|| ◷ Tempo de leitura: 7 Minutos ||

As decisões que tomas diariamente têm um impacto na tua vida futura. Algumas, terão aparentemente um pequeno impacto como, por exemplo, “o que vou comer ao pequeno-almoço?”, mas outras serão bastante impactantes como, por exemplo, “aceitar ou não um certo emprego?”. Elas influenciam diretamente o teu bem-estar emocional, os teus relacionamentos e até mesmo a tua trajetória profissional. Mas quais os processos que estão por detrás da tomada de decisão?

Sabemos que a tomada de decisão envolve dois elementos fundamentais: a racionalidade, onde os custos e benefícios são analisados, mas também as emoções desempenham um papel significativo nesse processo. Ao longo deste artigo, exploraremos o impacto das emoções na tomada de decisão e como a psicologia o pode ajudar a fazer escolhas mais conscientes e saudáveis.

A tomada de decisão está intrinsecamente ligada às emoções, mas qual o seu papel? As emoções podem afetar como percebes e interpretas as informações relevantes para uma decisão, direcionando as suas escolhas segundo as nossas crenças, preferências e motivações. Por exemplo, se te sentires com energia e entusiasmo, estás mais propenso a assumir riscos ou motivado para abraçar novas oportunidades. Por outro lado, se te sentires triste ou cansado, poderá mais facilmente evitar tomar decisões.

É também, por outro lado, essencial refletir sobre o papel das emoções. Recorrentemente é feita uma distinção entre duas categorias de emoções: as emoções ditas “negativas”, associadas a sensações desagradáveis e desconfortáveis, e as emoções ditas “positivas”, associadas a sensações agradáveis e desejadas. No entanto, as emoções “negativas” não são de todo negativas. Apesar de desconfortáveis elas têm também um papel nas nossas vidas, normalmente de proteção.

As emoções desagradáveis, como a ansiedade e o medo, têm normalmente um impacto no processo de decisão, na medida que, o influenciarão a proteger-se e evitar potenciais perigos. Quando estas emoções estão presentes, poderá ser mais difícil avaliar as opções de forma racional. A ansiedade, o medo, ou a preocupação, cujo papel de proteção é evidente, poderão incentivá-lo a focar a sua análise das opções nos potenciais perigos, impedindo-o de tomar decisões alinhadas com os seus objetivos e desejos. Por exemplo, cada vez que surge na tua vida uma decisão importante, o papel do medo ou da preocupação será relembrá-lo do que pode correr mal, não porque uma das opções vá efetivamente correr mal, mas pela incerteza associada a essa decisão.

A incerteza é uma das maiores barreiras no processo de tomada de decisão. Qualquer decisão que tome vai ter uma percentagem de incerteza da qual é impossível dissociar-se.

Ao mudar de emprego, é impossível saber se este será melhor ou pior emprego do que o que tem neste momento, ao escolher uma refeição num restaurante, nunca saberá se um dos outros pratos que não escolheu, o satisfaria mais.

Aceitar a incerteza no processo de tomada de decisão, ou seja, aceitar que não pode controlar as consequências da nossa decisão na totalidade, é um passo importante para não ficarmos presos no impasse entre tomar e não tomar a decisão.

Por outro lado, as emoções agradáveis, as ditas “positivas”, têm o potencial de facilitar o processo de tomada de decisão. Quando te sentes alegre e entusiasmado, a sua capacidade de tomar decisões é ampliada. Esses estados emocionais, poderão tornar-te mais criativo, flexível e aberto a diferentes perspetivas. Ao sentires-te emocionalmente equilibrado, será mais fácil de considerar as várias opções, avaliar os prós e contras de forma mais eficiente e de tomar decisões mais assertivas e alinhadas com os teus valores e objetivos. Perante um estado emocional mais positivo, poderás sentir-te mais motivado a aceitar a incerteza e ver-te como mais capaz de lidar com a mudança ou as consequências de uma determinada decisão.

