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O processo transformativo da transição para a parentalidade é um processo brutalmente complexo, demorado e exigente.

Pode começar no imaginário, no planeamento, na fantasia, quando se começa a criar na mente a ideia de ter um filho. Ou poderá ser no momento em que se vê o teste de gravidez ou alguma consulta médica nos traz uma notícia inesperada.

Nesse exato momento nascem ambivalências, as dúvidas entre a realidade e os sonhos. Há dias que se sabe que já somos pais e outros em que parece um sonho, uma mentira. Também pode haver dias de sofrimento e dúvida, ou simplesmente felicidade. Independentemente do que se possa sentir, o sentimento é intenso. Começamos a imaginar como será o nosso bebé mas também que mãe ou pai serei, gostarei de ser, quero ser, pretendo ser. Também podem vir os medos, será que conseguirei assumir tamanha responsabilidade.

Gradualmente a mulher começa também a sentir no corpo, a sentir crescer, a conectar-se com o seu bebé. O pai estará também a ver as mudanças no corpo da mãe, a mulher que está com o bebé dia e noite. E aqui poderá começar a primeira grande diferença entre ser pai e mãe (ou a primeira dificuldade do casal): o sentimento de estarem mais distantes e viverem coisas diferentes. Porem, algures lá à frente poderá haver um reencontro deste casal e destes pais.

Existe também uma viagem à sua própria infância, tanto o pai e a mãe irá navegar pelas suas memórias, os seus sentires e irá tentar decifrar que coisas quer levar ou deixar para trás, que coisas recebeu e também quer dar, que coisas recebeu e quer fazer diferente e que coisas não recebeu e espera – quase como magia – conseguir criar/dar.

Depois nasce o bebé, passamos da fantasia para a realidade… e muito do que planeaste sentir e fazer, pode não acontecer… então tens de ser novamente criativo, flexível e lidar com emoções difíceis como a sensação de falha, dúvida e estranheza de quem tu és naquele momento. É como se por momentos não te reconhecesses. Diria até que por vezes estes momentos são muitos e duradouros. O teu filho nasceu e tu também nasceste e passas a ter um papel de mãe/pai – juntamente a todas responsabilidades que dai advêm.

Mas além disto podes sentir a solidão e tristeza da desconexão com o teu companheiro, a saudade do casal que foram e a vontade de voltar no tempo só por mais um bocadinho.

Se isto não é uma das tarefas mais dura do mundo, não sei o que será! Mas no fim do dia, tu que és mãe e tu que és pai (vocês que são um casal) lembrem se que após superarem isto, os frutos para colher são imensos e só se podem sentir-se como super-heróis – então, não hesitem em procurar ajuda se estiver a ser demasiado difícil/pesado, pois, vale mesmo a pena ultrapassar esta fase!

Catarina Moura Pires

Psicóloga Clínica

Imagem Por, Rembrandt van Rijn, “Portrait of a family [Familieportret]” (Herzog Anton Ulrich Museum)

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