagina em lubrificar.

As Perturbações de orgasmo, nas pessoas com pénis, podem oscilar entre a ejaculação precoce (isto é, ejacular demasiado rápido e sem controlo), ejaculação retardada (onde há dificuldade em atingir o orgasmo demorando muito tempo para que isso aconteça) ou anejaculação (incapacidade em ejacular). As pessoas com vagina também podem ter dificuldades em atingir o orgasmo sendo o mesmo muito pouco frequente ou nem chegar a acontecer.

Finalmente, as Perturbações de dor sexual dizem respeito à dor sentida durante a relação sexual tornando-a dolorosa ou impossível de acontecer.

No que toca à origem, a mesma pode ser multifatorial: podemos estar a falar de alterações ao nível do sistema endócrino, da interferência de certos medicamentos na líbido, certas doenças como a diabetes, doenças cardiovasculares ou neurológicas podem ser causas físicas para as disfunções sexuais ou podemos estar a falar de causas psicológicas como níveis de ansiedade e stress desadaptativos, traumas sexuais (abuso sexual, por exemplo), autoimagem baixa, crenças negativas acerca da sexualidade, entre outros.

O tratamento das disfunções sexuais vai depender das causas das mesmas, contudo, pode ser recomendável um acompanhamento multidisciplinar: um(a) médico(a) e/ou um(a) psicólogo(a) sexólogo(a), não esquecendo a importância da fisioterapia pélvica para casos de dor génito pélvica.

Resumindo e baralhando:

  1. As disfunções sexuais são dificuldades sentidas por muitas mais pessoas que aquelas que julgamos;
  2. As disfunções sexuais têm tratamento;
  3. É possível recuperar e ter acesso a uma sexualidade feliz e satisfatória.

Uma boa saúde sexual não só está ao alcance de todos como é de extrema importância para o bem-estar geral do indivíduo. Embora haja sofrimento associado, e falar de um assunto tabu possa ser difícil, não tens que permanecer refém desta situação. Se estás a passar por alguma destas dificuldades, não hesites em pedir ajuda.

Rafaela Rolhas

Psicóloga Clínica
// Este artigo é a Parte 1 de uma série de artigos sobre Sexologia. //

Imagem Por, Egon Schiele, “Sitting girl

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