O Que nos Impede de Tomar Decisões

Existem várias barreiras psicológicas que podem interferir no processo de tomada de decisão. Duas que já referimos são a dificuldade em tolerar a incerteza e as emoções desagradáveis como medo e ansiedade. Outra barreira significativa é aquilo que chamamos viés cognitivo, ou seja, a influência das nossas próprias perceções e preconceitos na forma como avaliamos as informações, nomeadamente as várias opções que temos em cima da mesa no momento da decisão.

Mais uma barreira comum é a aversão à perda. Da mesma forma que todas as decisões envolvem a incerteza, todas as decisões envolvem perda. Ao decidir entre duas ou mais opções, perderá as outras todas pelas quais não optou, e lidar com essa perda, especialmente associada à incerteza de ser uma maior ou menor perda, poderá ser angustiante. Além disso, a falta de autoconfiança e baixa autoestima podem ser também fatores que o impedem de tomar decisões importantes, associados ao adiamento da decisão, a famosa procrastinação, e à falta de assertividade.

Como é que um psicólogo o pode ajudar a tomar decisões mais conscientes e saudáveis?

Como já vimos, a tomada de decisão não é apenas um processo racional. Não se trata apenas de analisar qual é a melhor opção e decidir. No processo de tomada de decisão está envolvida a racionalidade, as emoções, o sistema de crenças, ou seja, a relação que temos connosco e como nos vemos, nomeadamente como vêmos as nossas competências e capacidades para lidar com uma determinada situação. Ao longo do processo terapêutico, estas vertentes são analisadas em conjunto, visando perceber quais as motivações e barreiras para a tomada de decisão e qual o papel de certas dificuldades ou emoções na escolha de uma das opções. Portanto, o psicólogo, ajudá-lo-á a conhecer-se melhor, compreender como toma decisões no seu dia-a-dia e de que forma é que esses processos estão ou não alinhados com os teus valores e necessidades, ajudando a desenvolver ferramentas e estratégias que o ajudarão não só a tomar decisões como a regular as suas emoções para ultrapassar as barreiras psicológicas que dificultam este processo.

Felizmente, existem estratégias e passos que podes adotar para facilitar o processo de tomada de decisão e superar as barreiras psicológicas mencionadas anteriormente. Aqui estão algumas sugestões:

  1. Autoconhecimento: Investe tempo em conhecer-te a ti, as tuas necessidades, valores e objetivos. Quanto mais consciente estiveres das tuas preferências e motivações, mais fácil será tomar decisões alinhadas com a tua essência.
  2. Análise de custos e benefícios: escreva uma lista dos custos e dos benefícios de cada opção em questão. Isso ajudará a visualizar as diferentes perspetivas e a avaliar os benefícios e desafios de cada escolha.
  3. Avalie as consequências: Considera as possíveis consequências de cada opção e pondere tanto as consequências imediatas quanto as de longo prazo, tendo em conta os teus objetivos e valores.
  4. Procure um psicólogo: Ao enfrentar as dificuldades emocionais da tomada de decisão ou as barreiras psicológicas que a afetam, considere procurar ajuda de um psicólogo. Um psicólogo pode ajudar-te a desenvolver e treinar estratégias de regulação emocional e apoiar-te no processo de decisão conforme as tuas necessidades.

A tomada de decisão é um processo complexo e é influenciado por vários fatores, nomeadamente as emoções e barreiras psicológicas. Ao reconhecer e compreender esses aspetos, poderão ser adotadas estratégias para facilitar a tomada de decisão consciente e saudável.

Enquanto psicóloga, o meu conselho é que não te esqueças de que qualquer decisão é tomada na incerteza e que, perante nenhuma decisão terás 100% de garantia de qual será a melhor opção, pois todas elas envolvem ganhos e perdas. E por mais que uma decisão seja assustadora todas elas são de alguma forma reversíveis.

Sara Cruz

Psicóloga

Imagem Por, Johan Christian Dahl, “View from Bastei” (Nasjonalmuseet)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

pintura de Edgar Degas que retrata perfeitamente a novela "Para Alem da Herança" em tudo e no cenário de violação Previous post Para Além da Herança: O Que se Deixa para Trás
Imagem de Anthony van Dyck, “Daedalus and Icarus” Next post Reflexão sobre a Bravura da Vida